Corpus Christi, a festa da presença 

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)

No Dia de Corpus Christi, Deus se mostra, mais que nunca, presente entre nós. Na sua razão de ser e de nos amar, garante mais uma vez que estará conosco, com cada um de nós, “até o fim dos tempos, até os confins do mundo” (cf. Mt 28, 20). Novamente, nos diz: “tomai e comei, isto é o meu corpo”; “tomai e bebei, isto é o meu sangue” (Mc 14, 22.24). 

Como é bom, como é suave ouvir isso repetidas vezes em nossa vida! Desde crianças nós o ouvimos e repetimos a cada ano que passa, a cada domingo que chega, a cada dia em que dele nos aproximamos pelo mistério da Eucaristia. E por ser algo tão sublime, tão belo, tão verdadeiro e, ao mesmo tempo, tão emocionante, nós o ensinamos às crianças, nós o passamos aos jovens, nós o celebramos com a comunidade ininterruptamente.  

A partir da celebração da Santa missa, nos colocamos genuflexos diante do Sacramento mais santo, o Santíssimo Sacramento, para adorar e agradecer, para amar e ser amados, para com ele aprender a amar, sobretudo a Deus e ao próximo. Diante de sua nobre, bela, silenciosa e humilde presença, nós nos inclinamos reverentes e cantamos: “tão sublime Sacramento adoremos neste altar, pois o Antigo Testamento deu ao Novo seu lugar”.  

Agora não utilizamos mais o sangue de animais para simbolizar o perdão dos pecados, como vemos na leitura do Êxodo, nas palavras santas de Moisés (cf. Ex 24, 4-8). Agora contemplamos: Jesus mesmo derramou o seu sangue, pois é o único que pode nos purificar para sempre. Ele se deu na Páscoa, sobre o altar da cruz. O Antigo deu ao Novo o seu lugar.  

O Sumo Sacerdote do Antigo Testamento, sacerdócio passageiro e anual, deu lugar ao único e eterno Sacerdote, Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. O humano e efêmero sacerdote da Antiga Aliança agora é substituído pelo Grande Sacerdote capaz de nos salvar para o banquete eterno na casa do Pai. É a tenda maior e mais perfeita de que nos fala a Carta aos Hebreus: “Ele, com seu próprio corpo, entrou no santuário uma vez por todas, obtendo a salvação eterna” (Hb 9, 12). 

Este santuário já é prefigurado na Terra pelos templos que aqui edificamos para a celebração dos santos mistérios de Cristo. Entre tais templos, distinguimos alguns para dar o título de santuários para que, mais facilmente, nos recolhamos para celebrar sua real presença, para ouvir as vozes do seu silêncio, para meditar a Palavra sagrada, para encontrar o sacramento da confissão que nos purifica e nos restitui a inocência batismal, para celebrarmos pessoal ou comunitariamente o sublime amor da sua real presença e para termos o gozo de estar, de nossa parte, literalmente, na presença d’Ele. 

Procurando valorizar ainda mais este espaço eucarístico, elevamos o nosso adorável Cenáculo São João Evangelista, situado no centro de Juiz de Fora, à sublime condição de Santuário Eucarístico Arquidiocesano. Queremos, com este gesto, prestar sincera homenagem de gratidão às estimadas Irmãs Servas do Santíssimo Sacramento, que há quase 75 anos servem à nossa Arquidiocese com a obra admirável da Adoração perpétua. Recordamos, com veneração, a saudosa Irmã Emerenciana, de nobre família desta cidade juiz-forana, que, cheia do amor eucarístico, se consagrou na Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento e a ela doou este patrimônio, incluído o belo templo que se tornou Santuário para maior glória de Deus. Entregamos o Santuário Arquidiocesano da Eucaristia aos cuidados das Irmãs Servas do Santíssimo Sacramento com o auxílio dos seus coirmãos, os Padres Sacramentinos, que nos deram a alegria de também fundarem uma casa em nossa Arquidiocese juiz-forana há pouco tempo. 

Com esta iniciativa, nascida do nosso II Sínodo Arquidiocesano e das celebrações do centenário da criação da Diocese, o que desejamos é que aquela casa e aquela obra sejam cada vez mais vistas, amadas e procuradas pelo povo, para que cresça na sua fé e no seu amor eucarístico, como desejava São Pedro Julião Eymard, o maior dos apóstolos da Eucaristia na vida da Igreja. Para isso, instituímos também o Ano Eucarístico, composto de tantas atividades litúrgicas e pastorais, caritativas e solidárias, cujo início se deu com a belíssima celebração dos 100 anos, a 4 de fevereiro passado, numa memorável liturgia que esta Igreja Particular jamais há de esquecer.  

Somos, com isso, chamados a rezar mais uma vez diante do Senhor: “fazei de nós um só corpo é um só espírito” (Ef 4, 4), lema do nosso Ano Eucarístico. Viva Jesus na Santa Eucaristia! A Ele a glória e o louvor para sempre. Amém! 

 

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