O Nascimento da Virgem Maria

Dom Carlos José

Bispo da Diocese de Apucarana (PR)

“Todas as gerações me proclamarão Bem Aventurada”! (Lc 1, 48)
O dia 08 de setembro marca a importante celebração da Natividade da Virgem Maria. Várias datas tornam este nono mês do ano um mês especial. No primeiro dia de setembro, celebra-se o Dia Mundial de Oração pelo cuidado da Criação, dando sequência até o dia quatro de outubro, dia de São Francisco, à reflexão sobre o Tempo da Criação.
Setembro também é o mês dedicado à Bíblia. Há cinquenta anos a Igreja no Brasil celebra, de forma solene, a Sagrada Escritura, sendo São Jerônimo, comemorado em 30 de setembro, o tradutor da Vulgata. Mês que marca, em nosso hemisfério, o início da primavera.
Setembro é, portanto, um mês que aponta para a esperança. Esperança que brilhou esplendidamente, com mais força, quando do nascimento Daquela escolhida e preparada pelo próprio Deus para ser a Mãe do Salvador. Tão bela e significativa é a celebração da Natividade de Nossa Senhora!
Do nascimento da gloriosíssima Mãe de Deus, Maria, Senhora nossa, a Santa Igreja tem, em uma antífona, estas palavras: “Vossa natividade, ó Virgem e Mãe de Deus, trouxe gozo e alegria ao mundo inteiro. Porque de vós nasceu o Sol de justiça, Cristo nosso Deus, o qual, desfazendo a maldição, debaixo da qual estávamos compreendidos, lançou sua copiosa bênção sobre nós e, vencendo e matando a morte, nos deu a vida sempiterna e perdurável”.
Com efeito, festejando solenemente o nascimento da Virgem Maria, a Igreja canta a aurora da Redenção, a aparição, no mundo, Daquela que nasceu para ser a Mãe de Deus. Recordando tudo o que anunciava este nascimento, a Igreja exulta e pede a Deus um aumento de graças e de paz, trazidas aos homens pelo Mistério da Encarnação.
Essa festa era muito antiga no Oriente, e parece ter sido introduzida no Ocidente no final do século VII pelo papa Sérgio I, que fixou o dia oito de setembro para sua celebração. O documento mais antigo que a comemora vem do sexto século. São Romano, o grande lirista eclesiástico da Igreja Grega, compôs para a Virgem Maria um hino que é um esboço poético do evangelho apócrifo de São Tiago.
Esse Santo, nativo de Emesa na Síria, compôs seus hinos entre os anos 536-556, levando a supor que a festa da Natividade tenha se originado em algum lugar na Síria ou na Palestina, no início do século VI quando, após o Concílio de Éfeso, o culto da Mãe de Deus foi intensificado pela influência dos evangelhos apócrifos. Detenhamo-nos hoje na celebração desse estupendo nascimento que deixa nosso coração repleto de paz, alegria e esperança.
A sempre tão necessária esperança, que nasce do Coração Imaculado da Virgem Maria, ainda mais em dias tão intensos de pandemia, guerras e ataques à dignidade humana, que é quando mais precisamos do alivio e conforto da Mãe de Deus. Em nossa Catedral Diocesana, pelo segundo ano consecutivo, celebramos a SEMANA DA NATIVIDADE DE MARIA, com missas especiais, adoração e suplicas, especialmente pela paz no mundo e pelo fim da pandemia.
O famoso orador, Pe. Antônio Vieira, jesuíta do século XVII compôs o famoso sermão sobre tão bela data. “Quereis saber quão feliz, quão alto é e quão digno de ser festejado o Nascimento de Maria? Vede o para que nasceu. Nasceu para que d’Ela nascesse Deus. (…) perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança.
Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes, para Senhora da Paz; os desencaminhados, para Senhora da Guia; os cativos, para Senhora do Livramento; os cercados, para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho; os navegantes, para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos, para Senhora da Graça; e todos os seus devotos, para Senhora da Glória.
E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus“. Assim com fé, esperança e devoção celebremos o Nascimento Daquela que, ouvindo a Divina Palavra, se encantou e, seguindo o Divino chamado, encanta a nossa tão necessária esperança.

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