Missão do assessor eclesiástico de pastorais, movimentos e organismos

Dom Mário Spaki
Bispo de Paranavaí (PR)

 

É comum os agentes de pastorais, movimentos e organismos dizerem que precisam de alguém que os acompanhe e os oriente nas reflexões e decisões tendo, por assim dizer, o olhar e o acompanhamento da Igreja para com aquele grupo.

O assessor eclesiástico é designado pelo Bispo Diocesano para uma missão, representando a hierarquia da Igreja junto ao grupo confiado aos seus cuidados, a fim de assegurar que o grupo não enverede por erros doutrinais, não se desarticule e nem desanime diante de dificuldades.

O assessor eclesiástico atua junto, instruí e presta serviço a um grupo específico. Ele será sempre um motivador para o crescimento de todos na fé, no espírito de serviço, cobrando resultados com mansidão e firmeza, atento aos sinais dos tempos, imprimindo uma pegada missionária conforme a caminhada da Igreja nos dias atuais.

Deverá conjugar, na medida do possível, entusiasmo e alegria, serenidade e seriedade, paciência e habilidade, simplicidade e profundidade, discrição e qualificação, testemunho de comunhão e amizade, assumindo claramente o compromisso com o Evangelho, com os pequenos e esquecidos. Nas atividades pastorais, o assessor vigiará e orientará seu grupo a que sempre atue em sintonia com o Plano Diocesano de Pastoral.

Além de ser o olhar da Igreja sobre o grupo assessorado, o assessor eclesiástico também representa o grupo junto à Igreja, reportando a caminhada realizada[1]. Uma exigência fundamental para o assessor é conhecer em profundidade a pastoral, movimento ou organismo. Para tanto, espera-se que estude os seus documentos fundamentais, como também qual é a vocação/missão de tal grupo dentro da comunidade eclesial e da sociedade.

O termo ‘assessor’ na terminologia pastoral, parece ter sido a tradução brasileira para os ‘peritos – teólogos’ que acompanharam os bispos no Concílio Vaticano II. Os bispos dialogavam sobre os passos que a Igreja deveria dar e os peritos os ajudavam a conciliar ideias divergentes e a transmiti-las em linguagem teológica. Consequentemente, o assessor é uma pessoa com um conhecimento específico naquela determinada área que acompanha, capaz de oferecer parâmetros teológicos fundamentando as decisões tomadas.

Assim, a importância do assessor vai além das responsabilidades básicas assumidas como a presença nos momentos importantes, a condução de momentos de espiritualidade, celebração de missas, palavras de orientação à coordenação e a promoção do grupo na comunidade, diocese e sociedade.

Portanto, quando falamos de assessor eclesiástico, referimo-nos a uma pessoa que dá segurança nas tomadas de decisões, após apurado discernimento de escuta sinodal, isto é, após um caminho feito junto. O assessor eclesiástico não toma decisões sozinho em nome do grupo, nem determina autoritariamente o percurso a ser feito, mas ajuda o grupo a discernir e decidir, interagindo e oferecendo o quadro da realidade mais ampla ou mostrando as possíveis consequências de determinada decisão.

É evidente que para tanto é necessário que ele seja um apaixonado por aquela realidade eclesial a ele confiada para poder desempenhar um bom serviço.

É, no entanto, um contrassenso quando o assessor eclesiástico se torna um peso para o grupo e trava sua caminhada ou então quando manifesta desinteresse, descaso e deixa as ovelhas à mercê do acaso. Expressões como: “seria melhor que não tivéssemos assessor”; “ele não ajuda em nada” ou “não adianta contar com ele”, revelam que o assessor pode não estar desempenhando a missão que lhe foi incumbida. A situação fica pior quando o assessor não ajuda e a coordenação é fraca.

Se não é pedido ao assessor que se envolva nas atividades constantes do grupo, também não se pode imaginar um assessor distante, ausente, que não responda às mensagens, que não retorne às ligações recebidas, que “se esconda”, sempre inventando desculpas, que não marque presença nos momentos importantes de decisão, encontros e celebração.

Uma das razões prévias que levou a isso pode estar na escolha errada de um assessor para uma determinada pastoral, quando não se leva em conta a formação do clérigo, a sua linha de espiritualidade e também o seu enfoque pastoral. A experiência tem demonstrado que dificilmente se tornará um bom assessor eclesiástico quem previamente nutre aversão àquela realidade que assessorará. Então, antes de torná-lo assessor é importante observar como o clérigo acolhe, dialoga em sua paróquia e ação pastoral com aquela realidade à qual se deseja vinculá-lo. Cuidado com a frase famosa: “sobrou isso para você” ou “você não tem nada – fique ao menos com isso!”

Há muitos casos, no entanto, em que o assessor no momento da nomeação não possui afinidade e nem conhecimento, mas corre atrás, reinventa-se e dá conta do recado.

Enfim, para poder realizar um bom acompanhamento é oportuno que o assessor não acumule funções de assessoria. E devemos ressaltar como é preocupante também quando um ministro sagrado não aceita realizar nenhuma assessoria, sobrecarregando aqueles que são disponíveis para servir em tais âmbitos.

Que em nenhuma comunidade, paróquia ou Diocese deixe-se de agradecer convenientemente aos assessores que se dedicam ou se dedicaram com grande amor à causa que abraçaram. Quase sempre um grupo bem-sucedido na Evangelização tem junto a si um efetivo assessor eclesiástico. Se a paróquia é cara do padre, de igual forma, tantas vezes, o grupo é a cara do assessor eclesiástico.

[1] É importante ressaltar que ao representar um determinado grupo em Conselhos de Pastoral, isso sempre implica dois movimentos: recolher do grupo os anseios, as alegrias, as dificuldades e os testemunhos e os levar para apresentar na reunião do Conselho. Depois da reunião do Conselho, realiza um movimento inverso: informa aos membros do grupo aquilo que foi dialogado e decidido na reunião do Conselho. Infelizmente tem ocorrido que coordenadores e assessores de pastorais e movimentos não cumprem o que foi descrito acima e, dessa forma, as reuniões dos Conselhos – que deveriam ser expressão da caminhada sinodal da Igreja – se tornam meramente reuniões das pessoas presentes, sem envolvimento e implicação dos grupos que tais pessoas representam.

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