Escuta-Acolhida-Serviço

Recordamos no mês de agosto as vocações que o Espírito suscita na Igreja. Vocação nascida do encontro com a pessoa de Jesus Cristo. Ele convida a cada pessoa encontrar-se com Ele e a vincular-se estreitamente a Ele porque é a fonte da vida (cf. Jo 15,1-5); só Ele tem palavra de vida eterna (cf. Jo 6,68). O convite é a possibilidade do encontro transformador que abre a pessoa agraciada para um sentido novo de vida, a uma relação nova. Nova e dinâmica que pede cada vez mais profundidade e liberdade. Toda pessoa batizada é chamada a estar com Ele, ser um com Ele; um estar e ser com Ele: “Ele em nós e nós n’Ele”.

A vida consagrada é dom do Pai concedido por meio do Espírito à Igreja, e constitui um elemento decisivo para sua missão. É um caminho próprio de seguimento a Jesus Cristo, no qual cada um deve dedicar-se a Ele com um coração indivisível e, colocar-se, como Ele, a serviço de Deus e da humanidade, assumindo a forma de vida que Cristo escolheu para vir a este mundo: uma vida virginal, pobre e obediente. (DA n° 216)

“Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi”. Caminho próprio a ser trilhado com um coração indiviso. O dom concedido no encontro pessoal e único com o Crucificado-Ressuscitado gera a generosidade de coração. Uma vez tocado por Ele na experiência pessoal o consagrado, a consagrada, entra em correspondência amorosa. Indiviso o coração que está na atenção, na admiração, na receptividade do toque sagrado do encontro qual Maria aos pés do Senhor.  Coração indiviso é o coração tomado pela graça do encontro e gratuitamente busca corresponder como Marta toda feita serviço. Diante da predileção do chamado: correspondência amorosa! Correspondência amorosa expressa na liberdade, na gratuidade, na cordialidade, de servir. Nesse sentido a vida consagrada é chamada a dar testemunho da absoluta primazia de Deus e de seu Reino. (DA 219)

Colocar-se a serviço da humanidade com gratuidade, cordialidade, na graça de servir! Com coração indiviso, isto é, inquieto, que a alegria da pessoa de Jesus Cristo suscita, os consagrados e as consagradas são chamados a fazer de seus lugares de presença, de sua vida fraterna em comunhão e de suas obras, lugares de anúncio explícito do Evangelho, principalmente aos mais pobres, como tem sido em nosso continente desde o início da evangelização. (DA 217)

Os consagrados e consagradas que encontraram o sentido da verdadeira vida em Cristo desejam levar essa graça ao conhecimento, à vida de outras pessoas. Invadidos da alegria que a vida Jesus suscita anunciam a Boa notícia do Reino que está próximo. Eles sabem em quem depositaram a esperança: conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor, ao nos chamar e nos eleger, nos confiou. (DA 18)

Assim, a vida consagrada é chamada a ser uma vida discipular-missionária, apaixonada por Jesus-caminho ao Pai misericordioso, e apaixonada pelo anúncio de Jesus-verdade do Pai. Vida discipular-missionária profundamente mística e radicalmente profética. Radicalmente profética, leitora da vida inaugurada e anunciada por Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, leitora das realidades que contradizem o Evangelho. Profética porque vocacionada e enviada para a recordação do amor de Deus pelos pobres e pecadores e enviada para anunciar: “convertei-vos o Reino está próximo”. Vida discipular-missionária, um profetismo, que aspire até a entrega da vida em continuidade com a tradição de santidade e martírio de tantas e tantos consagrados ao longo da história do Continente. E a vida discipular-missionária que faz da Vida consagrada uma vida apaixonada por Jesus-vida do Pai, que se faz presente nos mais pequenos e nos últimos a quem serve, a partir do próprio carisma e espiritualidade. (DA 220)

Os consagrados e as consagradas são convocados a uma escuta mais intensa e recolhida do Espírito que sopra onde quer. São convocados ao acolhimento da vida que o Espírito suscita como possibilidade da vida discipular-missionária gratuita e cordial. São convocados a servir àqueles que permanecem à margem da convivência e dos serviços. Assim, em tudo escutando o Senhor que chama a uma vida mais intensa discipular-missionária; em tudo acolhendo os sinais da presença do Mestre, caminho verdade e vida; em servindo na liberdade do amor aos menores; eles colaboram na gestação de uma nova geração de cristãos discípulos e missionários e na gestação de uma sociedade onde se respeite a justiça e a dignidade da pessoa humana. Mas, também, na escuta, no acolhimento e no serviço os consagrados e consagradas vão perfazendo o caminho discipular-missionário na gratuidade.

Dom Leonardo Ulrich Steiner

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