Ontem, o evangelho de Lucas 15, 1-10, nos propôs dois ensinamentos de Jesus Mestre: uma verdade sobre nós criaturas humanas, talvez incomoda de aceitar, isto é, que somos pecadores: e uma verdade confortante sobre Deus, que Deus ama suas criaturas e as perdoa com alegria.
Já na primeira leitura, Êxodo 32,7-11.13-14, ouvimos Moisés que subira ao monte Sinai para receber as tábuas da lei, e conta que o povo de Israel que, na espera que voltasse, abandona-se ao pecado da idolatria, e mereceu o castigo de Deus. Mas Moisés intercede por seu povo, e lhe obtém o perdão do Senhor.
Na segunda leitura, 1Timóteo 1,12-17, S.Paulo declara: “Cristo veio para salvar os pecadores”. Recordando-se que um dia tinha perseguido os primeiros cristãos, admite com franqueza: “destes pecadores eu sou o primeiro”. Enfim proclama a sua alegria porque o Senhor lhe concedeu sua misericórdia e lhe restituiu plena confiança chamando-o ao apostolado.
O evangelista Lucas nos apresenta uma cena cheia de gente em torno de Jesus. Lucas nomeia quatro categorias de pessoas. As duas primeiras: “Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores”. In genere eram considerados maus. Pecadores, aqueles que transgrediam a lei de Moisés, gente tida como desonesta, perversa, posta à margem da sociedade. Os publicanos eram os cobradores de impostos. Tinham certa liberdade, podiam impor sobre pobres súditos, e além do mais, na Palestina, extorquiam a favor da potência inimiga ocupante e odiada, os Romanos. Eram olhados como a fumaça dos olhos, pior do que pecadores mais encanecidos.
As outras duas categorias nominadas por Lucas são os fariseus e os escribas, que se tinham como bons, que murmuravam contra os primeiros acima. Os fariseus eram os observantes da lei, vangloriavam-se de serem os justos, praticantes das prescrições, as mais minuciosas. Para fazerem-se notar, vestiam rendas, caixinhas de pergaminho contendo trechos da Lei: uma caixinha sobre a testa, uma sobre o braço esquerdo.
Os escribas, isto é, os escrivães, gente instruída, os coletes brancos da época, os homens das pastas, dos ofícios, os da lei, que administravam a coisa pública.
Assim, estavam em volta de Jesus os chamados maus, e os chamados bons. Jesus come com os pecadores. Os escribas e fariseus se maravilham: “Ele recebe os pecadores e come com eles!” E acusam-no: “É um comedor e um beberrão, amigo de publicanos e pecadores!” (Lucas 7,34). E se escandalizavam.
Jesus conta duas parábolas: a do pastor e a da dona de casa, mas o verdadeiro
Protagonista é Deus Pai.
A parábola da dracma: Havia uma mulher que tinha em casa, em um lenço, dez dracmas. Uma cifra modesta. A dracma é o estipêndio de uma jornada de trabalho. Ela perdeu uma. Sua reação parece exagerada. Preocupa-se, entra em crise. Varre toda a casa. Tira tudo do lugar. Por fim encontra. Outra reação exagerada: exulta de alegria. Corre às vizinhas, e quer que façam uma festa com ela.
Esta dona da casa excessiva é figura de Deus Pai, que se ocupa com ternura de suas criaturas. Quando pensamos nos enormes espaços do universo, na pequenez de um homem, perguntamos por que Deus deveria preocupar-se com ele? Do individuo. Sentir-se em crise quando peca, alegrar-se quando se arrepende.
Jesus vem exatamente a nos dizer que somos importantes para Deus, como aquela pequena moeda, a ponto que Deus organiza para nós uma festa: a festa do perdão.
A outra, da ovelha que se perdeu e foi encontrada, tem o mesmo significado. Deus se faz bom pastor, e vai procurá-la.
De fato, Jesus na terra foi o realizador da ternura do Pai. Quantas vezes disse: “Teus pecados te são perdoados. Vai em paz e não peques mais”. Jesus fez-se perdão de Deus para nós. Médico para os males da alma. Dizia aos fariseus: “Não são os sadios que precisam do médico, mas os enfermos”. Jesus procurava os homens de coração doente, e os curava.
Jesus confiou a Pedro, aos apóstolos e à Igreja, o sacramento do perdão. “A quem perdoardes os pecados, serão perdoados”.
“O homem de hoje recita de boa vontade o mea culpa, mas bate sempre no peito dos outros” (Thomas Eliot).
