A Assunção de Maria é a garantia da participação da vida divina! 

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

 

No Brasil – por razões pastorais – transferida da última segunda-feira, dia 15 de agosto, celebramos neste domingo dia 21 de agosto, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Maria Santíssima é a prefiguração da Igreja e o modelo para os cristãos de seguimento a Cristo. 

A primeira leitura – Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab – as visões do Apocalipse exprimem-se numa linguagem codificada. Elas revelam que Deus arranca os seus fiéis de todas as formas de morte. Por transposição, a visão o sinal grandioso pode ser aplicada a Maria. O livro do Apocalipse foi composto no ambiente das perseguições que se abatiam sobre a jovem Igreja, ainda tão frágil. O profeta cristão evoca estes acontecimentos numa linguagem codificada, em que os animais terrificantes designam os perseguidores. A Mulher pode representar a Igreja, novo Israel, o que sugere o número doze (as estrelas). O seu nascimento é o do baptismo que deve dar à terra uma nova humanidade. O Dragão é o perseguidor, que põe tudo em ação para destruir este recém-nascido. Mas o destruidor não terá a última palavra, pois o poder de Deus está em ação para proteger o seu Filho. Proclamando esta mensagem na Assunção, reconhecemos que, no seguimento de Jesus e na pessoa de Maria, a nova humanidade já é acolhida junto de Deus. 

A segunda leitura – 1Cor 15,20-27a – a Assunção é uma forma privilegiada de Ressurreição. Tem a sua origem na Páscoa de Jesus e manifesta a emergência de uma nova humanidade, em que Cristo é a cabeça, como novo Adão. Todo o capítulo 15 desta epístola é uma longa demonstração da ressurreição. Na passagem escolhida para a festa da Assunção, o apóstolo apresenta uma espécie de genealogia da ressurreição e uma ordem de prioridade na participação neste grande mistério. O primeiro é Jesus, que é o princípio de uma nova humanidade. Eis porque o apóstolo o designa como um novo Adão, mas que se distingue absolutamente do primeiro Adão; este tinha levado a humanidade à morte, ao passo que o novo Adão conduz aqueles que o seguem para a vida. O apóstolo não evoca Maria, mas se proclamamos esta leitura na Assunção, é porque reconhecemos o lugar eminente da Mãe de Deus no grande movimento da ressurreição. 

No Evangelho – Lc 1,39-56 – o cântico de Maria descreve o programa que Deus tinha começado a realizar desde o começo, que ele prosseguiu em Maria e que cumpre agora na Igreja, para todos os tempos. Pela Visitação que teve lugar na Judeia, Maria levava Jesus pelos caminhos da terra. Pela Dormição e pela Assunção, é Jesus que leva a sua mãe pelos caminhos celestes, para o templo eterno, para uma Visitação definitiva. Nesta festa, com Maria, proclamamos a obra grandiosa de Deus, que chama a humanidade a se juntar a ele pelo caminho da ressurreição. Em Maria, Ele já realizou a sua obra na totalidade; com Ela, nós proclamamos: “dispersou os soberbos, exaltou os humildes”. Os humildes são aqueles que crêem no cumprimento das palavras de Deus e se põem a caminho, aqueles que acolhem até ao mais íntimo do seu ser a Vida nova, Cristo, para o levar ao nosso mundo. Deus debruça-se sobre eles e cumpre neles maravilhas. 

No Evangelho é proclamado que Maria é a Bem-Aventurada por sua fé na promessa divina, Maria canta os louvores de Deus. O Magnificat exalta as maravilhas operadas por Deus, não só em favor de Maria, “sua humilde serva”,  mas de todos os que só tem Deus como esperança e salvação: os pobres! O Cântico de Maria é o reconhecimento da ação salvífica de Deus na história humana, a ação misericordiosa de Deus para os seres humanos. Maria Santíssima acreditou e viveu em fidelidade ao seu Filho que venceu os poderes terrenos. Por isso, seguindo a Jesus, a exemplo de Maria assunta ao Céu, vivendo como verdadeiros discípulos de Jesus, nossa vida tem sentido e meta garantida: a alegria de participar da vida divina na eternidade feliz! 

Maria – humana como nós – participa da alegria da vida divina. Maria, elevada ao Céu, em corpo e alma, é sinal e garantia dada por Deus de que aqueles que lhe são fiéis, seguindo os passos do Filho Jesus, alcançarão a glória da eternidade. Cheios de viva esperança,  podemos ouvir, maravilhados o que Paulo ensinou na segunda leitura: se em Adão morremos, em Cristo, reviveremos! Primeiro, Cristo, depois, todos os que pertencem a Cristo! 

Neste domingo – em comunhão com toda a Igreja no Brasil – rezamos e damos graças ao Pai pelas vocações à vida consagrada: religiosos e religiosas, consagrados e consagradas seculares. Deus abençoe a todos os consagrados! 

 

 

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