Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Estamos às vésperas do Natal, ao celebrarmos o quarto domingo do advento. Dentro de poucos dias estaremos celebramos a alegria de ter o Senhor que vem habitar no meio de nós, data escolhida pela Igreja há muitos séculos para celebrar o nascimento do verdadeiro Sol da Justiça, o Sol nascente que nos veio visitar, o nascimento daquele que é a Luz do Mundo, Jesus Cristo Nosso Senhor. Estas festas nos fazem refletir sobre a realidade do Amor de Deus, sobre até que ponto Deus amou o mundo, enviando seu Filho para morar no meio de nós, para estar conosco em nossa realidade e em nosso mundo como ele é, como todas as suas alegrias, tristezas e problemas.

Estamos celebrando o Mistério do Emanuel, Deus conosco e que veio habitar no meio de nós, e que tentam ofuscar com as luzes artificiais do Natal. Não há problema algum em celebrar o Natal. Só não podemos que a superficialidade consumista ofusque o motivo desta celebração, o amor de Deus que veio morar no meio de nós. Daí vem o apelo do Papa em seu documento sobre o presépio: os sinais externos que não se podem perder.

O último domingo do Advento, já dentro da Semana de Preparação próxima para o Natal, apresenta-se para nós como oportunidade de nos perguntarmos sobre como estamos nos preparando para a celebração do Natal, tanto em nossa morada interior, que é nossa própria vida, como também nossa casa exterior.

A Liturgia deste quarto domingo do Advento nos questiona sobre os sinais que nos colocam diante de uma preparação mais imediata em relação à vinda do Senhor. Isaías, na primeira leitura  (Is 7,10-14) nos adverte:

O Senhor falou com Acaz, dizendo: ‘Pede ao Senhor teu Deus que te faça ver um sinal, quer provenha da profundeza da terra, quer venha das alturas do céu’. Mas Acaz respondeu: ‘Não pedirei nem tentarei o Senhor’. Disse o profeta: ‘Ouvi então, vós, casa de Davi; será que achais pouco incomodar os homens e passais a incomodar até o meu Deus? Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel.

A Tradição da Igreja viu cum uma das interpretações dadas a esta passagem como uma referência à Virgem Maria e sua concepção virginal antes, durante e depois do parto. Jesus é o verdadeiro Emanuel, o Verbo que se faz carne e vem habitar no meio de nós. Se tivemos esses sinais manifestos na história da salvação, devemos também procurar reconhecer os sinais que estejam presentes no hoje da nossa história, o Senhor que está conosco hoje e nessas circunstâncias concretas.

Ainda que tenhamos ao nosso redor tantas outras vozes e tantos outros supostos sinais que tentem anular o brilho da Luz de Cristo, que vivamos intensamente este grande dom, do Senhor que vem ao nosso encontro e que somos chamados a acolher e experimentar sua presença. Não estamos sozinhos neste mundo: Deus está conosco, Ele é o Emanuel. A proximidade de Deus faz com que a Igreja esteja e seja também próxima a tantos irmãos que precisam de cuidado, principalmente dos que mais passam por lutas, dificuldades e que mais sofrem. Que percebamos os sinais do Deus Conosco e que sejamos essa presença próxima em meio aos homens, através de gestos concretos de fraternidade e paz.

Já na segunda leitura (Rm 1,1-7), Paulo, nos aponta para a figura de Jesus Cristo:

Eu, Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação, escolhido para o Evangelho de Deus, Esse Evangelho, que Deus havia prometido, por meio de seus profetas, nas Sagradas Escrituras, e que diz respeito a seu Filho, descendente de Davi segundo a carne, autenticado como Filho de Deus com poder, pelo Espírito de Santidade que o ressuscitou dos mortos, Jesus Cristo, Nosso senhor. É por Ele que recebemos a graça da vocação para o apostolado, a fim de podermos trazer à obediência da fé todos os povos pagãos, para a glória de seu nome.

Eis nossa missão: fazer Cristo presente e próximo aos homens, ser o Cristo que passa, para levar os homens a uma experiência viva de fé.

Ao falar da correspondência dos homens aos planos estabelecidos por Deus, é que vamos neste domingo, contemplar o sim dado por José aos planos de Deus. No dia 08 de dezembro, na celebração a Imaculada, contemplávamos o sim de Maria. No Evangelho deste Domingo (Mt 1, 18-24), contemplamos a participação do humilde José no projeto de Salvação estabelecido por Deus:

A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo. Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: ‘José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados’. Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco.’ Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa.

O sim de José foi concreto, sendo realizado ao acolher Maria como sua esposa. Mais do que em palavras, um sim realizado por gestos. O projeto de Deus para salvação da humanidade vai se fazendo contando com gestos concretos de sim realizados por meio de seus filhos. Assim devemos ser também nós ao longo de toda a nossa vida concreta: respondendo o sim por meio de palavras, mas também por meio de gestos concretos como o de José e o de tantos homens e mulheres que entregaram sua vida aos planos de Deus.

Também hoje necessitamos de pessoas que assumam sua missão, assim como José. Na aceitação da missão está o sentido de nossas vidas, sabendo que o Senhor está conosco e sustenta as nossas vidas. Nos próximos dias, seja na vigília de Natal do dia 24, seja na celebração do Santo Natal no dia 25, muitas celebrações vão nos recordar e atualizar em nós as maravilhas do Amor de Deus, que precisam ser espalhadas a todos os homens. Natal feliz é Natal com Cristo. Viver o Natal é encontrar-se com Jesus Cristo presente no meio de nós, assumindo nossa vida, nossas dores e nossa realidade. Mesmo que façamos festas com nossos amigos e familiares, o centro e o motivo das festividades é Cristo.

Não deixemos de participar em nossas comunidades ou nos lugares em que nos encontrarmos. Vivamos intensamente aquilo que permanece para sempre, o encontro com o Senhor. Que tenhamos um Natal feliz com Cristo. Que a preparação que o advento nos proporcionou nos coloque realmente mais dispostos a acolher o mistério de Deus. Deus é conosco! Feliz Natal a todos.

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