Dom Jailton Oliveira Lino Bispo
Bispo de Teixeira de Freitas – Caravelas (BA)
Amados irmãos e irmãs, estamos imersos no tempo sagrado da Quaresma, um período que nos convida à reflexão, ao jejum e à oração. No entanto, é preciso compreender que a conversão não é apenas uma mudança superficial de hábitos, mas uma verdadeira transformação interior, um retorno sincero ao coração de Deus.
O Evangelho de hoje nos recorda as palavras de Jesus aos seus discípulos: “Não sejais como os pagãos, que pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais” (Mt 6,7-8). Essa passagem nos alerta sobre a necessidade de uma fé autêntica, baseada não apenas em ritos externos, mas na profunda comunhão com Deus. Muitas vezes, nos preocupamos em cumprir formalidades religiosas sem permitir que essas práticas nos transformem verdadeiramente.
Na Quaresma, praticamos o jejum e a abstinência, mas precisamos nos perguntar: estamos realmente buscando uma conversão profunda ou apenas adotando costumes por tradição? Converter-se não significa simplesmente mudar de comportamento durante quarenta dias; significa tomar um novo rumo, como um viajante que se dá conta de que está na estrada errada e decide retornar ao caminho certo. A conversão é um movimento interior, uma guinada na direção de Deus.
Muitos de nós nos privamos de alimentos, de prazeres e de distrações durante a Quaresma, mas, ao término desse período, voltamos à mesma rotina, aos mesmos erros, aos mesmos pecados. De que adianta jejuar se nosso coração permanece fechado para o perdão? De que adianta nos abster de algo se continuamos a alimentar ressentimentos, invejas e julgamentos contra os irmãos? A Quaresma é uma porta de entrada para uma conversão definitiva e não apenas uma pausa momentânea antes de voltarmos ao que éramos antes.
Jesus nos ensina no Pai Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6,12). Aqui está a chave da verdadeira conversão: perdoar e buscar a reconciliação. Não basta apenas pedir perdão a Deus, é preciso também concedê-lo ao próximo. Não podemos carregar dentro de nós mágoas e rancores e, ao mesmo tempo, desejar a paz que vem do Senhor.
Amados, que esta Quaresma seja para nós um tempo de verdadeira transformação. Que o jejum nos ensine a renunciar ao egoísmo, que a abstinência nos leve a uma vida de mais caridade e que a oração nos aproxime do coração do Pai. Não deixemos que este período sagrado passe sem que tomemos uma decisão firme de conversão.
Sejamos como aquele filho pródigo que, ao perceber sua miséria, decide voltar para a casa do Pai. Deus nos espera de braços abertos. Não adiemos mais essa volta, pois a conversão não pode ser apenas um evento litúrgico, mas um novo caminho de vida.
Que a Virgem Maria, Mãe da Misericórdia, nos ajude a fazer dessa Quaresma o início de uma verdadeira mudança de coração. Que possamos, ao final deste tempo santo, não apenas ter cumprido rituais, mas ter dado um passo definitivo rumo à santidade.
Que Deus nos abençoe e nos conduza à verdadeira conversão!
