Igreja Católica no Oriente Médio vai ao Sínodo

O Papa Bento XVI convocou os representantes da Igreja Católica no Oriente Médio para uma assembléia extraordinária do Sínodo dos Bispos, a ser realizada de 10 a 24 de outubro de 2010, em Roma. A preparação do “Sínodo do Oriente Médio” já está em andamento, com um Instrumento de Trabalho nas mãos dos membros das Conferências Episcopais diretamente interessadas.

São convocados os representantes das Igrejas Católicas de rito oriental, que têm um Direito canônico próprio (“sui iuris”), mas também os representantes do episcopado de rito latino daquela região. Diversas são as Igrejas Orientais Católicas, que têm sempre um rito próprio: Maronita, Greco-Melquita, Caldéia, Católico-Siriana, Armênia, Copta, Ucraniana… Entendamos bem: Não são “outras” Igrejas; são todas católicas e, junto com a nossa, de rito latino, formam a única Igreja Católica, unida ao Papa.

Há, portanto, uma grande variedade de expressões próprios dentro da nossa Igreja que, em geral, desconhecemos aqui entre nós, por sermos, na imensa maioria, de rito latino. Contudo, aqui mesmo, em São Paulo, temos as eparquias (ou dioceses) de rito maronita e melquita, e um exarcado (ou diocese) de rito armênio, com seus bispos próprios. Isso se explica pela presença numerosa de imigrantes libaneses e sírios. Em Curitiba, existe uma eparquia de rito ucraniano, para os católicos ucranianos presentes sobretudo no Paraná e Santa Catarina.

A Igreja de Cristo nasceu no Oriente Médio, mais exatamente, em Jerusalém. Foi lá que  o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos e Jesus os enviou ao mundo inteiro para anunciar o Evangelho a todos os povos. Desde o início, porém, a Igreja nunca teve vida fácil naquelas terras e assim continua até hoje. Na totalidade dos países da área, eles são uma minoria e, por vezes, uma ínfima minoria; e tendem a diminuir ulteriormente, por causa de problemas políticos, das discriminações e perseguições religiosas. Recentemente, alguém observava que, em geral, no Oriente Médio, os cristãos só têm duas opções: emigrar ou preparar-se para o martírio. De fato, ali não têm faltado mártires em épocas muito recentes.

Diante dessa situação delicada, o tema escolhido pelo Papa para esta assembleia especial do Sínodo dos Bispos evidencia imediatamente os grandes desafios a serem encarados pelo Sínodo: “Igreja Católica no Oriente Médio: Comunhão e testemunho. ‘A multidão dos que tinham crido tinha um só coração e uma só alma’ (At 4,32)”. O primeiro desafio é o de confirmar aqueles cristãos na fé e encorajá-los a viverem sua identidade, em meio a tantas dificuldades, nutridos pela Palavra de Deus e os Sacramentos da Igreja. Aquelas comunidades, herdeiras da pregação apostólica originária, perseveraram na adesão a Cristo e ao Evangelho de maneira muitas vezes heróica e têm uma riqueza espiritual e testemunhal imensa, que precisa ser valorizada; ela é preciosa para fortalecê-las diante das suas atuais provações.

Outro desafio a ser enfrentado é o da unidade entre as Igrejas sui iuris, que ali coexistem, junto com outras Igrejas cristãs não-católicas, como a Ortodoxa, para que possam oferecer um testemunho de vida cristã autêntica, alegre e atraente. O testemunho das comunidades cristãs, ainda que sejam pequenas, tem grande importância para a vida daqueles povos, onde convivem as três grandes religiões monoteístas: cristianismo, judaísmo e islamismo. E as religiões têm uma grande contribuição a dar para a convivência social, o desenvolvimento dos valores espirituais, a promoção da dignidade humana e a construção da paz; desta contribuição depende a própria credibilidade das propostas religiosas.

O Sínodo do Oriente Médio, certamente, fará aparecer a dor de tantas feridas abertas na vida daqueles povos e nas comunidades cristãs ali presentes. Mas também poderá ser uma grande ocasião para encontrar caminhos concretos para a paz e a convivência harmoniosa entre os filhos de Abraão, todos crentes no Deus único e verdadeiro.

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Tags: