Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)

Caros amigos, enfrentamos uma realidade marcada por grandes mudanças que afetam profundamente nossas vidas. Vivemos tempos difíceis, tanto no âmbito social como econômico e político. Muitos, diante da situação desesperadora em que se encontram, são movidos à desesperança e à descrença em um mundo melhor. Portanto, é preciso assumir a responsabilidade de gerar uma transformação radical das estruturas.

No compromisso de construir no mundo presente o Reino de Deus (cfr. Gaudium et spes, 39), “a Igreja testemunha ao homem, em nome de Cristo, a sua dignidade própria e a sua vocação para a comunhão das pessoas, e ensina-lhe as exigências da justiça e da paz, conformes à sabedoria divina” (Catecismo da Igreja Católica, 2419).

O panorama hodierno é de uma época de mudanças, principalmente no campo cultural. A concepção integral do ser humano está esfacelada. Subjuga-se a relação dos homens entre si, com o mundo e com Deus à supervalorização da subjetividade individual, imperando, deste modo, o individualismo e o imediatismo. O bem comum dá lugar à realização imediata dos desejos pessoais e à criação de novos e, muitas vezes, arbitrários direitos individuais (cfr. Documento de Aparecida, 44).

O Papa Francisco, em ocasião da abertura do ano do laicato, exortou, neste momento particular da história de nosso país, aos cristãos brasileiros a assumirem “a responsabilidade de ser fermento de uma sociedade renovada onde a corrupção e a desigualdade deem lugar à justiça e solidariedade”. Este processo de renovação exige do cristão não só o compromisso de anunciar a Verdade evangélica, mas de vivê-la no exercício de suas responsabilidades sociais.

A busca pelo bem comum é dever de todo cristão. Por isso, consciente de sua responsabilidade, deve contribuir eficazmente nas tarefas cotidianas para o desenvolvimento da vida cultural, econômica e social da comunidade civil a que pertence. Mas também, aqueles que são – ou podem tornar-se – aptos devem assumir a difícil e muito nobre arte da política. Procurando sempre exercê-la sem pensar no interesse próprio ou em vantagens materiais. Procedendo com inteireza e prudência contra a injustiça e a opressão, contra o arbitrário domínio de uma pessoa ou de um partido, e contra a intolerância (cfr. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 189).

Diante da situação política calamitosa na qual se encontra o Brasil, cabe perguntarmo-nos: de quem é a culpa? Qual a nossa participação ou contribuição? É fácil pôr a culpa em terceiros; mas o que eu faço? Não podemos nos esquivar da responsabilidade comum de promover o bem comum.

A política não pode ser vivida como um meio de alcançar alguma vantagem particular. Toda a ação política, seja a de governar, seja a de eleger os governantes, deve ser praticada em função do bem de toda a nação. Os cristãos, ensina o Concílio Vaticano II, por sua vocação especial e própria na comunidade política, são obrigados a dar exemplo de responsabilidade e dedicação pelo bem comum, dando testemunho da harmonia que há entre o exercício da autoridade e a liberdade do voto não movido por interesses pessoais, a iniciativa pessoal e a solidariedade do inteiro corpo social, a oportuna unidade com a proveitosa diversidade. (cfr. Gaudium et spes, 75). Precisamos, pois, tomar consciência de que depende de nós a boa orientação das forças culturais, políticas e sociais, para alcançarmos a superação da triste realidade vivida por nós.

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