Amavai-vos uns aos outros

A fé na Ressurreição de Cristo Jesus produziu, para o homem a sua história, o seu destino, conseqüências de conversão e crescimento no relacionamento pacífico com os seus semelhantes. O projeto de Deus sobre as criaturas humanas se cumpre no tempo e nós somos chamados a realizar o mandamento novo do amor fraterno: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” (João 13,31-35).

O projeto de Deus é de salvação e de vida. Na segunda leitura de hoje, Apocalipse 21,1-5, o apóstolo João descreve a situação futura da humanidade, recorrendo à uma visão sugestiva: a Jerusalém celeste. Uma Jerusalém renovada, símbolo do lado de lá desta vida, morada de Deus com os homens. É o Senhor Jesus, cordeiro imolado, que nela faz novas todas as coisas.

Compreendemos então como os primeiros cristãos deviam idealizar Jerusalém, que fora o berço da Igreja, testemunha da vida do Senhor que tinha visto os seus milagres, a sua morte e a sua ressurreição. E João a propõe como imagem da realidade futura, do Paraíso. Uma Jerusalém transfigurada, nova, bela como uma jovem esposa, no dia das núpcias. Uma cidade santa que desce do céu, para ser habitada pelos fiéis, uma cidade que é obra de Deus.
Nela tudo é novo: “não mais morte, nem lágrimas, nem lamento, porque as coisas de antes passaram”. Em lugar do velho mundo, um novo céu e uma nova terra. Jesus ressuscitado, cordeiro sem mancha, renova todas as coisas.

Nesta visão, o mundo inteiro participa da regeneração final.  A natureza em tantas circunstâncias nos parece hostil: nas doenças, terremotos, vulcões, substâncias tóxicas, poluição. Mas na visão final, a natureza se apresenta amiga, associada à glória do homem.
Deus se torna accessível. Deus que muitas vezes pode nos parecer longínquo, envolvido no mistério, atrás de bastidores, procurado no meio da angústia, accessível somente através da obscuridade da fé, agora Deus está ali, habita com os homens, é o Deus conosco. Assim São João descrevia a realidade futura, a conclusão final da história e do universo.

Deste modo, João nos indicou a orientação da existência cristã, o ponto de chegada, o fim que devemos olhar com as nossas escolhas da vida. De fato, essa realidade final nos vem de Deus, é obra sua, mas ao mesmo tempo requer a colaboração das criaturas humanas. Essa é realizada por aqueles que se esforçam por ser filhos e amigos de Deus. Portanto a cidade de Deus por construir conjuntamente. O itinerário nos foi indicado por Jesus.

O evangelho de hoje nos leva à Quinta feira Santa: Jesus no Cenáculo, com os apóstolos. Estão todos reunidos menos um, que saiu para vender Jesus por trinta dinheiros. E Jesus lhes disse: “Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos”. É o mandamento do amor. Palavras sublimes, sobreumanas, que somente o Filho de Deus podia revelar e propor aos homens. Os apóstolos levaram a sério e assim também os seus continuadores.

Esse programa de Jesus, decisivamente árduo, se realizou na história, em meio a tantas pequenas e grandes traições, depois da primeira de Judas, devidas à fragilidade humana. Dois mil anos de história cristã.

A primeira leitura do domingo: Atos 14,21b-27 nos apresentou o empenho do apóstolo Paulo e de seu companheiro Barnabé em levar a mensagem de Jesus aos pagãos. Eles voltam da primeira viagem missionária em giro ao longo das costas do Mediterrâneo, estão contentes porque a Palavra do Senhor foi acolhida, surgindo no meio dos pagãos as primeiras comunidades de fé. Nelas, homens de boa vontade se empenham em amar a Deus com todas as suas

forças, e amar o próximo como a si mesmos.Desde então, quantas estradas percorreu o Evangelho de Jesus, por meio daqueles que o acolheram para si e o transmitiram contagiando os outros. Agora cabe a nós, cristãos de hoje, fazer a nossa parte diante da história que vivemos com os desafios próprios da nossa hora, como aconteceu com os primeiros cristãos.

Dom Geraldo Majella Agnelo

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