Em Corinto, Paulo encontrou-se com Áquila, um judeu originário do Ponto, recentemente chegado da Itália com sua esposa Priscila. O casal tinha saído de Roma quando o imperador Cláudio ordenou a expulsão dos judeus de uma sinagoga. A expulsão se deu por causa de perturbações acontecidas por “instigação de Cresto”. Esse “Cresto” é Jesus Cristo e as perturbações aconteceram entre os judeus que aceitavam e os que rejeitavam Jesus como o Messias. Foi nessa ocasião que Priscila e Áquila se dirigiram para a província da Acaia e foram morar em Corinto. Ao chegar em Corinto, Paulo se instala na casa deles, porque pertenciam à mesma tribo, e porque tinham a mesma profissão.
Este casal é mencionado várias vezes nos relatos da vida missionária do Apóstolo. Quando Paulo sai de Corinto para Antioquia da Síria, Priscila e Áquila viajam com ele até Éfeso, onde se estabelecem por um certo tempo. Em Éfeso, uma comunidade se reúne na casa deles, e eles acolhem Apolo, um judeu de Alexandria convertido ao cristianismo, e lhe dão amplas informações sobre o Caminho de Deus.
Escrevendo de Éfeso aos coríntios, Paulo diz: “Saúdam-vos as Igrejas da Ásia. Enviam-vos efusivas saudações no Senhor Áquila e Priscila, com a Igreja que se reúne na casa deles” (1Co 16,19). Na segunda carta a Timóteo (4,19) é Paulo quem manda saudações aos dois que ainda estavam em Éfeso ou para lá tinham voltado. Mais tarde, escrevendo de Corinto aos romanos (Rm 16,3), Paulo cumprimenta o casal e a Igreja que se reúne em sua casa. Priscila e Áquila são seus colaboradores em Cristo Jesus e expuseram sua cabeça para salvar a vida do Apóstolo (Rm 16,3).
Priscila e Áquila eram fabricantes de tendas e velas de navios, e trabalhavam com couro. Eram artesãos autônomos com ganho suficiente para poderem se estabelecer em diversas cidades. Paulo também trabalhava com suas mãos para não ser pesado a ninguém (1Ts 2,9; 2Ts 3,8; 2Co 12,13-15).
Na Catequese do dia 7 de fevereiro de 2007, o Papa Bento XVI agradecia a fé e o compromisso apostólico dos fiéis leigos, das famílias e dos esposos como Priscila e Áquila. Graças a eles o cristianismo chegou até nós. O cristianismo, diz o Papa, não podia crescer somente com o trabalho dos Apóstolos, mas “para se enraizar na terra do povo, para se desenvolver, precisava do compromisso dessas famílias, desses esposos, dessas comunidades cristãs, desses fiéis leigos que ofereceram o “húmus” para o crescimento da fé”.
As anotações de Paulo sobre Priscila e Áquila nos mostram um casal verdadeiramente missionário, que precede e acompanha o Apóstolo em sua viagens. Já na primeira geração de cristãos, eles são ativos e abrem espaço para o surgimento de Igrejas na base. Suas casas são o lugar do encontro para a meditação das Escrituras Sagradas e a celebração da Eucaristia.
O Papa afirma ainda que “cada casa pode se transformar em uma pequena Igreja”. “Não somente no sentido em que nela deve reinar o amor cristão típico, feito de altruísmo e de atenção mútua, mas ainda mais no sentido em que toda a família, sobre a base da fé, é chamada a mover-se em torno do único senhorio de Jesus Cristo”
Os cristãos acabaram transformando suas casas em grandes igrejas para a reunião de toda a comunidade, sobretudo os cristãos de cultura grega e latina. As basílicas são originariamente residências de uma família. Os cristãos de origem judaica mantiveram-se sempre em pequenos grupos, em casas e grutas segundo a arqueologia palestinense. E é verdade que o judaísmo se manteve fiel às suas tradições ao longo de séculos de infortúnio graças à reunião familiar de oração. O lar e a sinagoga se completam. Muitos ritos se fazem em casa com toda a família, com amigos e vizinhos.
Nós já tivemos experiências fortes de pequenas comunidades de base, ativas e firmes na fé. De qualquer forma, precisamos, vamos dizer assim, de cristãos tão convictos de sua fé quanto seus pastores, como Priscila, Áquila e Paulo.
