Dom Paulo Antonio De Conto
Administrador da diocese de Nova Friburgo

Queridos irmãos e irmãs, é verdade que estamos vivendo tempos difíceis que fogem à nossa compreensão. Algumas pessoas no afã de encontrar respostas acabam por penalizar ou responsabilizar a Deus pelas calamidades sofridas.

Nós nunca podemos deixar de crer e anunciar que Deus é amor e vida (1 Jo 4,8). Ouvimos pela boca do Profeta Ezequiel: “Terei eu prazer com a morte do malvado? Não desejo eu, antes, que ele mude de proceder e viva?” (18,23). Um verdadeiro discípulo do Ressuscitado é um discípulo da Vida.

Cabe a cada um de nós anunciar e denunciar toda e qualquer atitude contra o mais precioso dom dado pelo Senhor à humanidade: a vida! Vivemos tempos controversos, no qual os fins passam a justificar os meios, mesmo que isso influencie na vida de outras pessoas.

Estamos tão feridos pela cultura pós-moderna, pelo egocentrismo exagerado, pela cultura do descarte, pelo capitalismo cego que não nos olhamos mais como irmãos. Ora usamos o próximo como um objeto para alcançar nossos objetivo ou prazer, ora o descartamos ou pior, o eliminamos, para não competir ou atrapalhar.

Hoje, as criaturas criadas por amor julgam-se deuses maiores que o próprio Deus, colocando sua vontade e “verdade” acima do amor e da Verdade, que é Cristo. Sem constrangimento destroem a lei natural e deturpam a lei moral.

Como cidadãos conscientes de nosso dever em favor da vida, somos obrigados a manter constantemente nossos olhos e ouvidos bem atentos para vigiar e destemidamente denunciar ações que ferem o hálito de vida que recebemos do criador (cf. Gn 2,7).

É o que adverte o Papa Francisco “a defesa do inocente nascituro deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa, independentemente do seu desenvolvimento” (Exortação Apostólica Gaudete et exsultate, 101).

Lamentavelmente, nos dias em que celebramos a vitória da Vida sobre a morte com a Ressureição de Jesus, e testemunhamos os desmedidos esforços de grande parcela da humanidade em favor da vida na luta contra uma pandemia, ainda somos surpreendidos com uma ação no Supremo Tribunal Federal que poderia tonar legítimo o aborto em mulheres grávidas com Zika vírus e/ou em casos de gestação de crianças com microcefalia.

Aqui se revela claramente que julgamos o valor da vida de uma pessoa pelo que ela irá ou não produzir. Pensamentos como este, equivocadamente intentam promover o desenvolvimento da sociedade. Atitudes já vistas e condenadas como, por exemplo, a utopia nazista de construir uma humanidade de uma raça única.

O Santo Padre emérito Bento XVI já denunciara que “a abertura à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento. Quando uma sociedade começa a negar e a suprimir a vida, acaba por deixar de encontrar as motivações e energias necessárias para trabalhar ao serviço do verdadeiro bem do homem” (Caritas in veritate, 28).

Legalizar, promover ou defender a morte de qualquer pessoa é crime. Crime contra a humanidade, contra a fraternidade e contra a fé. Qualquer justificativa dada ao extermínio de uma vida por ser “defeituosa” é eugenia, é desumano.

Como discípulos do Cristo, testemunhemos o valor e o amor que temos por este tão precioso dom. Com pequenos gestos de amor, de carinho de fraternidade nós podemos fazer a luz do Ressuscitado chegar aos corações que hoje estão feridos de morte.

Viva a vida!

 

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