Ao iniciar o novo ano, sempre com novas esperanças e com vontade que fazer melhor, tivemos também a posse dos prefeitos e vereadores. Ao ouvir o juramento feito de, além de obedecer às leis, juravam promover uma sociedade justa, igualitária e livre, pensei que de certa forma coincide em alguns aspectos com o objetivo geral da ação evangelizadora.
A preocupação com o povo, para que viva melhor em uma sociedade mais justa tem muita coisa em comum com as várias entidades governamentais ou não que estão a serviço da população.
Em um dos discursos de um vereador líder de partido disse que gostaria de colocar em prática seus sonhos pelos quais chegou até ali, ouvi também de outro a declaração dos limites que todos têm, muitas vezes querendo resolver tudo e não podendo.
Estou com esses pensamentos a meditar durante estes primeiros dias do novo ano. Vejo que todos têm vontade de que tudo seja melhor! Alguns juraram que assim iriam fazer para o bem do povo, mesmo reconhecendo que existe uma diferença entre os ideais e a realidade. Eu acredito na sinceridade das pessoas quando fazem suas declarações e iniciam um novo trabalho.
Depois de tantas legislaturas e tantos trabalhos efetuados em nossas cidades, o que acontece conosco que o abismo social é tão grande e as necessidades de uma vida mais justa e com direito à saúde, educação com qualidade, habitação digna, emprego e salário, lazer e busca do transcendente ainda estão longe de acontecer? O que impede que as coisas aconteçam?
Não é bom fazer comparações, pois a história e cultura são outras, mas por que em outros países, até mesmo com dificuldades econômicas maiores que as nossas, a dignidade de vida e o estilo de relacionamento são totalmente diferentes? Não precisaríamos ir para o norte da Europa para comparar, mas ficar mesmo por aqui, com nossos vizinhos.
Muitos estarão respondendo no seu interior e pensando em seu coração sobre a corrupção, interesses pessoais, desvios, egoísmos e coisas parecidas. Sim, é verdade tanto aqui como também em outros lugares, mas para isso existe o Poder Judiciário. Aliás, eu iria mais longe: isso demonstra o tipo de educação formal e informal que fomos recebendo no decorrer de nossas vidas, e aonde tudo isso nos conduziu. Muitos aprenderam a andar por esses caminhos e descobriram que “deu certo”, pois, impunes, continuam da mesma maneira.
Quando fizemos nosso gesto concreto na Campanha da Fraternidade sobre a Amazônia, colocando água potável em três ilhas com a porcentagem do dinheiro ofertado no Domingo de Ramos, que ficou para o Fundo Social Arquidiocesano, vi que não eram necessárias grandes somas para resolver problemas seculares. Com a nossa pobreza e parcos recursos precisamos fazer parcerias, mas chegamos a um ponto que não tem mais volta, procurando novas parcerias para continuar em outras ilhas.
Com essa experiência vi que muitas vezes a questão se trata de opção e equacionamento do problema a ser resolvido. O mesmo que necessitamos para a questão da paz em nosso país. Necessitamos de passos a curto, médio e longo prazo.
É verdade que também aqui, em geral, quando ocorrem mudanças na condução das cidades é difícil que o sucessor leve adiante as obras do outro, querendo iniciar tudo de novo e deixando as outras obras inacabadas.
Pensei também que muitas vezes grupos eleitos não estariam no governo para ajudar o povo e sim para ser contra o que está governando, e não se interessaria pelo bem do município votando leis que ajudariam pelo simples fato de que isso daria prestígio ao adversário. É a política não pensando no bem comum do povo e sim somente no próprio poder.
Temos também as implicações internacionais com a questão do comércio e indústria, além das crises que importamos ou que nos invadem vindas de outros cantos do mundo. Mas temos também toda uma pressão internacional para dar passos ecologicamente corretos e, ao mesmo tempo, que leve o desenvolvimento em nossa região amazônica para que o povo viva com dignidade.
Teremos daqui a alguns dias aqui em Belém o Fórum Social Mundial, além dos pré-fóruns e demais congressos (creio que mais de 10) que estarão ocorrendo em nossa capital neste janeiro diferente, em que, neste ano, as chuvas não serão a principal notícia, mas sim a movimentação social.
A proposta de “um outro mundo possível” deve nos questionar também para um outro tipo de trabalho possível em nossas cidades para que privilegiemos o que leva as pessoas a viverem com mais dignidade e a termos uma cidade justa, livre e igualitária.
Começamos o nosso tempo chuvoso e que chamamos de “inverno”. Nessa época, em outros lugares do mundo o tempo faz com que as pessoas fiquem mais em casa, e isso ajuda a refletir. Que este tempo chuvoso e “invernal” da Região Norte nos ajude a refletir sobre que passos poderíamos dar para que a curto, médio e longo prazo construamos um sociedade em que os direitos humanos estejam presentes e as pessoas tenham o necessário para viver bem. Assim, estaríamos colocando em prática todos os votos formulados por ocasião do ano novo.
Que o Senhor nos inspire e ajude com a sua graça e dê sabedoria a todos os que têm essas responsabilidades
