Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
“Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos” (Mt 22,40)
Celebramos nesse domingo, o trigésimo desse tempo comum, nos aproximando do final desse ano litúrgico, dentro de quatro semanas celebraremos a Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo. Na semana seguinte, iniciaremos o tempo do Advento.
O tempo tem passado muito rápido. Por isso, aproveitemos cada momento e, se for possível, que possamos aproveitar na presença de Deus. Ao longo do ano litúrgico, sobretudo do tempo comum, Jesus caminha rumo a Jerusalém para “instaurar” o Reino de Deus, que possamos percorrer esse caminho junto com Jesus e deixar o reino de Deus acontecer na nossa vida.
Estamos encerrando na próxima terça-feira esse mês de outubro, que é o mês do Rosário e das Missões. Mesmo terminando esse mês, não deixemos de lado a missão, temos que anunciar a Palavra de Deus todos os dias aos outros e, do mesmo modo, não deixemos de lado a reza do terço. Peçamos diariamente a intercessão de Maria por nós. Através da oração diária do terço, afastamos tudo aquilo que é mal em nossa vida — é a oração forte da Igreja.
Temos que caminhar sempre com os olhos fixos em Jesus. Busque constantemente os sacramentos da Igreja. Não somente a Eucaristia, mas principalmente o sacramento da penitência. Experimentemos o amor de Deus por nós para que possamos transmitir esse amor aos outros. Inclusive, a liturgia de hoje nos fala sobre o mandamento do amor. Se Deus nos ama, temos que nos esforçar para amar o nosso próximo. Se na oração do Pai Nosso pedimos a Deus o perdão de nossos pecados, temos que perdoar de igual modo aquele que nos tenha ofendido. Façamos esse esforço, pois desse modo estaremos deixando o Reino de Deus acontecer entre nós.
A primeira leitura desse domingo é do livro do Êxodo (Ex 22,20-26). Nesse trecho do livro do Êxodo, o Senhor já fala a respeito do mandamento do amor e como devemos tratar o próximo. Do mesmo modo que Deus nos ama infinitamente, devemos amar o nosso próximo. No contexto dessa leitura de hoje, Deus diz que através de seu imenso amor libertou o povo da escravidão que viviam no Egito e com os estrangeiros que entraram em Israel. Por isso, devemos respeitar a todos, não importa a raça, país de origem ou religião. Ao longo de nossa peregrinação aqui na terra temos que viver a religião do amor, pois recebemos de Deus esse amor e devemos manifestá-lo ao próximo.
O salmo responsorial é o 17 (18). Esse salmo tem como refrão: Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força, minha força e poderosa salvação. Temos que nutrir um amor incondicional por Deus, pois Ele nos ama de forma incondicional. Em primeiro lugar, temos que amar a Deus e por conseguinte amar o nosso próximo. Quando por alguma questão da vida “abandonamos” a Deus, Ele devido ao seu grande amor não nos abandona e espera o nosso retorno a Ele de braços abertos, do mesmo modo que Pai do filho pródigo.
A segunda leitura desse domingo é da primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses (1Ts 1,5c-10). Nessa leitura, Paulo faz um discurso de “ação de graças”, pois a comunidade era fiel na pregação do apóstolo. Graças a ação do Espírito Santo, a Palavra de Deus ia se difundindo por toda a região da Macedônia e da Acaia. Os próprios membros da comunidade, iam anunciando uns aos outros a Palavra e, dessa forma, faziam o Reino de Deus acontecer.
O Evangelho desse domingo é de São Mateus (Mt 22,34-40). Nesse trecho do Evangelho, novamente os fariseus tentam experimentar Jesus e colocá-lo a prova apresentando a Ele uma questão. Eles perguntam a Jesus: “Qual é o maior mandamento da lei de Deus”? Jesus sabiamente diz que o maior mandamento da lei é amar a Deus acima de todas as coisas e ainda acrescenta o segundo mandamento, que é consequência desse primeiro: é o amor ao próximo. Jesus ainda finaliza, dizendo que toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos.
Com essa resposta, Jesus não exclui os outros oito mandamentos da lei, mas resume todos os outros nesses dois. Pois, os mandamentos da lei nada mais são do que a nossa relação com Deus e com o próximo. Do 1º ao 3º mandamento, há referência à nossa relação com Deus e, do 4º ao 10º, referem-se à nossa relação com o próximo. Quando pecamos, rompemos algum desses mandamentos e, consequentemente, rompemos a nossa relação com Deus e com o próximo.
O cristão é aquele que deve viver o amor, pois primeiramente Deus nos ama. Quando pecamos, nos fechamos em nós mesmos e não nos abrimos ao amor do próximo. A religião cristã é a religião do amor. Quando morrermos e nos encontrarmos com Deus, a única pergunta que Ele vai nos fazer é se amamos como deveríamos o nosso próximo. Por isso, ao longo de nossa peregrinação terrestre, busquemos amar o nosso próximo, procuremos julgar menos e amar mais.
Celebremos com alegria esse 30º Domingo do Tempo Comum, e peçamos ao Espírito Santo as luzes necessárias para compreender e cumprir os mandamentos da lei. E, ainda, lembremos daquilo que rezamos no Pai Nosso — se pedimos o perdão de nossas ofensas a Deus, devemos perdoar de igual modo o nosso próximo.