Causou estranheza e mal-estar diplomático terem autoridades brasileiras tomado a decisão de conceder asilo político ao italiano Cesare Battisti. A grave decisão de aspecto humanitário foi originalmente tomada pelo ministro Tarso Genro e posteriormente acolhida e defendida pelo Presidente da República como “questão de soberania nacional”.

A decisão, aparentemente humanitária, não recebeu aprovação unânime nem dentro do próprio governo, como a Folha de São Paulo registrou. Não é a primeira vez que o Brasil concede asilo a pessoas condenadas no seu próprio país. Heitor Cony lembrou, na sua crônica de domingo, inúmeros casos desta benignidade brasileira, sobretudo o de Gustav Wagner que, carrasco e carcereiro na perseguição aos judeus, chegava – como relata Cony – a arrancar “crianças do colo das mães e espatifava a cabeça delas num poste”. Até a este o Brasil acolheu!

No caso recente, o que espanta não é o fato de dar refúgio a um fugitivo de país estrangeiro, mas o fato de o Governo atual ter negado asilo a dois boxeadores cubanos, que nenhum crime haviam cometido e apenas desejavam fugir da ditadura de Fidel Castro. Agora nossas autoridades concedem a graça do acolhimento político a um condenado à prisão perpétua pela justiça italiana, por quatro homicídios. Isto espanta.

A benignidade do Governo brasileiro assombrou (é esta a palavra) ao Presidente italiano Giorgio Napolitano, que, em carta ao Governo Brasileiro demonstra sua “amargura” e sua decepção. E dá o motivo desta amargura: ter o Brasil concedido “status de refugiado político” a um condenado pela Justiça italiana à prisão perpétua por quatro homicídios “com finalidades terroristas”.

Sob o ponto de vista cristão, os maiores crimes que se possa cometer, como os de Battisti, são perdoados pela bondade paterna de Deus quando há verdadeiro e profundo arrependimento com o desejo firme e sincero de emenda. Não temos como avaliar se o assassino em questão é realmente um convertido. Oxalá…

Sob o ponto de vista da Justiça humana, que o condenou, a pena recebida e não cumprida parece justificar tanto a amargura do Presidente da Itália, como o espanto de qualquer brasileiro diante da benignidade por parte das autoridades do Brasil.

Você concorda com a Justiça italiana ou com benignidade do Governo brasileiro? É livre pensar.

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira

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