Aos 18 de junho comemoramos o centenário da imigração de 781 japoneses que desembarcaram em 1908 no Porto de Santos, a bordo do navio “Kasato Maru”. Como outros imigrantes da Europa, em época anterior e posterior, vieram tentar ganhar a vida por aqui “fare l’America”, expressão equivalente à construção de uma nova terra. Muitos não mais voltariam às suas pátrias, sem perder sua originalidade cultural. A verdade é que, com imigração japonesa e européia, foi possibilitado um feliz entrelaçamento de desenvolvimento econômico, social e cultural. A ressonância salutar da imigração é louvável e reconhecida pelos vários países da Ásia e da Europa.
No Sul e Sudeste do Brasil a presença japonesa trouxe a contribuição fundamental para o desenvolvimento econômico do País, integrando as áreas empresariais, industriais, dotando-as de aparatos científicos e tecnológicos de qualidade. O mesmo se diga para a agricultura e boa parte do comércio e construção civil. No Nordeste a presença japonesa não foi expressiva e marcante como no Sudeste. Temos certeza que, se tivessem vindo para cá, teríamos nos desenvolvido bem mais em todos esses setores citados.
A maior contribuição da imigração japonesa foi não apenas a miscigenação do sangue e da raça e sim a mentalidade laborial, a disciplina perseverante, a metodologia operacional determinada, o modo como encaram a realidade, a filosofia de vida, enfim, um padrão e um estilo que vem de uma cultura milenar, cheia de sabedoria! Nós, brasileiros, reconhecemos que em todos os locais dessa imensa nação onde os imigrantes e descendentes de japoneses se estabeleceram chegou um progresso maior.
O século XVI traz a marca dos colonizadores portugueses, voltados à navegação, às descobertas. A contribuição cultural que deles herdamos se soma a ação dos missionários jesuítas que, por sua vez, foram ardorosos evangelizadores tanto no Brasil quanto no Japão. Há uma opinião unilateralmente propagada com eivos de revolta e deboche contra a influência européia e asiática. Divirjo dessa opinião, identificando a cultura européia ou asiática (no caso da influência japonesa e chinesa) com imposição de modelos estranhos à cultura indígena ou a cultura autóctone brasileira.
Sem negar os interesses de dominação espúria praticada pelos colonizadores portugueses e espanhóis, é preciso reconhecer que chegaram junto aos colonizadores os padres jesuítas, que se demonstraram exímios pedagogos. Graças a esses missionários, também graças aos religiosos de outras ordens, tornou-se possível a tentativa de integrar a fé ao trabalho. Essa legítima e feliz inculturação resultou na prosperidade temporal de muitas comunidades nativas. Sem dúvida houve contradições e oportunismo entre as facções colonizadoras. Contudo, nunca se confunda Cristianismo como sendo o braço secular do poder dominador dos colonizadores.
Ao reconhecer a contribuição legada pela imigração japonesa, é preciso saber que eles foram explorados ao chegarem, depositados nas fazendas de café, utilizados como mão de obra barata. A têmpera do japonês se sobrepôs aos interesses mesquinhos dos que os exploraram. Muitos desistiram e voltaram ao Japão. A maioria permaneceu. Sem perder sua esperança, deram provas da superioridade de sua índole e capacidade de “tirar água de pedra, fazendo nascer verdura em deserto”. Demonstraram que os arranjos produtivos são possíveis com a sabedoria do aprendizado, com as habilidades que nascem das mil tentativas sacrificadas. Onde não havia recursos técnicos e financeiros os japoneses encontraram. Milagre? Não. Busca, invenção, perseverança, teimosia da perfeição.
Desde a primeira imigração, posteriormente, o Japão foi sendo exaurido e extenuado pelas guerras mundiais. O Brasil, vocacionado à hospitalidade, estendeu as mãos. Acolhemos desempregados e famintos. Oferecemos espaços que os japoneses transformaram em novas oportunidades. Hoje eles nos superam em muitas dimensões, principalmente nas esferas da organização de trabalho e sustentabilidade, metodologia científica e tecnológica. Estão presentes no processo de crescimento com desenvolvimento social. Teríamos muito mais a aprender com os japoneses do que simplesmente celebrar seu centenário.
