Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

O ano de 2021 está começando, como também o ano litúrgico do Tempo Comum marcado pelo ordinário do dia-a-dia. A beleza deste tempo está no fato de que nos convida a viver o cotidiano como um caminho de santidade. Viver o dia-a-dia na companhia de Jesus como mestre e Senhor, caminho, verdade e vida nos fatos mais rotineiros da vida. O Senhor deseja estar presente em todas as horas.

A liturgia do domingo nos traz o Evangelho de João 1,35-42 que nos apresenta o primeiro encontro de Jesus com alguns dos que se tornarão seus apóstolos. Começa dialogando: “O que estais procurando?” Eles disseram: “Rabi, onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde ver”. Jesus surpreende os que o procuram convidando-os a passar um tempo com ele para que tivessem tempo de usufruir da sua presença e depois tirassem as suas conclusões. É uma metodologia que passa do ouvir dizer para o conviver.

Neste breve texto do Evangelho são traçadas algumas coordenadas essenciais do itinerário da fé: ouvir e ver, andar, seguir, permanecer com, procurar e encontrar. O percurso é, simultaneamente, comunitário e individual. João Batista estava exercendo seu ministério e já era cercado de seguidores, mas consciente de sua missão, quando vê Jesus passar diz a seus discípulos: “Eis o Cordeiro de Deus”. João representa o caminho comunitário da busca de Deus. Aponta, esclarece as dúvidas, estimula os seus irem ao encontro, a procurarem, a andarem além. Esta é a grande tarefa da comunidade de fé, apontar para Jesus Cristo. Ela não tem o poder de forçar ninguém, mas tem o dever de apontar para o Salvador.

O itinerário de fé quando se completa marca a vida, traz alegria. Quem encontrou o mestre deseja partilhar a experiência vivida e provoca os outros a se movimentarem. Foi o que fizeram os dois que foram ver onde Jesus morava. Não é um caminho mágico, automático, sem fadigas ou sem conflitos. Por ser um encontro envolvente, vai acontecer o confronto entre a proposta da vida e os ensinamentos de Jesus e as convicções pessoais. Esta tensão salutar eleva a vida do discípulo e o coloca em constante movimento de crescimento.

Com frequência quem se encantou por Jesus Cristo, depois de um tempo, pode cair na rotina. Perde-se o encanto inicial, aparecem as noites escuras, situações onde não de “sente e nem se vê a presença de Deus”. Por isso o começo de um novo ano se torna uma oportunidade para reavivar a procura de Cristo, fonte inesgotável de verdade e de vida. É uma hora oportuna de dirigir-se a Ele e perguntar novamente: “Mestre, onde moras?” Certamente, a resposta será a mesma que deu para aqueles discípulos: “Vinde ver”.

O caminho da fé é uma busca incessante. Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre, mas nós, o mundo, a história, nunca somos os mesmos. Basta recordar como começamos 2020 e o que ocorreu e o que está acontecendo no mundo no começo de 2021.Cada dia temos fatos novos e sempre será assim neste mundo que passa rapidamente. Não nascemos discípulos de Cristo, mas vamos nos tornando diariamente, e ao mesmo tempo nunca estaremos completos. Por isso é necessário tornar-se discípulo cada dia e cada dia sê-lo de uma forma mais plena.

 

 

 

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