Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá – PA
Desde o inicio do cristianismo, a eucaristia foi o sacramento primordial na vida dos cristãos, pois por ela as pessoas comungavam para viver melhor a sua vocação, a sua relação com o próximo e com Deus. Tanto para eles e elas como para nós, a eucaristia é o pão para participar um dia com o Senhor, na festa da vida eterna. Para isso somos chamados a viver a paz, o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. Vejamos em alguns padres da Igreja esta visão da eucaristia.
Santo Ireneu de Lião, Bispo dos séculos II e inicio do III, afirmou o dado de estultice, no caso aos gnósticos, pelo fato de que rejeitavam toda a economia de Deus, negando a salvação da carne desprezando a sua regeneração e declarando ser ela incapaz de receber a incorruptibilidade. No entanto se esta não se salva, nem o Senhor nos resgatou no seu sangue, nem o cálice eucarístico é comunhão de seu sangue, nem o pão que partimos é a comunhão com seu corpo. Santo Ireneu seguiu São Paulo afirmando que em Jesus temos a redenção por seu sangue e a remissão dos pecados (Cl 1,14).
A eucaristia é percebida como dom de vida eterna, porque como diz Santo Ireneu que se o cálice misturado e o pão que foi produzido recebem a palavra de Deus e se tornam a eucaristia, o sangue e o corpo de Cristo fortificam a substância da nossa carne, de modo que a carne torna-se capaz de receber o dom de Deus que dá vida eterna, pelo fato de ser alimentada pelo sangue e pelo corpo de Cristo. O nosso corpo feito de carne, nervos e ossos, e sendo alimentado pelo cálice que é o sangue de Cristo, é fortificado pelo pão que é o seu corpo. Assim como a cepa da videira se torna vinho e o grão de trigo, farinha para o pão, assim também aqueles que ouvirem a palavra de Deus, se torna eucaristia, isto é o corpo e o sangue de Cristo, da mesma forma os nossos corpos alimentados por esta eucaristia, após serem depostos na terra, ressuscitarão no seu tempo quando o Verbo de Deus os fará ressurgir para a glória de Deus Pai, porque ele dará a imortalidade ao que é mortal e a incorruptibilidade ao que é corruptível, pelo poder de Deus que se manifesta na fraqueza.
Santo Ireneu valorizou a eucaristia como alimento bendito e bebida de graça. Assim o Senhor ao tomar os pães que provinham da terra e dando graças, mudou a água em vinho, mostrava que o Deus que fez o céu e a terra lhe ordenou que produzisse frutos. No entanto é ainda Ele que nos últimos tempos dá ao gênero humano a benção do alimento e a graça da bebida, por meio de seu Filho, o Deus invisível que se tornou visível em Jesus Cristo.
Orígenes, autor cristão dos séculos II e III falou do significado espiritual da carne e do sangue de Cristo, porque toda a sua carne é alimento e todo o seu sangue é bebida. Toda a sua obra é santa e toda sua palavra verdadeira: por isso também a sua carne é alimento verdadeiro e o seu sangue bebida verdadeira.
Tertuliano, autor cristão dos séculos II e III tinha presente a vida da comunidade no norte africano. Ele dizia que esta constituía um só organismo que se nutria da sabedoria de uma única fé, de uma única disciplina, de um único vinculo forte de esperança. A comunidade rezava pelos imperadores, pelos seus funcionários, pelos magistrados, pela conservação da ordem, pela paz no mundo e para retardar a morte do universo. Ela também se reunia para juntos ler e comentar as Escrituras Sagradas, para que estas fossem motivos de admoestação no presente e no futuro e os ajudasse a interpretar o passado. A comunidade se alimentava seguramente a sua fé, levava em alto a sua esperança, aprofundava a confiança e ao mesmo rendia mais sólida a sua disciplina. A comunidade se colocava na presença de Deus e considerava tal juízo como antecipação do divino, dado que a culpa cometida seja assim tão grave de merecer a exclusão da comum oração, das reuniões e de toda a cerimônia sagrada.
Havia também a participação de anciões de provada virtude. Tinha entre eles uma espécie de caixa comum. Cada um trazia quanto quer e tinha condições a sua modesta contribuição mensal e cada um oferecia espontaneamente de modo que ninguém era obrigado a fazê-la. Eram estes os depósitos da comum piedade. Este dinheiro não era usado para banquetes ou para bebidas, mas para dar alimento aos necessitados, para socorrer meninos, meninas privados de sustentação dos pais, e também era dado aos idosos e náufragos. Além disto, a comunidade socorria em nome da religião os condenados, os deportados nas prisões. Era este afeto fraterno que os tornava solícitos uns com os outros, atirando sobre eles a advertência de muitos pagãos que diziam: “vejam, estes diziam, como se amam entre eles”
Tertuliano descreveu muito bem a eucaristia realizada na comunidade aonde o seu banquete era digno, pois a Deus se dá o louvor. Se a comunidade se sacia de noite, não se esquecia que se devia adorar a Deus e falavam-se bem entre eles, sabendo que Deus escutava as suas preces. Cada um deles era convidado a louvar a Deus segundo as Escrituras ou segundo a sua própria inspiração. Como ao inicio, também ao final do encontro eucarístico comunitário, eles elevavam a Deus uma oração.
Júlio Fírmico Materno autor cristão do século IV tinha uma noção muito importante da comunhão eucarística. Ele afirmou que outro é o alimento que concede a salvação e a vida, outro é o alimento que recomenda Deus ao ser humano, e a Ele o reconcilia; outro é o alimento que restaura os enfraquecidos, invoca os errantes, eleva os caídos, que doa aos moribundos as insígnias da imortalidade eterna. Procura o pão de Cristo, deseja o cálice de Cristo, porque, desprezando a fragilidade terrena, a essência do homem, sacie-se do alimento imortal. Com o seu banquete, Cristo nos chama de nova à luz e concede-nos o alimento celeste a tudo aquilo que em nós é mortal, de modo que o ser humano renasce para os benefícios divinos. Se no início, com o pecado humano houve a morte, com o pão que é o Cristo, é doada a vida imortal.
Nestes autores, percebemos a importância da eucaristia como pão para a vida eterna na qual é alimento que nos fortalece neste mundo e um dia na eternidade, junto com Deus Uno e Trino.
