Dom Carmo João Rodhen
Bispo Emérito de Taubaté (SP)
23º Domingo do Tempo Comum (Mt 18,15-20)
Texto referencial: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18, 20)
Sobre o perdão, não é fácil falar, menos ainda o é concedê-lo. Mas sem ele, a vida em comunidade, se torna um inferno. Ademais, ele no céu não existe (Deus já perdoou antes), no inferno, é claro que não se dá, e na Terra está difícil. Desde que o temor de Deus diminuiu na pós modernidade, as revoltas cresceram, e as vinganças aumentaram. Haja visto, os feminicídio e outras atitudes insanas. Não por nada, Mateus intercalou esse ensinamento, dentro da parábola da ovelha perdida (Mt 18,10-14). E do servo desapiedado (Mt18 21-25). O texto do Evangelho de hoje, aliás, não é compreensível, fora do horizonte dos versículos (Mt 18,19- 20).
Falei do temor de Deus, que está diminuindo. É verdade. Lá, onde Deus, não é importante, a autossuficiência aumenta. Trata-se então de “cada um por si”. Outros, ainda tentam acrescentar “Deus por todos…” Eu prefiro falar do “amor”. Sem ele (o amor) não se vive: não se convivi. Repito: então o inferno, de certo modo, já é antecipado. Como celebrar Eucaristia assim? Como falar de educação, de vida civilizada?
Para Jesus, não se trata de perdoar, uma ou outras vezes, mas sempre. Quem não se lembra, da célebre pergunta de Pedro? Quantas vezes devo perdoar o meu irmão que pecou, contra mim? Até sete vezes? Não Pedro: “até setenta vezes sete”. Sempre. É preciso imitar Deus Pai (Mt 20,22). Como somos bastante teimosos, Jesus faz umas sugestões
“Se teu irmão pecou, contra ti”. Vai ao encontro dele, sozinho, acerte tudo e ganharás teu irmão (Mt 18, 15).
Se não, leva consigo uma ou duas pessoas (ajuizadas). Jesus não o disse, mas deve tê-lo pensado! Assim, tudo se resolverá fraternalmente.
Se recusas? Diga-o a igreja. Se, essa não for ouvida, “seja ela para ti e para os outros, como um pagão ou um publicano”. Então o Pai manda ter atitudes anti fraternas? Não. Apenas aceita, nossos limites, para evitar outros maiores. Na igreja, infelizmente, também há cisão… Pergunto então “onde não há?” Mas a referência mesmo, continua sendo o Pai Celeste, que deseja os seus reunidos sem problemas e então, ele está no meio (Cf. Mt 18, 20). O Pai é sempre pai, os irmãos nem sempre agem como irmãos… Não faz pensar? Sim. Espero, ao menos, que nossa reflexão, leve à conversão. Se não, como rezar o Pai Nosso? Comungar? E a participação da Santa Missa?
Conclusão: Se não é fácil refletir, sobre o assunto, mais difícil é aceitá-lo. Vivê-lo. Repito: “ser cristão, nunca foi fácil”. Hoje, no mundo tão desunido, mais ainda. Possa, no entanto, Jesus continuar a ser sempre referência.