O capitalismo ruim faz o dinheiro produzir dinheiro para quem tem.
Faz 15 anos que tento alertar sobre os estragos causados pelos juros da política econômica favorável ao capital financeiro. O Governo continua pisando no freio do aperto monetário, com o pretexto de proteger o país contra o fantasma da inflação.
Agora, assustado pelo espectro da recessão e pressionado pelos que pagam o preço da agiotagem oficializada, o poderoso Meirelles finalmente reduziu os juros um pouco. Mais um remendo pequeno demais para o tamanho do buraco.
Não se pode esperar do banqueiro que deixe de privilegiar o capital. Com a redução dos juros básicos de 12,75% para 11,25 %, o Estado economiza um bilhão por mês, mas ainda entrega uns dez bilhões mensais aos ricos, dez vezes mais que o dinheiro dado aos pobres pelo Bolsa Família. Mais que o dinheiro aplicado no PAC e na educação.
Não bastam alguns remendos para recuperar o atraso do país. O Brasil precisa cuidar do desenvolvimento em vez gastar as energias todas no combate direto ao dragão da inflação. Deve trocar o freio das “metas de inflação” pelo motor de metas de crescimento.
Não quero perder tempo com críticas genéricas. Tenho sugestões concretas: Bancos oficiais e outras Estatais deviam investir seus lucros na produção, em vez de encher com dividendos o bolso recheado dos acionistas. Pelo menos em tempos de crise. Empresas do Estado não podem ter no lucro sua meta suprema.
O dinheiro dos impostos devia ser aplicado em serviços e obras em benefício do povo, em vez de produzir apenas juros para dar dinheiro a quem já tem. O Brasil é o único devedor do mundo que faz questão de pagar juros altos sobre suas dívidas.
No fim do século passado, o Governo fez estourar a dívida externa tentando segurar o valor artificial do Real que favorecia as importações e dificultava as exportações, em prejuízo da indústria nacional e do crescimento do Brasil. Agora estão tentando fazer o mesmo de novo. Não viram que foi a desvalorização forçada do Real que veio equilibrar as contas do país no início deste século e ajudou a produzir uma reserva cambial?
Ao mesmo tempo, ventos favoráveis soprando do dinamismo dos países do Leste fizeram o país crescer um pouco mais, apesar do cabresto imposto por uma política econômica que continua privilegiando o capital financeiro num governo de origem trabalhista e desvia para o mercado financeiro o dinheiro que devia financiar investimentos privados e obras públicas.
A oferta generosa de juros atraiu tanto capital especulativo de fora que o Real inchou de novo, diminuindo a competitividade dos produtos brasileiros. Tudo isso fez a dívida interna subir tanto que a venda de Estatais e o “superávit” primário foram insuficientes para pagar nem metade dos juros sobre juros.
O Brasil não aproveitou as oportunidades da situação mundial favorável e do valor competitivo do Real. Em vez de implantar uma política de desenvolvimento, ainda continua na política sufocante do aperto monetário.
Juros altos dos títulos da dívida pública contribuem para manter nas alturas os juros que os bancos cobram para garantir seus lucros. O capital parado nos títulos do Governo fica faltando no mercado e faz o dinheiro mais escasso e com isso mais caro. Ora, é isso mesmo que o capital financeiro e seus donos querem.
Diz o Governo que os bancos deveriam reduzir o “spread”, a diferença entre os juros que o banco paga e os juros que cobra. Ora, não e hora de dar bons conselhos aos banqueiros. É hora de agir. O Governo não manda nos bancos oficiais? Basta que ofereçam dinheiro a juros civilizados, que outros bancos vão ter que fazer o mesmo, se não quiserem deixar seu dinheiro mofando nos cofres.
Se o Governo não sabe fazer isso sem provocar falências, posso dar uma dica, que prefiro não colocar aqui. Por enquanto, os bancos vão muito bem, obrigado. Lucrando bilhões em plena crise mundial.
Surgem notícias sobre a preocupação de governantes diante da redução da Selic. As leis complicadas da nossa economia estariam provocando a transferência de recursos para a caderneta de poupança. Diante disso, temendo a diminuição de dinheiro em aplicações que acham melhores, os comandantes da economia já estão preparando um jeitinho para diminuir ainda mais os juros da caderneta. Mais um remendo pior que o soneto.
Distorções impostas ao mercado por setores do Governo provocam complicações. Favorecem os bancos com dinheiro barato, mantendo os juros da caderneta de poupança inferiores aos juros “básicos”. Por outro lado, mandam emprestar dinheiro a juros menores para os escolhidos pelos donos do poder e dos cargos de confiança tão cobiçados por isso.
Assim, o spread deve pagar não só os impostos, as despesas e o lucro dos bancos, mas também os financiamentos privilegiados e as taxas do ILTD: Imposto de Lobistas pelo Trânsito de Dinheiro. Lobistas que costumam ter repasses a pagar.
A esquerda continua falando em capitalismo neoliberal. Na realidade estamos num capitalismo de Estado que procura regular tudo pelo poder político. Apenas um pequeno exemplo: Querem proibir que comerciantes ofereçam descontos a quem pagar em dinheiro vivo. Tudo para favorecer os donos de cartões.
Por outro lado, o governo do Lula que antes criticava as privatizações, agora está privatizando até estradas. Quanto à Petrobrás, o governo federal possui apenas um terço do capital total. Quase outro tanto está nas mãos de estrangeiros. Só o megainvestidor George Soros tem quase um bilhão em ações da Petrobrás. Para dizer que a Petrobrás é nossa, o Governo ainda conserva 55% das ações ordinárias que têm direito a voto. Com isso, mantém o comando da Estatal. O capital estrangeiro já se apoderou de muitas empresas brasileiras, até de supermercados.
O capital financeiro vinha engordando até o ano passado. Com a crise, quase todos perderam. Só os credores da dívida pública continuam lucrando. Nos porões de Brasília surgiu uma briga pelo imenso tesouro do petróleo descoberto nas profundezas do pré-sal. Talvez a criação de nova Estatal conseguisse garantir que aquele petróleo ainda seja nosso, mas forças poderosas tentam impedir, na defesa de outros interesses.
Insisto na sugestão especial para tempos de crise de crédito: Por que é que o Governo não manda que a Petrobrás e o Banco do Brasil, e outras, apliquem seus bilhões de lucros em investimentos produtivos, em vez de distribuir dividendos com fartura? Esse dinheiro deixaria de produzir apenas dinheiro para quem já tem. Passaria a produzir empregos e petróleo.
