“Estamos em um grande processo de transformação social e temos que nos preparar para essa nova realidade, pois temo que nossa sociedade se transforme numa população de pessoas excluídas e excludentes”, destacou o professor e presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), Márcio Poschman, na abertura das palestras do 4º Seminário Nacional sobre Cultura da Paz.
O evento, que é promovido pela Comissão Brasileira Justiça e Paz, organismo vinculado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem como tema “Economia e Direitos Humanos: garantir direitos para a promoção de uma cultura de paz”, começou hoje, 24, e segue até o final da tarde de amanhã, 25, na Casa de Retiros Assunção, em Brasília.
Segundo o presidente do IPEA, Márcio
, os Direitos Humanos e a crise econômica caminham lado a lado. Segundo informações do professor, a crise mundial está sendo sanada pelos países subdesenvolvidos, fato, segundo Márcio, inédito na história da humanidade. “Os países ricos não conseguem sair da crise e os pobres ou emergentes sanaram boa parte dessa crise, como é o caso da China, Índia e especialmente Brasil, o que é absolutamente fantástico, um fenômeno novo, nunca antes visto. O Brasil está diante de uma oportunidade de liderar o mundo a frente de uma grave dificuldade enfrentada pelos países ditos de primeiro mundo”.
O presidente do IPEA fez também uma análise da mudança de comportamento da sociedade brasileira, informando dados do Instituto projetando duas décadas à frente. “O Brasil está diante de uma mudança que nós não estamos conseguindo entender. Estamos deixando de ser um país jovem e nos tornamos envelhecidos. Nossos jovens estão morrendo cada vez mais cedo, o que não é bom para uma nação em franco crescimento. Além disso, houve uma queda enorme da fecundidade das nossas mulheres. Hoje o Brasil conta com 190 milhões de habitantes. Em 1990, projetamos que chegaríamos em 2030 com uma população de 270 milhões de habitantes. Refizemos os cálculos com os dados atuais e constatamos uma queda de 63 milhões de habitantes, chegando à marca de 207 milhões em 2030. Em 2008 tínhamos 3 milhões de idosos, em 2030 serão 30 milhões”, enfatizou.
Outro dado levantado pelo professor Márcio Poschman é sobre o distanciamento afetivo do brasileiro devido ao crescimento tecnológico. “Temos que reconstruir os laços humanos de afetividade. Temos tempo para ficar em frente ao computador durante 10 horas seguidas e não temos tempo de conversar com nossos parceiros (as), nem com nossos filhos, fato que nos torna uma sociedade robótica, sem sentimentos pelo próximo”.
Para a irmã Sueli Belloto, uma das participantes do seminário, o encontro mostra diferentes realidades do Brasil, refletindo também, segundo a irmã, o descaso dos governantes com os Direitos Humanos. “Vejo como muito grave a situação dos direitos humanos no país, principalmente da violência contra as crianças e jovens; pelos que estão nas fronteiras; pelas cidades que acolhem os presídios federais; pelos conflitos agrários; pela venda e consumo de drogas lícitas e ilícitas e pela corrupção dos governantes e legisladores”.
Segundo os representantes da Comissão Brasileira Justiça e Paz de Belém do Pará e da ilha de Marajó (PA), respectivamente, Steffen von Grapp II e irmã Rita Raboin, a questão dos Direitos Humanos no estado do Pará, especialmente na ilha de Marajó, é degradante. “Nossas mulheres, de 15 a 40 anos, trabalham até 72 horas semanais como empregadas domésticas. Muitas dessas são abusadas sexualmente pelos patrões. Temos um índice de 80% de desempregados em nossa região”, afirmou a irmã Rita. Já para o advogado Steffen, que cuida dos casos de abusos sexuais contra menores na ilha de Marajó, as violações dos Direitos Humanos são muito graves e estão descontrolados. “Sabemos que há uma rede de corrupção e exploração de menores em nosso estado. As crianças são abusadas e em sua maioria ficam em silêncio por serem pessoas carentes, sem condições, ou vivem em áreas sem estrutura mínima de atenção do estado brasileiro. Para se ter ideia da precariedade de condições e pobreza de recursos, 75% dos médicos do estado do Pará atuam na capital, Belém. O restante dos municípios fica a mercê dos poucos profissionais que se habilitam a atuar em áreas isoladas. É por esses motivos que estamos na luta contra essas desigualdades tão marcantes que nosso país nos proporciona”, ressaltou Steffen.
