Dom Carmo João Rhoden
Bispo Emérito De Taubaté (SP)
Evangelho do 4º domingo do tempo comum (Lc4,21-30). Para compreende-lo, não podemos esquecer o do 3º domingo (Lc4,14-21). Eu o suponho conhecido ou sugiro lê-lo.
1. Diante do Deus amor, todos tem vez, mesmo os sem religião, doentes, pecadores, cegos, surdos, pobres e estrangeiros. Para isso, Jesus veio, enviado pelo Pai e ungido pelo espírito. Cumpriu sua missão amando, servindo e vencendo pela ressureição a própria morte.
1.1. Por isso, o Deus dos cristãos é Deus do amor e da misericórdia. Não condena, mas salva. Ele não é monopólio dos de católicos, nem dos evangélicos, pois quando, Jesus se encarnou, o mundo era judeu ou pagão. Sugiro então a todos, ler ou ouvir o evangelho de hoje (Lc4,21-30), com muita atenção e reverência.
1.2. O presente evangelho não é crônica, nem extrato de uma biografia de Jesus. É catequese de Lucas, dos anos oitenta. Contudo algo, no texto de hoje, não se explica facilmente. Os presentes na sinagoga, como ouvintes, abrem seus ouvidos, fixam seu olhar no rosto de Jesus, mas fecham os seus corações, para Ele, rejeitando-O. No início, chegam até aplaudi-Lo, para logo depois, atentarem contra Sua vida. Querem até matá-Lo. Por que? Não era o Messias que desejavam: valorizava, demais outros povos, até pagãos, pois, para Ele, não só os israelitas eram o povo de Deus, mas todos, o eram. São-no. Com isso, se irritaram, reagiram e se tornaram sarcásticos. Veem em Jesus, apenas, o filho de José e Maria.
Parece que Lucas, quer deixar bem claro, desde o início, qual é o fim de Jesus: sua morte. Veio para os seus, e estes, não só, não o acolheram como pessoa, mas o rejeitaram também como Messias (Jo1,14), pois sua mensagem lhes parecia inaudível e incompreensível.
- E hoje, como estão as coisas em relação a Jesus e seu evangelho? Muitos o seguem amorosamente, enquanto, há, também, os que se tornaram, totalmente, indiferentes e outros até o rejeitam. Alguns aceitam parcialmente seus milagres, pois, servem para incutir esperança, nos que sofrem, mormente, os mais ingênuos. Sabem que outrora, para nascer, não havia lugar para Ele na pousada, depois, nem no templo, e por fim, sobrou-lhe a Cruz. Foi julgado à revelia, condenado como perigoso e trocado por Barrabás. Foi eliminado. Hoje em dia, em muitos lugares, é até proibido anunciá-Lo. Mesmo o crucifixo, às vezes, incomoda. Deve ser retirado, pensam os defensores do secularismo, ou ateus. Não bastando isso, surgem ainda na pós-modernidade os sincretistas, apresentando um Messias, para todos os gostos e paladares: um Cristo genérico. Acontece, então, muito culto e às vezes, pouco testemunho. Para os racionalistas, basta a razão. “Penso, longo existo” (Descartes). Penso, logo resolvo tudo. Dali, para o penso, logo não preciso de Deus, é fácil. Este, já, era. Criaram então, entre outros Nietzsche, Sartre, ou então Hitler, Mussolini, Stalin, ou Mao Tsé-Tung. Vieram as grandes guerras. Depois, angústia, vazio e revolta. Assim, o “mal-estar da civilização” (Freud), continua, ainda hoje. Jesus Cristo, outrora, perseguido deixou os seus inimigos na sinagoga, furiosos e seguiu seu caminho. Os discípulos, hoje, perante seus problemas, seguem ainda o caminho de Jesus Cristo? Como o seguem? Vivendo e testemunhando o evangelho? Não me parece. Por isso, é preciso, voltar a Cristo “zurück zu Cristus”. Lembro, então, para finalizar, a afirmação de Ghandi, “amo o cristianismo, mas detesto os cristãos, pois dizem e não fazem”. Ele tinha razão? Tinha a, ao menos, parcialmente. Afirmo-o, sem tornar-me, com isso, injusto ou pessimista.
