Cardeal Orani Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
“Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20)
Celebramos neste Domingo a Solenidade da Santíssima Trindade, após termos encerrado na semana passada o tempo da Páscoa com a celebração de Pentecostes, na segunda-feira retomamos o tempo comum com a memória de Maria, Mãe da Igreja na sétima semana do tempo comum durante o ano, e neste domingo celebramos a primeira das três solenidades que ocorrem ao longo desse tempo. A primeira solenidade é a celebração da Santíssima Trindade, a segunda é Corpus Cristhi que celebraremos na próxima quinta-feira, dia 30 de maio, e a terceira solenidade é do Sagrado Coração de Jesus que celebraremos dia 7 de junho.
Estamos também encerrando a Semana Laudato SI de 2024 com o tema: “Sementes de Esperança” e o lema: “não há mudanças duradouras sem mudanças culturais; não há mudanças culturais sem mudanças nas pessoas” (LD, 70). Estamos vivendo neste final de semana a 1ª Jornada Mundial das Crianças criada e convocada pelo Papa Francisco.
Aqui no Rio de Janeiro vivemos a 98ª Semana Eucarística em preparação a Solenidade de Corpus Christi com o tema: “Eucaristia e Oração” e o lema: “O Pão nosso de cada dia nos dai hoje” (Mt 6,11). Também comemoramos de 24 a 26 de maio, o Centenário de reabertura do nosso Seminário São José, mais antigo do Brasil (285 anos) com a presença do Substituto do Secretário de Estado do Vaticano D. Edgar Peña Parra. Muitos motivos para agradecer ao Senhor por tantos dons.
Ao celebrarmos a Solenidade da Santíssima Trindade rendemos graças a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, não são três “deuses”, mas três pessoas e um único Deus. Ao longo da história da salvação há momentos oportunos das três pessoas da Santíssima Trindade se revelarem. Na criação do mundo e em quase todo o Antigo Testamento Deus Pai se revela e transmite sua mensagem por meio dos profetas, depois, num tempo determinado o Verbo se faz carne: temos o rosto humano de Deus.
Por fim, por mais que já estivesse presente desde o início do mundo, após a ressurreição de Jesus, no dia de Pentecostes, que celebramos semana passada, Jesus revela o Espírito Santo. Ele sopra sobre os discípulos o “sopro” da nova criação e os envia em missão e nasce a Igreja primitiva.
O “sinal da Cruz” é o sinal da nossa salvação, é a identidade de todo o cristão católico. Somos batizados em nome da Santíssima Trindade, e ao longo da nossa vida podemos traçar sempre sobre nós o sinal da Cruz, sobretudo antes dos momentos de oração. Uma forma de resumirmos e de ficar fácil para o entendimento de todos nós, a ação das pessoas da Santíssima Trindade é a seguinte: Deus Pai que nos criou, Deus Filho que nos redime e o Deus Espírito Santo que nos santifica.
A Santíssima Trindade é o exemplo de comunidade perfeita, vivem em plena comunhão de amor. O Pai totalmente voltado para o Filho, o Filho totalmente voltado Pai e o Espírito Santo totalmente voltado para os dois. Assim, devem ser as nossas comunidades, colocar tudo em comum e viver em plena comunhão de amor. No início da missa aquele que preside diz: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”, e a assembleia responde: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. Ou seja, nos reunimos em nome da Santíssima Trindade e em plena comunhão de amor uns com os outros para ouvirmos a Palavra e comungarmos do corpo de Cristo.
Celebremos com confiança o mistério da nossa fé, que a Santíssima Trindade sempre nos acompanhe desde o início dessa Missa e após a Missa nos acompanhe em nossas ações diárias. A liturgia deste domingo tem o foco justamente na Santíssima Trindade e mostra o amor de Deus por cada um de nós ao longo da história da salvação.
A primeira leitura da missa é do livro do Deuteronômio (Dt 4,32-34.39-40), Moisés nesse trecho do livro de Deuteronômio reconhece a grandeza de Deus e diz ao povo que reconheça também essa grandeza do Senhor. Não existe outro Deus que teria feito tanto pelo povo como o Deus criou todo o universo, os resgatou do Egito e os conduziu a terra prometida. Outro Deus já teria desistido do povo, por conta de suas infidelidades, mas Deus é fiel, e está sempre propenso a perdoar, mesmo com as infidelidades do povo.
Por fim, Moisés adverte ao povo para que cumpra os mandamentos do Senhor e dessa forma ser feliz, junto com a família. Agindo dessa forma o Senhor abençoara a vida aqui na terra e concederá a vida eterna. Esse Deus que Moisés exalta é o Deus uno e trino.
O salmo responsorial é o 32 (33), que diz em seu refrão: “Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança”, felizes somos nós porque Deus nos escolheu, desde que fomos batizados pertencemos ao Senhor, Ele nos conhece pelo nome, e nos faz participar de sua herança. A herança que Deus nos proporciona é a vida eterna, ou seja, a vida não termina aqui, mas somos chamados a ser felizes aqui e depois na vida eterna.
A segunda leitura é da carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8,14-17), Paulo diz que devemos nos deixar conduzir pelo Espírito Santo, é Ele que nos atesta que de fato somos filhos de Deus. No batismo somos marcados pelo Espírito Santo e esse Espírito Santo nos acompanha a vida inteira, somos chamados a viver a nossa vida segundo o Espírito Santo e não segundo a carne, pois o Espírito nos orienta para Deus e a carne para o pecado.
O Espírito Santo nos atesta que somos filhos de Deus, e se somos filhos receberemos como herança a vida eterna e viveremos para sempre ao lado de Deus. Viveremos eternamente a comunhão com a Santíssima Trindade.
O Evangelho é de Mateus (Mt 28,16-20), esse trecho é o final do evangelho de Mateus e retrata o que estávamos celebrando até semana passada, no tempo da Páscoa. Após a ressurreição e ascensão de Jesus ao céu, os onze discípulos vão até a Galileia para se encontrarem com Jesus, conforme o anjo havia recomendado.
Foi na Galileia que Jesus iniciou a sua missão, até culminar em Jerusalém, por isso, é a partir da Galileia que Jesus envia os discípulos para que fizessem tudo aquilo que Ele fez. Jesus lhes dá a força do Espírito Santo para que tudo aquilo que eles fizessem, fizessem em nome de Jesus. Jesus promete estar com eles todos os dias até o fim do mundo, essa presença se dá por meio do Espírito Santo. Envia a batizar em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.
Podemos observar essa força do Espírito Santo que Jesus transmite aos discípulos, é a mesma força do Espírito Santo que Nossa Senhora transmitiu a Santa Izabel e João Batista que estava em seu ventre. É o mesmo Espírito Santo que acompanhou Jesus em sua vida pública, desde o batismo, no deserto, até a entrada em Jerusalém.
Santíssima Trindade: temos Deus Pai que nos cria, o Filho que nos redime e o Espírito Santo que santifica. Essas três pessoas da Santíssima Trindade agem em conjunto a favor da nossa salvação.
