Comunicações Sociais. Tudo será verdade?

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora

 

Definitivamente, estamos na era das comunicações. O mundo está plugado. Coisas incríveis a tecnologia conseguiu, inimagináveis para um passado muito próximo. Porém, a pergunta sobre a verdade no uso destes meios tão avançados é inevitável. Os meios de Comunicações Sociais estão inteiramente a serviço da verdade?

A matéria é examinada pelo Papa Francisco em sua mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais que é celebrado sempre no Domingo da Ascensão do Senhor, neste ano, no dia 13 de maio.

Francisco escolheu como tema a palavra de Cristo: “A verdade vos tornará livres” (João 8, 32). Faz séria reflexão sobre o desastre que causam as fake news na vida das pessoas e o prejuízo moral ao próprio mundo das comunicações. A mentira só produz situações degeneradoras, a falsidade destrói a dignidade humana e agride as relações entre as pessoas.

A verdade, contudo, a todos serve e conduz à paz, ao respeito mútuo e ao crescimento humanitário.

Partindo da Bíblia, o Papa recorda que, segundo a descrição do livro do Gênesis, a primeira fake news da história teria sido a tentação sofrida por Adão e Eva, provocados pela serpente, ‘o mais astuto dos animais’ (cf Gen.3, 1-23). Usando de meia verdade e meia mentira, o tentador engana as pessoas, provoca desconfiança onde não havia, induz ao despeito, à inveja, ao orgulho. O pecado inicial introduz o ódio entre irmãos causando o primeiro fratricídio, praticado por Caim contra seu bom irmão Abel. Pelo abuso da comunicação, o maligno faz entrar na história humana a derrocada de toda sorte de mal.

Semear fake news é um dos maiores desserviços à própria obra das comunicações, pois gera desconfiança, fere a ética, provoca ofensas, agride a paz social. Diz o Papa: “nenhuma distorção é inofensiva; antes pelo contrário, fiar-se daquilo que é falso produz consequências nefastas. Mesmo uma distorção da verdade aparentemente leve pode ter efeitos perigosos”.

Uma das características da comunicação de hoje é a rapidez. Tudo é tão veloz que dificilmente se pode controlar a divulgação de uma notícia. A avidez de certas agências em sair à frente, a ser a primeira a dar a notícia, visando sucesso e dinheiro, resulta em grande perigo, pois muitas vezes põe em jogo a veracidade dos fatos e pode moralmente destruir pessoas para sempre, quando publicam supostos crimes, sem comprovação devida. Uma vez dito nos meios ou viralizada nas redes sociais, ninguém mais conseguirá voltar atrás e limpar o nome de quem foi injustamente prejudicado. Isso funciona como as cartas anônimas, pois partem de pessoas inescrupulosas, dotadas de mal caráter e de nenhum espírito cristão. O missivista anônimo age como hipócrita que atira a pedra e esconde a mão. O mesmo se dá com certas acusações graves que são viralizadas, na maioria dos casos, sem se conhecer sua procedência.

O Papa diz: “As fake news tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável”. E mais à frente, diz: “As próprias motivações econômicas e oportunistas da desinformação têm raízes na sede do poder, do ter e do prazer”.

Como remédio principal para vencer o problema das falsas notícias, a mensagem pontifícia propõe duas medidas. A primeira é a educação das pessoas, desde crianças, para que vençam a tentação da mentira, a fim de serem formadas na verdade como uma opção pessoal. A segunda medida prática é não passar para frente, não compartilhar, não dar nenhuma atenção às fake news, mas justamente combater esta prática.

 

 

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