Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
Este Domingo nos leva à Terra de Jesus, seu lugar de origem, onde vai anunciar o Deus do Reino e enfrentar o preconceito dos seus próprios vizinhos. Já na experiência de Ezequiel, tínhamos nos deparado com os obstáculos, e resistências do povo exilado à missão do Profeta, e Deus insiste na permanência da atuação do seu enviado porque, mesmo sendo um povo rebelde, saberia da presença do Profeta no meio deles.
No caso de Jesus, o bairrismo e a visão estreita de quem acredita conhecer tudo sobre uma pessoa, ignorando o mistério e a transcendência, e desconhecendo a sabedoria do Pai revelada em Cristo, causaram primeiro o deboche e a ironia que se transformou prontamente em raiva e ódio homicida. Jesus, com maturidade observa: Não se rejeita um profeta mais que na sua própria Terra. É, de veras, uma barreira intransponível, que acontece com as famílias, colegas e amigos que, por serem tão próximos, desacreditam que alguém do seu meio tenha alguma coisa relevante a propor. Desconsidera-se, assim, a originalidade e singularidade de cada ser humano e sua imagem divina. Ao tratar-se de Jesus, não se aceita a encarnação, sua humanidade condividida com a realidade de todos/as.
Não é possível, ainda hoje, engolir um Salvador, filho de carpinteiro, igualzinho a nós menos no pecado, um Deus vizinho e amigo que compartilha nossas dores e esperanças, um Deus que toma posição pelos pobres e se rodeia de pessoas de má fama e desqualificadas. Jesus é o Profeta do Pai misericordioso, que veio gerar um relacionamento novo, amoroso e fraterno, uma Aliança de Paz e justiça para toda a humanidade, em especial os descartados e o povinho ou ralé desprezada. Cuidado com uma espiritualidade de efeitos especiais, de portentos e milagres por atacado, que não consegue ver a ação de Deus e encontrá-lo na simplicidade e no chão da vida do trabalho, das lutas cotidianas e das pequenas esperanças da sobrevivência. Que saibamos reconhecê-lo, hoje, nos corpos dos doentes e famintos, nas pessoas aflitas e desconsoladas, para não cairmos na soberba e presunção dos seus conterrâneos que foram incapazes de enxergar a visita do Deus amor nas suas vidas. Deus seja louvado!
