Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira
Prelazia do Marajó (PA)
“Jesus cheio do Espírito, voltou do Jordão, e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito” (Lucas 4, 1).
Jesus era guiado pelo Espírito. Este mesmo Espírito que, também, nos conduz. Poderemos nos perguntar: para onde o Espírito nos conduz hoje? Para qual deserto o Espírito nos conduz hoje? Quem sabe para o deserto das pessoas excluídas, marginalizadas, que precisam de nossa ajuda solidária. Também, para o deserto das famílias com pessoas enfermas que precisam de nosso apoio e conforto. Ou ainda para o deserto da defesa da Vida que sofre ameaças pela fome, pela violência urbana e no campo. Em tempo de Campanha da Fraternidade, Fraternidade e Ecologia Integral, talvez o Espírito nos guie para o deserto da natureza, nossa Casa Comum, para cuidarmos dela, como guardiães da obra que Deus criou. Aqui no Brasil, em tempo de Oscar para o cinema nacional com o filme “Ainda estou aqui”, o Espírito nos guie para o deserto da luta pela defesa do Estado democrático de Direito e da luta pela proclamação de que nós não queremos DITADURA NUNCA MAIS.
Jesus “não comeu nada naqueles dias e depois disso sentiu fome” (Lucas 4, 2).
Lucas diz que Jesus não comeu nada. Poderemos dizer que Jesus jejuou e por isto sentiu fome. Este jejum que Jesus fez deve servir para o nosso jejum. O jejum quando ele é bem vivido deve nos fazer sentir fome. Esta experiência de sentir fome, fez Jesus desenvolver uma sensibilidade muito grande para com os famintos. Mandou dar de comer aos famintos (conferir Mateus 14, 16), identificou-se com famintos e colocou o dar pão a quem tem fome como uma das condições para alguém entrar no Reino (conferir Mateus 25, 35-45). Perguntemo-nos: o nosso jejum tem nos ajudado a ser mais sensível ao sofrimento das pessoas que passam fome no mundo, no Brasil, em nosso Estado e em nosso Município? Lembremos do Profeta Isaías, 58,6-7: “Acaso o jejum que prefiro não é outro… Não é repartir o pão com o faminto?”.
“O diabo disse então a Jesus: ‘Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão’” (Lucas 4, 3).
Se Jesus foi tentado, imaginemos nós! Mas Jesus saiu vencedor das tentações, usando como instrumento de defesa a Palavra de Deus: Não somente de pão vive o homem (Lucas 4,4); Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a Ele servirá (Lucas 4, 8); Não tentarás o Senhor teu Deus (Lucas 4, 12). Nós, também, poderemos vencer as tentações como Jesus. Nós, também, podemos usar o mesmo instrumento, a Palavra de Deus, para nos defender.
As três tentações de Jesus que são as nossas: o prazer, o poder e o ter.
O Prazer: transformar pedra em pão (Lucas 4, 3); O Poder: saltar da torre e não se machucar (Lucas 4, 9-10); O Ter: prostrar-se diante do diabo para adorá-lo e ser recompensado com riqueza (Lucas 4, 5-7).
Nós passamos, também, por estas mesmas tentações pelas quais Jesus passou: Prazer: comida, bebida, drogas, uso inadequado de nossa sexualidade; Poder: Mandar, oprimir, levar vantagem, explorar, ameaçar, matar. Ter: a busca desenfreada pelo dinheiro, o lucro acima da pessoa humana, roubar, desviar recursos públicos, comprar e vender voto, acumular riqueza, destruir a natureza, sujando as águas e o solo com veneno (agrotóxico), derrubando e queimando as matas e florestas, explorar as pessoas com o trabalho escravo, explorar sexualmente crianças, adolescentes, jovens e adultos.
“Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus” (Lucas 4, 13).
O diabo deixou Jesus. Jesus resistiu e derrotou o diabo. Nós, também, poderemos resistir e derrotar o diabo com suas tentações. O diabo somente tenta, nós é que aceitamos ou rejeitamos. O diabo tem apenas o poder de tentar. Nada mais! Tiago em sua carta afirma: “Resistam ao diabo e ele fugirá de vocês” (4, 7). Jesus nos encoraja dizendo: “No mundo vocês terão tribulação, mas coragem! Eu venci o mundo” (João 16, 33).
