O Livro dos Atos dos Apóstolos relata os acontecimentos do início da Igreja, sobretudo em torno de Pedro e de Paulo. Ao falar de Paulo, o autor vai contando o que aconteceu com o Apóstolo usando a terceira pessoa. No entanto, de vez em quando, em vez da terceira pessoa “ele” ou “eles”, ele usa a primeira do plural “nós”. O autor já não diz o que aconteceu com os outros e passa a narrar o que aconteceu “conosco”. “Estávamos reunidos”, ou “nós embarcamos”, “saímos”, “viajamos”, etc. Isto significa que ele participou do que está sendo contado. Chamamos esses textos de “passagens nós”. Na realidade, elas fazem parte de um diário de bordo ou de viagem que alguém escreveu e que se encontra espalhado nos Atos dos Apóstolos. Um companheiro de Paulo, provavelmente Silas, relatou os acontecimentos das etapas marítimas das viagens. Originariamente era um relato continuo e unificado e correspondia às informações de Paulo nas cartas. Sabemos que ele queria ir à Macedônia e à Acaia para recolher o resultado da coleta e levá-la a Jerusalém, para depois ir a Roma e chegar até a Espanha. O Diário de Viagem relata essa viagem, e teria sido escrito da seguinte forma:
“Eles estavam reunidos (At 18,28a TO), quando Paulo decidiu ir a Jerusalém, passando antes pela Macedônia e pela Acaia. Nessa ocasião ele dizia: “É preciso também que eu veja Roma” (19,21). Embarcamos então num navio de Adramítio (27,2a) e navegamos pelo golfo da Cilícia e pelo mar da Panfília, e desembarcamos em Mira, na Lícia (27,5). A continuação da viagem foi lenta e durou muitos dias até passarmos por Cnido (27,7a) e pela Mísia (16,7a) até chegarmos a Trôade, onde pernoitamos (16,8). No dia seguinte seguimos direto para a Samotrácia e, no outro dia, chegamos ao porto de Neápolis, de onde continuamos até Filipos, cidade do primeiro distrito da Macedônia, colônia romana. Aí ficamos alguns dias (16,11-12).
No Sábado, atravessamos a porta da cidade e fomos até o rio onde parecia haver um lugar de oração (16,13a). No caminho, veio ao nosso encontro uma escrava que tinha um espírito de Píton. Fazia adivinhações e com isso dava muito lucro a seus proprietários. Ela foi atrás de Paulo e começou a gritar: ‘Esses homens são servidores do Deus Altíssimo e anunciam o caminho da salvação’ (16,16-17). Paulo se voltou e disse ao espírito: ‘Eu te ordeno em nome de Jesus, sai dela’. Ele saiu imediatamente. Seus proprietários, vendo que tinham perdido uma fonte de lucro, agarraram Paulo e Silas e os arrastaram ágora. Entregaram-nos aos estrategos e disseram: ‘Esses judeus perturbam a nossa cidade e pregam costumes que os romanos não têm permissão de praticar. Então os estrategos arrancaram-lhes as vestes e mandaram que fossem açoitados (16,18b-22b). Deram-lhe muitos golpes e os jogaram na prisão (16,23a). Ao amanhecer, os estrategos mandaram os litores com a ordem: ‘liberem essa gente’. O carcereiro comunicou a Paulo as apalavras dos estrategos e mandou-o sair. Paulo, porém, lhes disse: ‘Fomos açoitados em público sem termos sido julgados, e nós somos cidadãos romanos; eles nos jogaram na prisão e agora nos expulsam ocultamente? Que eles mesmos venham e nos tirem daqui’. Os litores contaram aos estrategos o que Paulo disse e eles ficaram com medo ao ouvir que eram romanos. Vieram então e pediram que saíssem da cidade. Saindo da prisão, exortaram os irmãos e partiram (16,35-40).
Paulo foi para a Grécia. Depois de três meses, os judeus fizeram um complô contra ele, que estava pensando embarcar para a Síria. Teve então a idéia de passar pela Macedônia (20,2b-3).
Embarcamos em Filipos depois dos dias dos Ázimos e em cinco dias chegamos a Trôade (20,6). Fomos para Assos onde devíamos pegar Paulo Ele tinha decidido fazer a viagem a pé. Quando nos encontramos em Assos, seguimos de barco para Mitilene. No dia seguinte passamos por Quio e no outro dia aportamos em Samos. Pernoitamos em Trogílio e no dia seguinte chegamos a Mileto. Paulo não quis parar em Éfeso para não atrasar a viagem. Ele tinha pressa para poder estar em Jerusalém no dia de Pentecostes (20,13-16).”
