Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

 

 

16° Domingo do Tempo Comum 

“Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10,42) 

 

Celebramos neste domingo o 16º do Tempo Comum e acompanhamos Jesus anunciando o Reino de Deus. Que possamos sempre escolher a melhor parte, a exemplo de Maria no Evangelho de hoje, optando por ouvir a Palavra de Deus e comungar do Corpo e Sangue do Senhor. Busquemos o Senhor sempre, e não somente nas horas difíceis, e não deixemos que as ocupações diárias nos afastem d’Ele. 

Sempre temos muitos motivos para celebrar e agradecer ao Senhor por tudo aquilo que Ele nos proporciona. A missa é uma grande ação de graças, na qual devemos pedir e agradecer ao Senhor: agradecer pelo imenso amor que Deus tem por nós, mesmo quando nos desviamos do caminho, pois Ele continua a nos amar. Sejamos cristãos autênticos, buscando e oferecendo amor, e fiéis à Palavra de Deus. 

Estamos na metade deste ano litúrgico. Em breve celebraremos o mês vocacional, em agosto; o mês da Bíblia, em setembro; o mês do Rosário e das missões, em outubro; e assim chegaremos ao final do ano. Sempre temos motivos para celebrar e agradecer ao Senhor, e a Igreja continuamente nos oferece motivações para isso. Busquemos alimentar a nossa fé, pois aquilo que não é alimentado se perde. 

O tema central da liturgia de hoje é a fé e a confiança no Senhor, e o alerta para que não deixemos que as ocupações do cotidiano nos afastem d’Ele. Acolhamos com alegria e confiança a Palavra que o Senhor nos quer dirigir. Que essa Palavra nos ilumine, para que tomemos as decisões corretas em nossa vida. 

A primeira leitura deste domingo é do livro do Gênesis (Gn 18,1-10a). Neste trecho, Abraão tem uma visão de três homens de pé junto ao carvalho de Mambré. Ele estava cansado após uma longa viagem, e fazia muito calor. Esses três homens, que Abraão vê, podem ser relacionados com a Santíssima Trindade, pois esta existe desde a criação do mundo, embora tenha havido momentos específicos em que as três Pessoas se revelaram à humanidade. 

Ao se deparar com a visão, Abraão dirige-se ao Senhor e pede que Ele permaneça, pois prepararia algo para comerem. Com tudo pronto, Abraão permanece de pé junto deles, debaixo da árvore, enquanto comiam. Eles perguntam onde está Sara, sua esposa, e ele responde que está na tenda. Um deles diz que voltará no ano seguinte, quando Sara já terá um filho. Trata-se de uma revelação profética de Deus, anunciando a ação do Espírito Santo na vida de Abraão, como resposta à sua obediência à vontade divina. Meus irmãos, podemos afirmar que essa aparição é fruto da fidelidade de Abraão e de sua oração perseverante ao Senhor, pedindo que Sara lhe desse um filho. 

O salmo responsorial é o 14(15), cujo refrão nos diz: “Senhor, quem morará em vossa casa?”. Na vida eterna, habitaremos para sempre ao lado de Deus. Do mesmo modo que Abraão preparou uma refeição e permaneceu junto do Senhor, também participaremos do banquete eterno com Ele. A nossa meta final é a vida eterna. Por isso, devemos conduzir nossa vida de modo reto, para sermos dignos de habitar no Céu junto de Deus. 

A segunda leitura deste domingo é da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl 1,24-28). Paulo se alegra por ser o mensageiro de Cristo para aquela comunidade. Todas as tribulações que sofreu, ele as une ao sofrimento de Cristo na cruz, em comunhão com a Igreja, que é o Seu Corpo. Paulo serve com alegria, anunciando o Evangelho da salvação. Ele prega continuamente, exortando a comunidade à perfeição na união com Cristo. Anuncia o Evangelho gratuitamente e se alegra com aqueles que acolhem a mensagem. 

O Evangelho deste domingo é de Lucas (Lc 10,38-42). Jesus visita a casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro — a quem Jesus ressuscitaria mais tarde — e que se tornaram seus grandes amigos. Ao entrar, como de costume, Jesus se senta à mesa para a refeição. Enquanto Marta se ocupa dos preparativos e afazeres da casa, Maria permanece aos pés de Jesus, ouvindo a sua Palavra. 

Marta, ao perceber isso, pede a Jesus que diga a Maria para ajudá-la, pois ela estava sobrecarregada com as tarefas. Jesus, porém, responde a Marta que Maria escolheu a melhor parte e que ela estava preocupada e agitada com muitas coisas. 

Isso acontece frequentemente conosco. Preocupamo-nos com tantas coisas que não encontramos tempo para ouvir a Palavra de Deus. O domingo é o dia do Senhor, o dia em que todo católico é chamado a participar da Eucaristia e escutar a Palavra. Infelizmente, muitos se ocupam com tantas tarefas até mesmo no domingo que não conseguem ir à Igreja. Sigamos o exemplo de Maria: escolhamos a melhor parte, coloquemos Deus em primeiro lugar e deixemos as coisas secundárias para depois. 

Podemos visitar parentes, descansar, passear… mas precisamos reservar um tempo no domingo para a missa. Nossas paróquias oferecem vários horários de celebração; escolha um e participe com sua família. Devemos ter um pouco da personalidade de ambas as personagens do Evangelho: cuidar dos nossos afazeres, como Marta, sem deixar de lado a escuta da Palavra de Deus, como Maria. 

Celebremos com alegria este 16º Domingo do Tempo Comum, pedindo, sobretudo, que não descuidemos da Palavra de Deus, que ela seja sempre nosso instrumento de salvação e alimento diário. Construamos aqui na terra o Reino de Deus, colocando em prática tudo o que Jesus nos pede, sendo verdadeiros conosco mesmos e com Deus. 

 

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