Tempo de Cuidar
Imprensa CNBB
26 de agosto de 2020

A prática da solidariedade é inerente à vida e aos ensinamentos cristãos como um chamado permanente para olhar as realidades de vulnerabilidade e, principalmente, os necessitados. Não é um olhar de desprezo como o daqueles que passaram pelo caminho e foram indiferentes à dor e sofrimento daquele homem que foi atacado por assaltantes, mas um olhar bondoso e repleto de caridade como o que teve o bom samaritano. “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34).
Objetivo Geral da Campanha
Estamos diante de uma emergência sanitária global que já afeta mais de 1,4 milhão de pessoas diretamente e já ceifou mais de 80 mil vidas. Nessa grave crise sanitária, que se espalha em uma velocidade acelerada, muitos governos precisaram adotar medidas duras de isolamento social para conter o avanço da pandemia no planeta. No Brasil, do mesmo modo, e por orientação da Organização Mundial da Saúde e Ministério da Saúde, muitas cidades e estados têm decretos em vigor com restrições de movimentação de pessoas, transporte público reduzido, fechamento de comércios, alguns setores da indústria, restaurantes, órgãos públicos, etc. Essas restrições, embora extremamente necessárias para a contenção da pandemia, geram efeitos sociais graves como a demissão de trabalhadores e trabalhadoras ou a diminuição drástica na renda de profissionais autônomos, informais, trabalhadores e trabalhadoras do campo, catadores e catadoras de materiais recicláveis, artesãos e artesãs, etc. É diante deste cenário que a Igreja no Brasil renova sua esperança e amorosidade às pessoas que sofrem as consequências sociais da pandemia e convoca a sociedade brasileira para uma Ação Solidária Emergencial que promova gestos concretos de ajuda às famílias em situação de vulnerabilidade diante da pandemia de Coronavírus.
Sabemos que muitas comunidades, paróquias e dioceses realizam muitos trabalhos de promoção da dignidade humana e também ações de solidariedade com pessoas em situação de vulnerabilidade social há muitos anos. Por isso, a Igreja do Brasil convoca todas as pessoas de bom coração, especialmente, suas comunidades eclesiais, para que se somem às iniciativas já em curso ou promovam novas ações de solidariedade nesse momento tão difícil da vida humana.
Precisamos dar uma resposta
Para uma ação de resposta aos impactos e consequências da pandemia de Coronavírus, há três fatores abrangentes que devem ser levados em consideração: Primeiro, as pessoas devem ser vistas como seres humanos, não apenas como casos. Portanto, é fundamental a garantia da dignidade humana. Em segundo lugar, o envolvimento da comunidade é crucial, mas esse envolvimento deve ocorrer de maneira cuidadosa para não expor as pessoas que querem ajudar nem as pessoas que estão precisando de ajuda. E, em terceiro lugar, o enfoque na prevenção da propagação do Coronavírus não deve fazer-nos esquecer as outras necessidades das pessoas afetadas, nem as necessidades médicas de longo prazo da população em geral.
A Ação Solidária Emergencial fornecerá orientações para a continuidade e adaptação das ações em curso e também um grande estímulo aos gestos de generosidade e práticas solidárias que poderão ser organizadas individualmente, em comunidades, paróquias ou dioceses com a finalidade de aliviar os impactos e consequências que afetam populações vulneráveis em todo o país.
Algo muito importante para decidir se é necessário realizar ou não uma Ação Solidária Emergencial diante da pandemia é identificar se há pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social que precisam de ajuda emergencial para superar os impactos e consequências da pandemia de coronavírus que assola nosso país. Para isso, algumas indagações prévias são importantes.
FAQ
Essa pergunta é importante porque vai definir o quanto é necessário promover alguma iniciativa solidária. Lembre-se que organizar ação solidária envolve estrutura e logística, mobilização de pessoas para ajudar e tudo isso gera custo e risco de contaminação. Desse modo, a decisão deve ser baseada na necessidade das pessoas e não apenas na nossa vontade de ajudar. A realidade de comunidades vizinhas também pode ser considerada para a definição da realização de uma ação solidária, desde que, articulada com as pessoas da localidade próxima pois já pode haver uma campanha local já em curso que poderá ser potencializada.
Depois de identificada a necessidade de organização de ação solidária emergencial, é preciso se perguntar sobre as capacidades que a comunidade, paróquia ou diocese têm para promover tais iniciativas. É possível que, se estimuladas, as pessoas procurem as comunidades e paróquias para fazerem doações. Nestes casos, é preciso identificar previamente se há espaços adequados para armazenar e higienizar as doações recebidas. É tão importante também identificar meios para distribuição futura das doações recebidas.
Outro aspecto muito relevante a ser previamente identificado é se a comunidade, paróquia ou diocese têm pessoas motivadas para organizar a recepção, preparação ou distribuição das doações recebidas. Em circunstâncias normais, sabemos que as comunidades e paróquias têm inúmeras equipes que mantêm vivas as ações pastorais e ações solidárias. No entanto, a gravidade da emergência sanitária poderá desestimular a participação em função de riscos de contaminação que podem estar envolvidos.
Como fazer a ação acontecer
Em resposta humanitária em situações de emergências, há uma norma essencial que é de não causar um dano maior do que os já sofridos por uma pessoa acometida por uma emergência. Portanto, antes de qualquer ação, é importante ter em mente que ela deve ser planejada com antecedência, verificada todas as condições e ferramentas disponíveis para o menor risco possível de contaminação das pessoas que irão doar, das equipes que trabalharão na preparação e distribuição, e das famílias que receberão a ajuda. Para isso, é importante oferecermos orientações e uso de equipamentos de proteção. Um documento importante que poderá ajudar é o Plano de Contingência da Cáritas Brasileira que pode ser acessado AQUI.
Preferencialmente, e considerando a realidade e as condições que cada comunidade ou paróquia tem, utilizem a metodologia de coleta nas residências de quem está disposto a colaborar. Do mesmo modo, preferencialmente, realizem as entregas em domicílio para famílias necessitadas.
As ações solidárias poderão se desenvolver de três níveis:
1) Individual: Estímulo a gestos solidários de ajuda direta a pessoas vizinhas que estão em situação de vulnerabilidade em função dos impactos e consequências da pandemia de coronavírus, como ajuda para ir a mercados e farmácias, entrega de materiais de proteção a grupos vulneráveis da rua, doação direta de alimentos apoio psicossocial, etc.;
2) Comunitária: Estímulo para que as pessoas das comunidades possam realizar gestos de solidariedade em favor de populações vulneráveis presentes na própria comunidade como arrecadação de alimentos, produção e entrega de alimentos preparados (prontos para consumo), doações de materiais de higiene e proteção individual, apoio psicossocial, etc.;
3) Paroquial ou Diocesana: Motivação para pessoas doarem itens alimentícios, materiais de higiene ou equipamentos de proteção que serão entregues às populações vulneráveis de outros territórios com necessidade.
Pessoas com 60 anos ou mais, portadores de doenças crônicas como hipertensão, diabetes, doenças respiratórias ou outra que afete a imunidade não devem ser envolvidas em qualquer fase da ação solidária emergencial. Reúnam (virtualmente é o mais adequado) a equipe de coordenação da ação solidária emergencial para planejar como funcionarão os momentos de recebimentos de doações, preparação, triagem e desinfecção dos materiais e a entrega às famílias mais necessitadas.
Preparar equipes
o Orientem as equipes em:
práticas de envolvimento da comunidade;
transmissão da COVID-19, medidas de prevenção, sintomas e protocolos do Ministério da Saúde de como procurar apoio e aconselhamento médico;
boas práticas de higiene e lavagem das mãos.
o Ofereçam às equipes acesso fácil a materiais para lavagem e desinfecção das mãos enquanto estiverem no campo.
o Assegurem que todas as pessoas das equipes que mostram sinais ou sintomas ou têm relato de contato com alguém com quadro similar aos da COVID-19 (incluindo membros das famílias) não se envolvam no trabalho, ficando distantes de outras pessoas da equipe ou da comunidade. Incentivem as pessoas sintomáticas a procurar apoio e aconselhamento médico de acordo com os protocolos do Ministério da Saúde.
Comunicando com lideranças comunitárias e famílias:
- Consultem as lideranças comunitárias (masculinas e femininas) sobre a COVID-19 e busquem informações sobre protocolos especiais de distribuição de doações que precisarão ser implementados; realizem o planejamento com eles e peçam o apoio nas etapas necessárias para manter as comunidades e as equipes em segurança. Façam ajustes no planejamento com base nas informações da liderança comunitária, conforme necessário.
- Deem informações da maneira mais segura possível, evitando reuniões em massa. Compartilhe informações com comunidades e famílias beneficiadas sobre:
– Transmissão, prevenção e busca de apoio médico para COVID-19, conforme orientação da OMS e do Ministério da Saúde.
– Informações de distribuição (tempo, localizações, doações, acordos para famílias de alto risco, etc.); incluir explicação e razões para quaisquer alterações nos procedimentos normais.
– Serviços de referência disponíveis (por exemplo, suporte psicossocial, violência de gênero, etc.). - Solicitem a familiares de beneficiários (morando na mesma casa) com um ou mais membros com febre, tosse seca ou dificuldade em respirar possam:
– procurar apoio e aconselhamento médico conforme orientações do Ministério da Saúde;
– enviar um procurador (por exemplo, familiar, vizinho ou amigo que não mora na mesma casa que o beneficiário) para coletar a doação em seu nome ou permitir a entrega em domicílio, sempre que possível.
A coleta de doações é um ponto crítico de contaminação. Portanto, é preciso redobrar a atenção e planejar com antecedência. Para esse momento, considerem:
Colocar telefones à disposição para esclarecimentos de como funcionará a coleta;
Fazer as coletas, preferencialmente, em domicílio, sobretudo em famílias com pessoas em grupos de risco;
Preparar um ou vários pontos de coleta abertos para evitar contato físico;
Organizar os pontos de coleta para que a entrega seja rápida, evitando aglomerações;
Limitar ao mínimo possível o número de pessoas envolvidas na logística de recebimento;
Manter distância mínima de dois metros e não cumprimentar fisicamente as pessoas;
Não envolver pessoas com sintomas ou doenças pré-existentes na coleta. Pessoas de grupos de risco não devem participar organização das coletas;
Sempre utilizar álcool em gel ou água e sabão após manusear os materiais recebidos;
Disponibilizar álcool gel ou estação para higiene das mãos aos doadores/as.
Sempre utilizar equipamentos de proteção individual e evitar levar a mão à boca, nariz e olhos;
Na fase de preparação, precisamos estar atentos para a organização e tamanho das doações que foram coletadas. Preferencialmente, organize entregas que beneficiem um período maior (dois ou mais meses, por exemplo). Para essa fase, considerem:
Armazenar as doações em local seco e arejado;
Sempre utilizar equipamentos de proteção individual durante todo o tempo, evitando levar as mãos à boca, nariz e olhos;
Organizar as doações de forma a identificar visualmente os itens que foram coletados evitando manuseio desnecessário;
Preparar kits para entrega;
Higienizar as embalagens antes da entrega;
Disponibilizem material de proteção individual e de limpeza ou desinfetante para as equipes limparem superfícies, móveis, equipamentos, materiais, etc.
Máscaras e luvas descartáveis;
Detergente líquido e álcool gel;
Para equipamentos e materiais, incluindo dispositivos móveis e objetos de escrita, é recomendado o uso de álcool isopropílico a 70% (álcool geralmente disponível em farmácias). Para dispositivos móveis, não derrame ou pulverize o álcool isopropílico diretamente no dispositivo; use sempre um pano úmido (não molhado). Alvejante não deve ser usado em dispositivos móveis.
Para pisos e superfícies, recomenda-se o uso de solução de água sanitária a 0,5% (consulte as orientações do PMA para obter instruções sobre a preparação).
Essa fase é a de maior risco, portanto, os cuidados devem ser rigorosos. É recomendado que as pastorais, organismos e movimentos eclesiais tenham realizado triagem prévia e apresentado suas listas de beneficiários para evitar formação de aglomerações nas comunidades e paróquias.
Quando possível, considerem entregas em domicílio ou agendamento de horários para retirada. Essa medida evita consideravelmente aglomerações. No Plano de Contingência da Cáritas Brasileira, há um fluxograma para distribuição segura do Programa Mundial de Alimentos. Considerem alguns pontos importantes para os locais de entrega conforme o tipo de distribuição mais adequado a sua realidade.
Distribuição individual:
Higienizem os produtos que serão doados e acomode em embalagens igualmente higienizadas;
Comuniquem-se, previamente, com a família que receberá a doação e combine um horário para a entrega;
Evitem transporte público;
Utilizem equipamentos de proteção individual;
Evitem entrega mão a mão. Acomode a doação em um espaço de fácil acesso na residência da família a ser beneficiada;
Não demorem mais que o suficiente para entregar a doação;
Utilizem álcool gel ou água e sabão para higienização das mãos.
Distribuição comunitária:
Higienizem os produtos que serão doados e acomode em embalagens igualmente higienizadas;
Comuniquem-se, previamente, com as lideranças comunitárias e combine horário e local para as entregas;
Sigam o fluxo de entrega previamente preparado, com distanciamento mínimo de dois metros;
Utilizem equipamentos de proteção individual;
Evitem entrega mão a mão. Acomode a doação em um espaço de fácil acesso da família a ser beneficiada;
Descartem equipamentos de proteção individual antes de utilizar veículos.
Distribuição Paroquial ou Diocesana (larga escala):
A. Configuração da distribuição:
Considerem ter a presença de líderes comunitários, se for o caso, para ajudar no bom andamento da distribuição;
Estruturem estações para lavar as mãos:
o Nos pontos de entrada e saída da distribuição, para proteger equipes e beneficiários à medida que se aproximam uns dos outros.
o ao lado dos banheiros e área de amamentação, se for o caso.
Organizem uma área de espera e a área de triagem de saúde antes da entrada na distribuição, garantindo espaço adequado para manter o distanciamento social, conforme as diretrizes da OMS e Ministério da Saúde. Marque o espaçamento no chão nas áreas de filas, usando fita adesiva, pedras, etc.;
Deem visibilidade a materiais de informação, educação e comunicação que transmitam mensagens relevantes de saúde, conforme disponibilidade;
Preparem mecanismos de feedback, se for interessante, levando em consideração as medidas de proteção COVID-19 (considere as necessidades de espaçamento e cordas de isolamento conforme necessário, caixa de sugestões, forneça canetas suficientes);
Desinfetem superfícies, equipamentos e materiais que equipes e beneficiários usarão;
Equipes devem lavar as mãos antes de começar a manusear os equipamentos e materiais recém-desinfetados.
B. Implementação da distribuição:
o Indiquem a equipe dedicada para monitorar as estações para lavar as mãos, – garantindo que os materiais sejam reabastecidos, conforme necessário, e que torneiras, copos etc., usados nas estações de lavagem de mãos, sejam desinfetados regularmente;
o Incentivem todos a manterem a distância mínima recomendada entre si, de acordo com as diretrizes da OMS e Ministério da Saúde;
o Deem prioridade aos beneficiários vulneráveis (por exemplo, idosos, mulheres grávidas e lactantes etc.) para receber as doações. Considerem pedir às pessoas vulneráveis que venham ao local de distribuição antes de outros familiares;
o Os beneficiários devem passar por exames de saúde antes de entrar na área de distribuição. Se a equipe de saúde do governo/ONG não estiver disponível, a coordenação poderá optar por designar equipe treinada para fornecer orientações de saúde e higiene, além de identificar pessoas com sinais visíveis de infecção. Para pessoas com sinais visíveis de infecção, a equipe deve respeitosamente e empaticamente, mantê-los em distanciamento social e:
Pedir para que elas ocupem uma área separada, designada para acompanhamento;
Coletar os dados e trabalhar com eles para determinar uma alternativa para que essas pessoas recebam sua doação (por exemplo, permitindo que um procurador receba a doação; configurando a entrega em domicílio);
Aconselhar a pessoa a procurar apoio médico, de acordo com os protocolos do Ministério da Saúde;
Solicitar que elas não participem da distribuição atual; peçam aos líderes da comunidade que as apoiem, se necessário.
o Os beneficiários liberados durante a triagem de saúde vão para o local de distribuição. Eles devem lavar as mãos:
Na entrada do ponto de distribuição, antes de assinar e receber assistência.
Ao sair do local de distribuição, após receber a doação.
o Evitem manusear documentos e fichas de registro de beneficiários; peça aos beneficiários para mostrá-los para visualização e removê-los, se necessário;
o Desinfetem continuamente as superfícies, os equipamentos e materiais que estão sendo usados ou tocados por vários beneficiários e equipes (por exemplo, mesas, telefones, tablets, objetos de escrita, etc.);
o Garantam que as equipes sigam os protocolos de boa higiene e prevenção de COVID durante toda a distribuição; definir horários regulares de lavagem das mãos para as equipes;
o Acompanhem entregas em domicílio para famílias em quarentena ou de alto risco, conforme necessário; ao fornecer a entrega em domicílio, a equipe deve informar à família que a embalagem está sendo entregue e deixá-la fora da entrada da casa.
C. Encerramento da distribuição e retorno:
o Limpem o local de distribuição; desinfetar superfícies, móveis usados; descarte todo o lixo;
o Desinfetem todos os equipamentos e materiais (por exemplo, mesas, telefones, tablets, teclados, objetos de escrita, lonas, etc.) antes de embalá-los;
o Certifiquem-se de que as equipes lavem as mãos antes de entrar novamente nos veículos. As equipes devem voltar no mesmo veículo em que vieram.
o Providenciem a limpeza ou desinfecção de veículos.
É importante registrar e documentar as ações solidárias realizadas e informar para a CNBB e Cáritas os impactos e resultados obtidos. Depois da atividade realizada, utilizem o Formulário de Registro da Ação Solidária Emergencial para notificar sobre os resultados obtidos.
Façam vídeos e fotografias durante a realização das ações solidárias e compartilhem nas redes sociais utilizando a marcação #tempodecuidar #CNBBcovid19 e #Caritasoncovid19.