O sacerdote, homem da comunicação

No dia 23 de janeiro, o Vaticano deu a conhecer a mensagem que o Papa costuma pu-blicar todos os anos, em preparação à Jornada Mundial das Comunicações Sociais, que, neste ano, foi celebrada no dia 16 de maio, festa da Ascensão do Senhor. A data escolhida tem sua explicação por ser Jesus o grande comunicador do Pai, como o apóstolo João o lem-bra por duas vezes no mesmo capítulo de seu Evangelho: «Quem me vê, vê o Pai» e «As palavras que ouvistes de mim não são minhas, mas de meu Pai, que me enviou» (Jo 14,9.24).

Como se sabe, de junho de 2009 a junho de 2010, a Igreja Católica celebra o “Ano Sacerdotal”, em comemoração aos 150 anos da morte de São João Maria Vianney, padroei-ro dos sacerdotes. Por esse motivo, Bento XVI escolheu como tema da Jornada um assunto extremamente atual: “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: a mídia a serviço da Pa-lavra”.

Para o Papa, o sacerdote do século XXI não pode ficar alheio aos meios de comunica-ção, como se não lhe dissessem respeito ou fossem obra do Maligno. Pelo contrário, precisa abrir-se prudente e corajosamente a eles, sabendo que descortinam horizontes quase infini-tos a seu zelo pastoral: «O sacerdote se encontra no limiar de uma “nova história”. Neste contexto, quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras dilatadas pelo mundo digital, tanto mais ele precisará se ocupar disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar a mídia a serviço da Palavra».

Contudo, para ocupar esse lugar e levar adiante essa missão não é suficiente ser padre e ter estudado teologia. É preciso ter competência e autoridade. A competência lhe exige uma adequada preparação, e a autoridade lhe nasce do amor com que abraça a causa. Gran-de parte da evangelização do futuro – mas, graças a Deus, também do presente – passa pe-los meios de comunicação. Através deles, o sacerdote multiplica por mil o seu diálogo e o seu contacto com o povo. Mas não pode esquecer que só existe comunicação onde existe amor, que é sempre fruto da santidade de vida. É o que se apressa a lembrar o Santo Padre: «Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrir o rosto de Cristo, conjugando o uso o-portuno e competente de tais meios – adquirido já no período de formação – com uma só-lida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com Deus».

Mais do que um técnico da comunicação, para Bento XVI «o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pas-toral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da ‘rede’. A tarefa de quem opera, como consagrado, nos meios de comunicação é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas ver-dadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era digital, os sinais necessários para reconhecerem o Senhor».

Com isso, o Papa não quer dizer que os sacerdotes devam abandonar suas atividades paroquiais e passar horas a fio na internet. O assunto é bem mais profundo. O que se precisa, antes de tudo, é de um coração apaixonado, que deseja transmitir a todos a chama do amor de Deus que lhe arde na alma. É o que fazem inúmeros bispos, sacerdotes e leigos através do diálogo fraterno e humilde com uma multidão de interlocutores, através da imprensa, da rádio, da TV e, de uns anos para cá, da internet.
Já em 1975, na Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi”, o Papa Paulo VI reco-nhecia a urgência da presença da Igreja junto aos meios de comunicação social: «A Igreja se sentiria culpada diante de Deus se não empregasse esses poderosos meios, que a inteli-gência humana aperfeiçoa cada vez mais. Com eles, a Igreja “proclama a partir dos telha-dos” a mensagem da qual é depositária. Neles, encontra uma versão moderna e eficaz do “púlpito”. Graças a eles, pode falar às multidões».

Contudo, não se pode esquecer que jamais a mídia poderá substituir o relacionamento pessoal do sacerdote com seus fiéis. Ela vira um púlpito sem alma se o interlocutor agir sem empatia e convicção, já que a verdadeira comunicação só acontece de coração a coração…

Dom Redovino Rizzardo

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