Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira
Bispo da Prelazia de Itacoatiara (AM)
Dia 15 de maio entre os que serão canonizados pelo Papa Francisco no Vaticano está o Padre Justino Russolillo, Fundador da Congregação Religiosa Sociedade das Divinas Vocações – Vocacionistas, da qual eu sou membro desde fevereiro de 1985.
Decidi partilhar neste artigo um pouco de sua história e a relação direta do nosso Carisma com o Serviço Vocacional na Igreja.
São Justino e sua vocação
São Justino Russolillo descobriu desde cedo o chamado de Deus para ser padre. De família católica sentia vontade de servir a Deus e a seu Reino como padre. Filho do pedreiro Luís Russolillo e da doméstica Josefina Simpatia, teve dificuldades de entrar no Seminário, porque naquela época, no início do século XX, a família pagava para os filhos entrarem no seminário e estudarem para serem padres.
A família de Justino não tinha estas condições financeiras. Buscaram ajuda em benfeitores, mas não receberam apoio. A mãe Josefina, no entanto, não desistia, muito menos o adolescente Justino. Sua mãe lhe disse certa vez diante destas dificuldades econômicas: “Não temas meu filho. Sua mãe te mandará ao seminário, mesmo que tenha de penhorar os olhos”.
Em uma rede de solidariedade entre familiares e paroquianos da Paróquia São Jorge em Pianura, o sonho de Justino de entrar no Seminário e poder ser padre começou a ser realizado. Este seu sonho começou a ser realizado em 20 de setembro de 1913 quando foi ordenado padre na Catedral de Pozzuoli. Esta experiência vivida por Justino para entrar no Seminário, foi a “sarça ardente” (cf. vocação de Moisés em Ex 3, 2) que Deus escolheu para chamar Justino para ser o Fundador de uma Congregação Religiosa, para trabalhar pelas vocações, especialmente com os jovens pobres, que como ele, que sentissem o chamado de Deus para serem padres e não tinham condições de pagar o Seminário. E assim foi sendo germinada em sua mente e em seu coração o Carisma da Sociedade das Divinas Vocações – Vocacionistas.
O Carisma Vocacionista
“O Servo dos Santos tem sempre como sua obra central e principal o cultivo e o apostolado, a procura e o serviço das divinas vocações para o clero secular e regular” (Ascensão, 749). O Servo dos Santos era o nome que o então, Padre Justino, pensava em dar à Congregação Vocacionista, mas não foi aceito, na época, por Roma. Por isto ele mudou o nome inicial e pediu a aprovação da Santa Sé com o nome de Sociedade das Divinas Vocações.
O Carisma da Sociedade das Divinas Vocações é o de promover a santificação universal, procurando e cultivando as vocações para a Igreja, especialmente para a Vida Religiosa e Sacerdotal, através de sua obra mais específica o Vocacionário, casa de acolhimento de jovens que desejam terminar de fazer o discernimento vocacional.
Por desejo do Fundador São Justino Russolillo, o Vocacionário deve ser gratuito, tanto no sentido financeiro quanto no sentido vocacional. No sentido financeiro porque nenhum jovem paga para morar no Vocacionário. No sentido Vocacional porque nenhum jovem entra no Vocacionário para ser Vocacionista, mas para terminar de descobrir e assumir a sua vocação, seja ela qual for.
A gratuidade do Vocacionário, assim foi definido por São Justino Russolillo: “Com os seus Vocacionários, o Servo dos Santos, afastando-se de toda e qualquer concorrência com outras obras semelhantes, deve ajudar os filhos do povo, desprovidos de meios financeiros, e aqueles que ainda não foram bem orientados para um determinado instituto religioso, até que não tenham feito a sua opção” (Ascensão nº 751). Aparece aqui a gratuidade financeira: “ajudar os filhos do povo, desprovidos de meios financeiros” e a gratuidade vocacional: ajudar “aqueles que ainda não foram bem orientados para um determinado instituto religioso, até que não tenham feito a sua opção”.
Vejamos ainda outra afirmação de nosso Santo Fundador na Ascensão, nº 739: “O servo dos Santos (Vocacionista), em toda a sua ação na santa Igreja, está essencialmente a serviço espiritual dos sagrados pastores, dos diversos institutos religiosos e de todo o povo fiel, uma vez que estes são os santos do Senhor na Igreja militante”. Portanto, o Vocacionista existe para servir à Igreja, à todas as Vocações: os Ministros Ordenados (Pastores), os Consagrados e as Consagradas (Institutos Religiosos) e os Leigos e as Leigas (Povo fiel).
Como exemplo desta gratuidade vocacional dos Vocacionários Vocacionistas, no Vocacionário do Brasil, aproximadamente, desde seu início até hoje, passaram mais de 600 jovens. Somente em torno de 35 tornaram-se Vocacionistas. Muitos saíram do Vocacionário e assumiram a Vocação laical, constituíram família, abraçaram uma profissão e atuam como Leigos Cristãos na Igreja e na Sociedade, alguns assumiram ser sacerdotes diocesanos e outros entraram em diferentes Congregações Religiosas.
Sempre estive convencido de que o Carisma Vocacionista é não somente atual, mas necessário. Ele é atual porque procurar e cultivar vocações para a Igreja é e será sempre atual, porque a Igreja vive de vocações e nós Vocacionistas vivemos para ajudar nesta Obra das Divinas Vocações. Ele é necessário porque nunca existirá um tempo na história da Igreja que não seja mais necessário realizar o serviço de animação vocacional; não seja mais necessário procurar e cultivar as vocações na e para a Igreja.
A Pastoral Vocacional
A Pastoral Vocacional existe na Igreja para ajudar as pessoas, especialmente os jovens, a discernirem e assumirem a sua vocação. Ela está organizada a nível de Paróquia (EVPs – Equipes Vocacionais Paroquiais) e a nível de Prelazia, Dioceses e Arquidioceses. Ainda temos a Pastoral Vocacional das Ordens, Institutos e Congregações da Vida Consagrada.
Na Igreja da América Latina e no Caribe a Conferência Episcopal em seu V Encontro, realizado em maio de 2007, em Aparecida – Brasil, assim escreveu sobre a Pastoral Vocacional em seu Documento Final no número 314: “No que se refere à formação dos discípulos e missionários de Cristo, ocupa lugar particular a pastoral vocacional, que acompanha cuidadosamente todos os que o Senhor chama a servir à Igreja no sacerdócio, na vida consagrada ou no estado de leigo. A pastoral vocacional, que é responsabilidade de todo o povo de Deus, começa na família e continua na comunidade cristã, deve dirigir-se às crianças e especialmente aos jovens para ajudá-los a descobrir o sentido da vida e o projeto que Deus tem para cada um, acompanhando-os em seu processo de discernimento. Plenamente integrada no âmbito da pastoral ordinária, a pastoral vocacional é fruto de uma sólida pastoral de conjunto, nas famílias, na paróquia, nas escolas católicas e nas demais instituições eclesiais”.
O que foi dito a pouco tempo pelos bispos para a América Latina e o Caribe, arriscamos a dizer, que é uma atualização do que pensou e fez São Justino Russolillo ao fundar a Congregação Vocacionista em 30 de abril de 1914, interrompido por causa da primeira guerra mundial até 1917 e retomado em 18 de outubro de 1920. Já nomeado pároco da Paróquia São Jorge em Pianura, Napoli, Itália, o então Padre Justino, retoma a experiência do Vocacionário, iniciado e suspenso em 1914, recebendo jovens homens e mulheres em locais distintos da casa paroquial da referida paróquia.
Vale a pena recordar dois de seus pensamentos: “Consumirei a minha vida para suscitar e cultivar vocações” e “Ajudar as vocações é a maior obra de amor”. Ideal Justiniano que deve impregnar a mente e o coração de toda família Vocacionista, Religiosos, Religiosas e Apóstolas, mas, também, toda pessoa que em nossa Igreja se dedica ao Serviço de Animação Vocacional.
São Justino e a Pastoral Vocacional
Por isto consideramos São Justino Russolillo o percursor, o Pai da Pastoral Vocacional na Igreja, quando deixou-se inspirar por Deus e fundou uma Congregação para trabalhar pelas Vocações. O que ele começou a fazer nos Vocacionários da Congregação, hoje é feito pelas Equipes Vocacionais em toda a Igreja: rezar pelas vocações, suscitar vocações, acompanhar as vocações e ajudar economicamente as vocações.
Assim escreveu ele em um de seus livros: “Somente Deus é o criador das pessoas, é o formador dos santos, é o autor das vocações. Quem se mantém unidíssimo a Deus e o imita fidelissimamente, e por Ele se deixa inspirar e mover, é quem pode colaborar com Deus no cultivo das divinas vocações e na formação dos santos do Senhor” (Ascensão 899).
Sem pensar no que hoje a Igreja chama de Animador Vocacional, São Justino chamava de “colaborador de Deus” para cultivar e ajudar na formação das vocações. Quer missão mais importante e enquanto existir a Igreja ela existirá de que ser Vocacionista, trabalhar como Agente da Pastoral Vocacional?
O Papa São João Paulo II nos ajudou a entender isto quando disse que a Pastoral Vocacional tem a missão de “cuidar do nascimento, discernimento e acompanhamento das vocações” (Exortação Apostólica sobre a formação dos presbíteros, nº 34d). É este o serviço das equipes vocacionais prelatícias, diocesanas, arquidiocesanas, paroquiais e das comunidades. Este serviço na Igreja todos são chamados a realizar. Lembremo-nos, também, das palavras do Papa São João Paulo II: “Todos os membros da Igreja, sem exceção, têm a graça e a responsabilidade do cuidado pelas vocações” (Exortação Apostólica sobre a formação dos presbíteros, nº 41b).
Podemos assim perceber quanto valioso é o trabalho da pastoral vocacional, das equipes vocacionais: ajudar as pessoas a acertarem na vocação e, consequentemente, a serem felizes.
Ganhamos o intercessor
Sem sombra de dúvida, ao ser canonizado no próximo dia 15 de maio, São Justino Russolillo poderá ser invocado como protetor das Vocacionados, daqueles e daquelas que vivem a busca de sua vocação e Protetor dos Agentes da Pastoral Vocacional, aqueles e aquelas que dedicam parte de seu tempo para despertar, cultivar, animar e orientar as vocações. Assim fez ele! Assim ele determinou que os Vocacionistas fizessem!
Conclusão
Concluímos esta breve partilha de minha experiência de 37 anos de Vocacionista, desde 1985 quando fiz o noviciado até hoje, com uma oração de São Justino Russolillo que aprendi a rezar e rezo todos os dias durante a celebração da Eucaristia: “Convosco, por Vós e em Vós, ó Jesus, abraço esta cruz de fogo que é a obra das divinas vocações” (Ato de consagração e de entrega à Santíssima Trindade nos eleitos das Divinas Vocações, nº 12).
Todas as pessoas católicas podem rezar esta oração dele, seja qual for a vocação a que foram chamadas, pois toda vocação é divina, leigo e leiga, consagrado e consagrada, ministro ordenado, diácono, padre e bispo, pois é sempre Deus que nos chama. Lembremos do ensinamento do Mestre Jesus: “Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto e para que o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16).
O que fez São Justino afirmar: “De modo geral, tudo é divina vocação no mundo: vocação à vida, à fé, à santidade” e “O fato de Deus chamar um ser revela que ele, desde sempre, estava no pensamento de Deus”.
