60 anos do Movimento de Educação de Base (MEB)

Dom Armando Martín Gutiérrez
Bispo de Bacabal (MA)
Presidente do Conselho Deliberativo do Movimento de Educação de Base (MEB)

 

Os Bispos do Conselho Deliberativo do Movimento de Educação de Base – MEB, Organismo da CNBB, tem a grata satisfação de comemorar os 60 anos da criação deste Movimento que ao longo de décadas tem proporcionado a milhares de pessoas em condição de analfabetismo e marginalização, a alegria de saber ler e escrever e se inserir com dignidade na vida social.

O dia 21 de março de 1961 marca a fundação do MEB, fruto de um paciente caminho de experiências de educação popular e de evangelização. Em solenidade que contou com a presença do Núncio Apostólico D. Armando Lombardi, D. Jaime de Barros Câmara Presidente da CNBB, D. Helder Câmara Secretário da CNBB, D. José Vicente Távora, 28 arcebispos e bispos, no Palácio do Planalto o Presidente Jânio Quadros assinou Decreto que “dispõe sobre programa de educação de base e adota medidas necessárias à sua execução através de escolas radiofônicas a ser empreendida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil”.

Cabe-nos reconhecer a confiança que a CNBB tem depositado no MEB desde a sua fundação apoiando-o especialmente nos momentos mais difíceis de sua história; homenagear as educadoras e educadores e todas as pessoas que generosamente tem se dedicado ao longo dos anos e ainda se dedicam a promover a transformação social e a inclusão dos excluídos numa sociedade mais justa e solidária; agradecer a generosidade das entidades de cooperação, particularmente Misereor, que têm fomentado o acesso à educação ainda desigual entre a população mundial.

“A opção por um liberalismo exacerbado e perverso, que desidrata o estado quase a ponto de eliminá-lo, ignorando as políticas sociais de vital importância para a maioria da população favorece as desigualdades e a concentração de renda em níveis intoleráveis” (CNBB, Mensagem ao povo brasileiro, Aparecida — SP, maio 2019). O sofrimento quotidiano das famílias necessitadas nos desafia para uma renovada opção pelos pobres, como caminho do encontro com Cristo (Mt 25, 35-45) e entrada no Reino de Deus que “derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias” (LC. 1, 52-53).

A globalização da indiferença, a exploração indiscriminada da natureza, assim como a convivência entre culturas e crenças diferentes e as tecnologias da comunicação lançam novos desafios para o MEB hoje e para a educação em geral. Requerem de educadoras e educadores não somente novas competências, mas um renovado espirito de diálogo e, sobretudo, de testemunho de sua fé cristã para a construção de novas aldeias educativas onde o essencial é “uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita” (Fratelli Tutti 1).

As jovens gerações que querem construir um mundo melhor e serem protagonistas de mudança, encontram em Paulo Freire um mestre e no MEB um movimento que as reúne em “núcleos de base” a serviço das pessoas mais pobres, na promoção dos seus direitos e no compromisso pela transformação social, seguindo o caminho de Jesus que veio anunciar a boa nova do Reino de Deus aos humildes e feridos da humanidade.

Nesta passagem dos 60 anos, colhem-se os frutos de um trabalho generoso para a Igreja e para a sociedade, quando inúmeras pessoas que foram alcançadas por essa missão, tornam-se promotoras de novas iniciativas de transformação. Convocamos a todos e todas para que o MEB continue testemunhando, pela educação popular, a ponta avançada de uma “igreja em saída” que evangeliza e uma força em diálogo com o mundo, inserida no percurso de “Reconstrução do Pacto Global pela educação”, lançado com insistência pelo papa Francisco.

A visão da Páscoa de Cristo que se aproxima espalha sua luz de vitória sobre as trevas da Pandemia Covid 19 que assola o Brasil e nos convoca a um pacto inegociável pela vida para criarmos juntos as condições de uma mundo melhor, na certeza de que Cristo é “o Caminho a Verdade e a Vida” (Jo 14,6) e garantia de vida plena para a humanidade.

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