Dom Pedro Cunha Cruz
Bispo de Campanha (MG)
No dia vinte e oito de abril comemoramos o dia da Educação. A data serve para incentivar e conscientizar toda sociedade sobre a importância da Educação, seja escolar, social ou familiar, em vista da construção e desenvolvimento de valores essenciais do ser humano, e o seu saudável convívio social com os indivíduos. O Fórum Mundial de Educação, realizado em Dakar, no Senegal, no ano dois mil, estabeleceu o compromisso dos países de levar a Educação básica e secundária a todas as crianças e jovens do mundo. O grande desafio no campo da Educação é o de ultrapassar o âmbito escolar, fazendo com que os destinatários do processo educacional carreguem seus ensinamentos para a vida; como já ensinara o célebre filósofo latino Sêneca: non scholae sed vitae discimus.
A Educação sempre visa o desenvolvimento de todas as dimensões da personalidade humana. Os gregos já concebiam a Educação não como uma mera transmissão de um saber, mas como uma formação global do homem; razão pela qual não conflitava a reflexão filosófica com a Educação. A Educação nunca era distanciada da formação dos valores humanos. Estes sempre foram o seu núcleo principal. Por isso, podemos ainda hoje afirmar que todos os saberes têm por objeto a Educação; ela presta um serviço ao ser humano em busca de sua identidade. Os sistemas educativos e os educadores não devem se distanciar deste propósito.
Ao tratar do direito universal à Educação, a declaração Gravissimum Educationis do Concílio Vaticano II dirá: “Os homens todos de qualquer raça, condição e idade, em virtude da dignidade de sua pessoa, gozam do direito inalienável à educação. A autêntica educação, no entanto, visa o aprimoramento da pessoa humana em relação a seu fim último e o bem das sociedades de que o homem é membro, em cujas tarefas, uma vez adulto, terá que participar” (G E, 1). O Concílio destaca ainda o papel da Família, da Igreja e de toda sociedade na promoção da Educação e Cultura. “Oferece ela seus préstimos aos povos todos para promover o desenvolvimento integral da pessoa humana, para modelar ainda o bem da sociedade terrestre e a edificação do mundo, de maneira mais humana” (G E, 3). Cabe ainda lembrar neste contexto, o papel da Igreja no progresso e ampliação da Educação.
Para que o processo de aprendizagem possa atingir o seu ideal, é necessário que o educador desperte no alunado a vontade de aprender; isto é, que o educador precisa estar interessado em motivar os educandos para o conhecimento. Tarefa nada fácil em um mundo onde as tecnologias fazem parte do cotidiano da maioria dos alunos, com acesso rápido e disponível de inúmeras informações. Este tem sido o grande desafio de muitos educadores na tarefa de ensinar e estimular os alunos; mesmo sabendo que as tecnologias têm como ferramenta auxiliar no ensino e não substituir o professor, como já demonstrou o conhecido educador norte-americano Jerome Bruner (Bruner, J. O Processo da Educação. São Paulo. Companhia Nacional, 1978, p. 80). O educador é sempre uma presença concreta e importante para o educando, e não uma presença abstrata e tecnicista. Ele é alguém imprescindível na transmissão do saber. A relação interpessoal é sempre mais rica do que a virtual. “O mestre exerce uma influência causal real no espírito do aluno” (Maritain, J., Rumos da Educação. Rio de Janeiro. Ed. Agir, 1966, p. 207). Portanto, a relação de alteridade é constitutiva do ser humano. Existimos com o outro. O outro é um dom que nos enriquece.
A missão de educar encontra-se diante de muitos desafios, sobretudo quando a identidade humana é determinada por uma opção individualista que procura impor um pensamento único que determina até mesmo a educação das crianças, como bem frisou Papa Francisco na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia (n. 56). Urge acompanhar os processos educativos para que visem a formação integral da pessoa humana. A Educação que humaniza também será capaz de construir um mundo mais fraterno e solidário, criando ambientes que possibilitem o diálogo com as realidades culturais. Educar é cuidar da plena realização da pessoa.
O Brasil ainda enfrenta graves problemas com a qualidade do ensino e educação, mesmo com uma discreta diminuição do número de analfabetos nos últimos anos. O dever do Estado é garantir condições para uma boa formação educacional dos cidadãos, com qualidade e acessibilidade, sobretudo aos menos favorecidos. A Igreja e toda a sociedade brasileira devem assumir a Educação como verdadeira prioridade nacional (CNBB. Educação, Igreja e Sociedade. São Paulo, 1992, p. 65). Uma Educação para todos, atenta à formação dos valores humanos, sociais e éticos do indivíduo, deve ser o ideal de todos os educadores. Educar é um carisma que contribui para a edificação de um novo humanismo. A Educação é portadora de um dinamismo transformador da pessoa e da sociedade. Parabéns aos educadores pela fiel missão de instruir e educar.