Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
“Que se prenda a minha língua ao céu da boca, se de ti, Jerusalém, eu me esquecer”! (Sl 136/137)
Celebramos neste Domingo o quarto deste tempo quaresmal, conhecido como o Domingo laetare, ou seja, o Domingo da alegria, pois nos aproximamos da grande celebração da Páscoa, o mistério da nossa salvação. O Domingo da alegria é celebrado no terceiro Domingo do Advento (gaudete) e no quarto Domingo da Quaresma (laetare).
A cor litúrgica desse Domingo é o rosáceo ou um roxo mais suave, ainda nos indicando que devemos continuar o nosso caminho penitencial até a Páscoa. Estamos na metade de nosso retiro quaresmal, e à medida que vamos nos aproximando do final somos convidados a intensificar as práticas espirituais propostas para esse tempo que são a Oração, Jejum e a caridade.
Ainda é tempo de realizarmos a nossa confissão sacramental auricular, se ainda não fizemos (e tivemos oportunidade nas 24 horas para o Senhor), e realizar algumas outras práticas penitenciais propostas para esse tempo. Como por exemplo, participar da celebração penitencial, das missas de madrugada com caminhadas penitenciais pelas ruas da paróquia. E, ainda, nos abster de algo que nos afaste de Deus.
A liturgia deste domingo nos fala daquilo que de fato significa a Páscoa, a passagem da escravidão para a liberdade e da morte para a vida. Ou seja, somos convidados a nos libertarmos da escravidão do pecado e nos libertar para a vida em Deus, e ao contemplar a Cruz de Cristo já sabemos que Ele venceu a morte e que a vida nova prevaleceu. Ao longo da Quaresma somos convidados a morrer para o pecado e a ressurgir para uma vida nova na Páscoa. Desde agora já celebramos a certeza dessa vida nova, por isso, hoje é o Domingo da alegria.
A primeira leitura da missa deste Domingo é do segundo livro das Crônicas (2Cr 36,14-16.19-23), essa leitura fala que todos os chefes dos sacerdotes e todo o povo multiplicaram as suas infidelidades ao Senhor, multiplicando as suas infidelidades e imitando as práticas abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo que o Senhor havia santificado em Jerusalém.
Mesmo o Senhor enviando mensageiros e profetas para admoestar o povo a deixar tudo aquilo que desagradava ao Senhor, o povo não os ouvia e incorria nos pecados, e ainda maltratavam aqueles que Deus enviava. Como consequência os inimigos incendiaram a casa de Deus e deitaram abaixo os muros de Jerusalém, atearam fogo a todas as construções fortificadas e destruíram tudo o que havia de precioso. A partir desse momento surge Nabucodonosor e inicia o exilio da Babilônia, quando Israel, por causa de seus pecados, “perde” a sua terra para um povo estrangeiro. O belo salmo 136 vai recordar das saudades de Sião.
O que essa leitura quer nos dizer é que toda escolha tem suas consequências, ou seja, se optarmos por viver uma vida de pecado e longe de Deus não podemos colocar a culpa n’Ele se as coisas não forem bem na nossa vida. Deus não castiga ninguém, Ele é amor, misericórdia e perdão, sempre espera o nosso retorno a Ele. Por isso, a cada ano na Quaresma ouvimos o convite à conversão e à mudança de vida. Ao deixarmos de lado a vida de pecado, e ao nos aproximarmos de Deus, as coisas irão bem em nossa vida. Não podemos colocar a culpa de nossos erros ou das coisas não derem em certo em nossa vida, nos outros ou em Deus. Tudo é escolha pessoal nossa.
O salmo responsorial é o 136(137), que vai dizer em seu refrão: “Que se prenda a minha língua ao céu da boca, se de ti, Jerusalém, eu me esquecer”! Esse cântico reflete aquilo que meditamos na primeira leitura, e podemos trocar Jerusalém por Deus. Que nunca nos esqueçamos de Deus e que Ele seja sempre a nossa razão de viver e a nossa alegria.
A segunda leitura desse Domingo é da carta de São Paulo aos Efésios (Ef 2,4-10), Paulo vai dizer para a comunidade que Deus é misericordioso, pois quando estávamos imersos em nossos pecados, Ele enviou o seu próprio filho para que morresse na cruz para nos salvar, e dessa forma “selar” uma nova e eterna aliança conosco. É pela riqueza da graça de Deus que somos salvos mediante a fé, pois temos que ter fé e acreditar que Deus perdoa os nossos pecados. A fé é um dom de Deus, é Ele quem nos concede esse dom através do Espírito Santo.
O Evangelho deste Domingo é de João (Jo 3,14-21), acompanhamos nesse Evangelho o encontro de Jesus com Nicodemos, e Ele diz: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna” (Jo 3,14). Deus enviou o seu Filho ao mundo para nos salvar, do mesmo modo que no Antigo Testamento quem olhava para a serpente que Moisés levantou foi salvo, agora quem olhar para a Cruz de Cristo também será salvo. Nós bem sabemos que Cristo que não está mais na Cruz, Ele venceu a morte, ressuscitou, e nós não adoramos a Cruz em si, mas adoramos aquele que morreu nela e depois ressuscitou a fim de nos conduzir para a Salvação eterna.
A Cruz para nós católicos não é sinal de derrota, não adoramos um Deus derrotado, mas um Deus vitorioso que venceu a morte e ressuscitou. A Cruz é a identidade do cristão, sinal de nossa salvação, em todo lar cristão deveria ter um crucifixo e pedir a proteção para toda a família.
Ao sermos batizados fomos iluminados pela luz de Cristo e chamados a transmitir essa luz para quem encontrarmos. Temos que nos aproximar da luz e praticar as obras da luz e não optarmos pelas ações das trevas. As ações da luz são: Justiça, caridade, paz e perdão, ou seja, ações que ajudam a edificar o Reino de Deus. As ações das trevas são: injustiças, opressão, falta de perdão e de amor, ou seja, ações que ajudam a não edificar o Reino de Deus.
Celebremos com alegria o quarto Domingo da Quaresma e peçamos ao Espírito Santo que sejamos fiéis ao nosso batismo e trilhemos sempre o caminho da luz. Não pratiquemos o mal, pois somos de Deus e Deus é luz. Busquemos a nossa confissão sacramental enquanto é tempo e celebremos a Páscoa irradiados pela luz de Cristo.