Em 1979 eu era Bispo auxiliar de Brasília. Junto com a Equipe Vocacional, animada pelas Irmãs Angélicas, decidimos criar o “Mês Vocacional”. Entre outras iniciativas, lançamos o concurso do melhor cartaz, com prêmio simbólico. Além do cartaz, exigia-se um pequeno escrito, explicando o cartaz.
O cartaz vencedor foi Cristo estilizado, lavando os pés dos apóstolos. Convidamos o autor para uma reunião com a Equipe Vocacional. Para surpresa nossa, veio um menino de 12 anos, acompanhado da mãe. Abrimos o envelope com a explicação: “Como naquele tempo o Mestre, assim nós hoje”. Somente isto!
Um tempo depois, estive na Alemanha, na entidade de ajuda aos pobres do mundo, conhecida como Misereor. Na porta da entidade, o cartaz do Mês Vocacional de Brasília: “Seja feliz servindo”.
Quando fiquei padre, escolhi como lema: “Servir a Deus, na face dos irmãos”. Procuro realizar este lema.
Na sociedade atual é muito apreciada a autonomia das pessoas. Ao lado da autonomia, a busca do poder, do mando sobre os outros. A autonomia pessoal é boa. Mas o espírito de dominação enfraquece a capacidade de servir.
Já Pascal, célebre pregador francês, alertava: “O coração do homem é oco e cheio de lixo”, pois quase sempre só está cheio de si mesmo.
Na minha juventude impressionou-me o gesto de São Martinho (de Tours): Num dia de inverno gélido, cavalgava revestido da ampla manta da guarda imperial. Encontrou um pobre endurecido de frio. Tomou a espada, cortou a manta pelo meio e deu a metade ao friorento. Durante a noite, apareceu-lhe Cristo, revestido daquela metade da manta, sorrindo para ele!
Quem disse que “o servir é a irmãzinha do amor”? Isto é, não se ama sem espírito de serviço.
É importante recordar que não seremos julgados pelas coisas que fazemos, mas pelo amor com que as fazemos, como recorda Madre Teresa de Calcutá.
Portanto, sejamos também nós felizes, servindo.