“Uma carta a Timóteo”

Paulo estava preso em Roma quando escreveu a Timóteo. Foi sua última carta em sua última prisão. Paulo foi a Roma foi por causa da perseguição de Nero. O imperador incendiou a cidade e lançou a culpa sobre os cristãos. Bastava ser identificado como cristão para ser condenado. Não foi fácil para a comunidade de Roma. Paulo foi até lá para se solidarizar com os irmãos perseguidos, mas acabou também sendo preso. A comunidade de Roma não o acompanhou nem no julgamento nem na prisão para não se expor. Paulo se sentiu meio abandonado, mas compreende-se que os irmãos de Roma não estavam querendo propaganda e evidência naqueles dias. Ele podia receber visitas e podia escrever cartas antes da condenação à morte. O julgamento final ainda não tinha sido feito. O único, porém, que o visitou foi Onesíforo, de Éfeso, que se esforçou para encontrá-lo numa cidade populosa em reconstrução, com ruas sem nome e casas sem número.

Mesmo preso, Paulo acompanhava a vida das Igrejas, e não deixou de se interessar com o que estava acontecendo com seu amigo, irmão e filho Timóteo. Timóteo esteve até então em Éfeso. No momento em que Paulo lhe escreve já não está mais. Éfeso se tornara difícil para Timóteo e Paulo o sabia. A solução será chamá-lo para Roma.

Timóteo nasceu em Listra, na Licaônia. Seu pai era de origem pagã e já tinha morrido quando Paulo passou pela primeira vez em Listra. Foi nessa ocasião que a avó e a mãe de Timóteo aceitaram Jesus Cristo como o Messias Salvador. Sua mãe se chamava Eunice e sua avó, Loide. Passando novamente por Listra, Paulo convidou Timóteo para integrar a equipe missionária formada por Silas e provavelmente Lucas. Timóteo era então muito jovem e não tinha sido circuncidado. Seu pai não era judeu por isso não o circuncidou. Agora sua mãe era cristã e não precisava circuncidar seu filho. Paulo, porém, o circuncidou. A atitude de Paulo pode parecer muito estranha, uma vez que ele defendia firmemente que só Jesus Cristo bastava e que a Lei de Moisés já não obrigava quem tinha aceito Jesus na fé. Mas ele circuncidou Timóteo porque Paulo não substitui uma lei por outra. Se antes se era obrigado a circuncidar e agora era proibido, continuamos debaixo de uma lei. Não existe para Paulo “proibido” e “permitido”. Quando deve tomar uma decisão, ele se pergunta se o que vai fazer convém à fé que tem em Jesus Cristo. Na prática isto significa que a decisão tomada ajuda a tornar Cristo e seu Evangelho conhecidos, favorece o desenvolvimento da pessoa humana e da comunidade, ajuda as pessoas a serem verdadeiramente gente, segundo o Evangelho de Jesus. O que escraviza, não convém; o que não constrói também não convém. Era conveniente circuncidar Timóteo para evitar problemas no anúncio do Evangelho. Então Paulo o circuncidou.

Paulo e Timóteo se tornaram grandes amigos. Paulo o chamava de “meu amado irmão na fé”, “meu verdadeiro filho na fé” ou “meu filho bem-amado”. Timóteo acompanhou Paulo na evangelização da Galácia, da Macedônia, da Acaia. Paulo o enviou de Atenas a Tessalônica para animar a comunidade perseguida e verificar em que situação se encontrava. As boas notícias trazidas por Timóteo foram a ocasião para Paulo escrever sua primeira carta aos tessalonicenses.

Paulo deixou Timóteo em Éfeso como supervisor (epíscopo) das comunidades da área. Diz a tradição que ele foi morto a pedradas e pauladas por ter se oposto às celebrações em honra de Dionísio, divindade pagã.

As relíquias de São Timóteo foram trasladadas para Constantinopla em 356 e se encontram na igreja dos Santos Apóstolos. São Jerônimo e São João Crisóstomo falam de muito milagres realizados em seu túmulo.

As pinturas representam Timóteo como bispo com báculo, ou com uma pedra na mão, ou sendo apedrejado. Aparece também recebendo uma carta de São Paulo. Há muita gente que invoca São Timóteo quando tem problemas de estômago, porque Paulo lhe recomendou tomar um pouco de vinho por causa de dores no estômago. A festa de São Timóteo é celebrada no dia 26 de janeiro, um dia depois da festa da conversão de São Paulo. Os gregos celebram a festa no dia 22 de janeiro.

Cônego Celso Pedro
Arquidiocese de São Paulo

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