9 de setembro: Dia de comemorar o trabalho dos bons administradores na Igreja

Monsenhor Nereudo entrega ao Papa Francisco o livro “O Bispo que amava os pobres”, de José Nunes| Foto: Vaticano.

No dia em que celebramos o Dia do Administrador, data instituída no dia da regulamentação da Lei nº 4.769 da profissão no Brasil, o portal da CNBB conversou com o monsenhor Nereudo Freire Henrique. Ele é ecônomo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e um dos administradores que tem colaborado para a gestão e a administração da CNBB neste contexto da pandemia.

Para ele, o “administrador tem o papel de tentar garantir a vida longa da Instituição”. Para isto, aponta, é necessário a adoção de práticas e conhecimentos fundamentais da moderna gestão. A seguir ele fala das características da administração moderna e dos traços que precisam ter os muitos gestores e administradores que fazem parte da vida da Igreja no Brasil. Ele explica também os processos de modernização em curso na administração da CNBB.

Diferentes contextos e a administração eclesial

Para o ecônomo da CNBB, o gestor eclesial tem a tarefa de conhecer qual é o papel da instituição à qual ele serve. Conhecendo seu papel ele deve saber qual ou quais caminhos serão percorridos por ela para alcançar seus objetivos. “O Gestor/administrador conhece bem a Instituição e conhece seus objetivos”, reforçou.

Ele reforçou que para a gestão eclesial é importantíssimo levar em conta que a Igreja está inserida em uma sociedade que enfrenta vários desafios e que o gestor precisa fazer uma leitura dos cenários (internacional e local, político, social e econômico).

“Hoje vivemos uma profunda crise que têm uma incidência no ambiente eclesial”, disse. Ele cita como exemplo a oscilação do mercado e da insegurança econômica, principalmente agora na pandemia.  É possível, aponta, acompanhar as previsões de queda do Produto Interno Bruto (PIB), que tem uma incidência na comunidade eclesial.

“Quando falamos da alta taxa de desemprego, isto também afeta o cenário eclesial. Quando falamos no social precisamos que isto tem uma incidência no público que participa da comunidade eclesial, o que coloca a necessidade de fazer avaliações constantes. Então tudo aquilo que acontece nas diferentes dimensões contexto tem consequências no eclesial”, apontou.

Características de um bom gestor

O ecônomo da CNBB reforçou que os novos processos de negócio apontados na administração moderna exigem rapidez, conhecimento e aplicação das ferramentas certas e novas técnicas. Esse é o caminho para a administração se tornar eficiente e moderna em sua avaliação.

“O bom gestor é aquele que acompanha as oscilações do mercado. E percebendo a tendência ou as tendências vai conseguir traçar uma política seja na área administrativa, seja na área financeira ou na econômica para que a instituição possa superar as dificuldades que estão sendo previstas”, disse.

Para ele, para ser um bom gestor é necessário também ter um alinhamento com as novas técnicas modernas e ferramentas mais adequadas da administração e ter o conhecimento da área. “Sem ele, o gestor não irá e não chegará a lugar algum”, disse.

Uma outra característica apontada pelo monsenhor é a de que o bom líder e administrador deve entender que não está sozinho, que trabalha com equipes e a sua liderança é fundamental. “O gestor da comunidade tem que ter esta consciência. Eu estou liderando!”, disse. Em função disto, segundo o monsenhor, ele precisa ser exemplar, precisa ser o primeiro a sensibilizar o corpo de colaboradores, a estar atento e conhecer os cenários e  fazer com que as ferramentas modernas de gestão deem certo na sua missão.

Segundo ele, o gestor tem que ter conhecimento, ser sensível e ser capaz de promover o diálogo e aberto a novos processos. “O gestor moderno não é alguém que está fora da vida da instituição e nem fora do mundo, pelo contrário”, disse.  O gestor é aquele que consegue obter dados e fazer uma análise. “Se ele consegue fazer uma boa análise do cenário com certeza terá mais elementos para traçar a política econômica e administrativa da instituição”, disse.

Princípios necessários à boa gestão eclesial

O religioso falou também dos princípios que devem nortear a administração eclesial moderna. A seguir elencamos os princípios apontados por ele:

a) Sensibilidade para que a instituição garanta a transparência de suas ações;
b) Os princípios Evangélicos e a prática dos valores cristãos fundamentais como a solidariedade, justiça,  verdade e a ética;
c) A instituição eclesial não visa o lucro. Ela tem objetivo de dar a possibilidade de o ser humano caminhar dignamente;
d) A gestão precisa estar baseada no conhecimento técnico sem contudo perder os princípios;
e) Sustentabilidade e transparência no sentido de fazer o controle e acompanhamento sistemático dos recursos financeiros, materiais e humanos.
f) Capital humano – Hoje é importantíssimo ter um diferencial com relação às equipes de trabalho. Colaboradores e equipes bem treinados são fundamentais para garantir a vida longa da instituição.
g) Planejamento – A moderna administração planeja, pensa e constrói algo de forma coletiva envolvendo todo corpo e não apenas pequenos grupos.
h) Tecnologia da informação – Neste “novo normal”, a tecnologia da informação é base. A transformação digital é algo já presente e permite que os colaboradores contribuam por meio de teletrabalho;
i) Criatividade e reorganização de processos – É importante, em determinados contextos, pensar uma reengenharia de processos nos quais é necessária a criatividade, a capacidade de aplicar a análise da forças, fraquezas, oportunidades e ameaças e de analisar cenários internos e externos;
j) Conhecimento e inovação – A atualização é algo fundamental. Para responder às expectativas do momento o gestor moderno amplia a visão, amplia a necessidade de ter uma postura diferenciada e é capaz de se adaptar aos novos processos e ser criativo.
l) Integração de áreas e equipes – Outro elemento importante é a integração. Por exemplo, hoje é necessário trazer o contador para a vida da instituição e utilizar seu conhecimento para fazer análise sobre a saúde financeira da instituição. As áreas jurídicas, tecnologia da informação e financeiras da instituição precisam estar bem alinhadas para a instituição atuar com solidez e de forma moderna.

“As pessoas estão em casa produzindo. Ou seja, o mundo não parou, o que mudou foi a forma e o jeito de produzir”, destacou. A partir deste cenário, deveremos desenhar novos processos e projetos. Hoje vivemos num cenário onde as pessoas, de sua casa, conseguem gerenciar a aquisição de produtos online. Estamos vendo novos processos neste mundo dos negócios baseados na tecnologia”, disse. 

Administração e gestão na CNBB no contexto da pandemia

O monsenhor Nereudo recorda que o Secretariado Geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, precisou redimensionar o caminho e dar novos passos quanto à gestão da entidade no contexto da pandemia. “Primeiro, foi criado um gabinete de crise, que levantou dados para a construção de um planejamento e as adaptações necessárias”, disse. Em seguida, segundo conta, novas ações modificaram a rotina de funcionários e assessores presentes na instituição. O grupo também motivou a participação mais ativa de alguns conselhos, como o Conselho Econômico, para o acompanhamento da nova realidade.

Ele afirmou que está em curso um processo de modernizando da gestão na CNBB. Um grande avanço, comemora, é a interligação da gestão em todos os 18 regionais da CNBB com padronização de ferramentas de gestão e de tecnologia da informação. “A CNBB tem acompanhado de forma sistemática com um corpo de auxiliares competentes esta evolução do contexto e também as mudanças no campo da administração e da gestão moderna. “Temos um corpo de gestores altamente qualificado à frente da gestão da CNBB”, disse.

“Isto é algo que está sendo construído de forma coletiva. Estamos adotando também novos processos, como a CNBB Digital, por meio da tecnologia da  informação. Novas rotinas de gestão de pessoas com destaque para a  o treinamento e desenvolvimento de novas competências dos colaboradores da CNBB”, apontou.

Um avanço que comemora é a modernização da contabilidade da entidade. “A nossa contabilidade consegue hoje mostrar de forma atualizadíssima os cenários da instituição, acompanhamos de forma sistemática a execução do orçamento e o fluxo de caixa, sendo possível saber se o que foi previsto foi executado ou não e por quê? Permite identificar as readaptações dos processos e maior transparência. Tudo isto tem dado resultado significativo”, avaliou.

Segundo ele, a CNBB não parou na pandemia. Com ela avançamos, porque trouxemos para dentro da CNBB as ferramentas modernas sem nunca perder de vista os valores evangélicos. Desta forma, aponta o Monsenhor Nereudo, está sendo possível aliar a técnica e o conhecimento para fazer com que a Instituição alcance seus objetivos.

“Foi dada prioridade a um novo orçamento, porque nós tínhamos um orçamento para o exercício 2020, elaborado em 2019, com um cenário de expectativas de receitas, de despesas, de investimentos, de ações, tudo direcionado para assegurar a evangelização. Com a pandemia, tivemos a diminuição de receitas, obviamente teria que ter uma redução de despesas”, conta monsenhor Nereudo.

A CNBB tem sido provocada pela nova gestão por uma tônica resumida na indicação do arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência, dom Walmor Oliveira de Azevedo: “Temos de ser exemplares em matéria de gestão”, o que inclui não só a questão administrativa, mas em vista da atuação pastoral também.

 

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