Deus vai julgar-nos, após esta vida, tendo em conta o que realizamos aqui. As devoções religiosas, por melhores que sejam, sem incidência na convivência harmoniosa e justa não são a base principal. Nosso mérito está baseado no amor que tivermos no relacionamento com o semelhante. “Então o rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar” (Mt 25, 34-36).
Celebramos a Festa de Cristo Rei neste domingo, concluindo o ano litúrgico. O novo terá início, em seguida, com o Advento, preparando o Natal. Não é sem razão a comemoração. O próprio Jesus é o Filho de Deus, que dá começo à nossa vida e é a finalidade da mesma. Ele veio implantar um Reino diferente dos reinados humanos. Estes, aliás, muitas vezes são desumanos. Até as eleições políticas sofrem, com freqüência, a sordidez da compra de votos, da desonestidade, da falta de ética e da real procura do bem do povo. Governos e parlamentos humanos não raro se atêm a governar e legislar com interesses mesquinhos e faltando com a promoção do benefício de grande parte das pessoas empobrecidas.
O Reino de Cristo vem trazer a verdadeira justiça, baseada na misericórdia, na verdade e no amor. Misericórdia porque nenhum ser humano merece, com o próprio esforço, algo próprio de Deus. Ele nos dá o que precisamos e não o que merecemos. Somos muito pecadores, sem entender o real significado da vida que recebemos por generosidade do Criador e a grandeza d’Ele, que nos ama, apesar de tudo. Amor porque Deus nos quer bem, mesmo sabendo de nossa ingratidão. Somos chamados a também O amarmos, com a prática do amor ao semelhante.
Neste encaminhamento, só manifestamos o verdadeiro amor quando também somos misericordiosos, verdadeiros e amorosos, trabalhando por fazermos justiça de também promovermos o benefício para que o próximo seja tratado humana e dignamente. Precisamos trabalhar muito para implantarmos a justiça e acontecer o Reino de Cristo em nós. Não bastam belas palavras e atos religiosos devocionais. Estes podem nos ajudar quando forem impulsionadores da ação conseqüente de convivência na justiça e no amor.
Deixando haver o reinado de Cristo em nós, voltamo-nos à vida de abertura ao outro, vendo suas necessidades e colocando nosso potencial humano e espiritual a serviço da comunidade. Tornamo-nos solidários com pessoas afinadas em buscar o justo e necessário ao bem de todos. Não aceitamos o mal como bem. Opomo-nos a tudo o que degrada a pessoa humana, a família, a dignidade da mulher, da criança, dos idosos e de todos os fragilizados pela injustiça social, bem como práticas políticas indecorosas. Exigiremos a real “ficha limpa” de pessoas que pleiteiam e devem trabalhar pelo bem comum.
