Dom Romualdo Matias Kujawski
Bispo de Porto Nacional (TO)
“Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque todos vivem para ele.” (Lc 20, 38)
A realidade dessa pandemia nos assusta. Podemos perceber que as pessoas têm se perdido com própria existência e me vem ao coração essa pergunta: O medo da morte em decorrência da Covid-19 nos aproxima ao Senhor da Vida?
Caros Irmãos e Irmãs,
Passando a experiência de ser infectado pelo Corona vírus, comecei colocar numerosos pensamentos em minha mente: caixão, decomposição do corpo, a certeza de que tudo passa e também a cruz de Cristo. A cruz não me consolou, pelo contrário, gerou medo, e comecei a pensar sobre a morte, lembrando também a morte “absurda” das vítimas inocentes das guerras, de qualquer tipo da violência e explorações.
Será se Deus se esqueceu de nós? De repente, encontrei uma luz durante a leitura do livro do Papa Bento XVI, “Jesus de Nazaré” , especialmente na reflexão sobre a oração do Pai Nosso. Em certo momento, até comecei a chorar.
– Você se esqueceu, Romualdo, o que aprendeu nos estudos de teologia, que o ser humano somente se compreende na perspectiva de Deus? E que a vida se realiza quando se refere em relação a Deus e fazendo bem aos outros?
De fato, é necessário cair no próprio chão existencial para se descobrir a simplicidade: o Reino de Deus é o próprio Cristo. Passou o pesadelo! Ele mesmo morreu na cruz, de uma vez por todas! E essa ação foi também para mim.
Não importa a caixão e a decomposição do corpo! Jesus, vestido de branco, sempre me procura, me chama pelo nome, da mesma forma que chamou pessoalmente Maria Magdalena, quando no ímpeto da surpresa, ela gritou: “Rabbuni” (Jo 20,16).
Mesmo em meio a essa grande tempestade que estamos atravessando, eu também grito, com alegria e força: “Rabbuni”. O sentimento que me vem é o de extremo respeito, a ponto de não ter a coragem de tocar o meu Senhor.
Aí percebo a grande bondade de Deus, que me elegeu para o sacerdócio, me dando a sublime permissão de tocar o Seu Corpo Sacramentado, na Eucaristia! Às vezes me envergonho de não valorizar como devia cada momento desses, que é único!
Recordemos que nós, cristãos, temos uma fé pascal! Não ficamos parados nas dores da Sexta-Feira Santa. O Senhor nos convida à alegria da ressurreição! O Aleluia do Vitorioso me transformou! seja feita a Tua vontade para sempre!
Pergunto a você: Qual é a sua experiência com Jesus?
Irmãos e Irmãs, Jesus é o Senhor da vida e não da morte. Sua silenciosa presença quer nos abraçar sempre, com amor, nosso modo de pensar, sentir, existir e viver. O Senhor está sempre conosco, não nos abandona. Ele nos carrega em Seus ombros, conhecendo profundamente nossos corações, sabendo de nossas limitações e de todas as nossas feridas, principalmente aquelas produzidas por essa terrível pandemia.
Encerrando essa reflexão, por ocasião da celebração da Páscoa, convido-os a rezar a oração que o próprio Senhor Jesus no ensinou: “Pai nosso, que estais nos céus” … (Mt 6,9-13).
Cristo ressuscitou verdadeiramente! Aleluia!
Abençoada Páscoa a todos!
