Sabe o que significa Ecologia Integral?  

Dom Leomar Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Vivemos hoje uma crise ambiental sem precedentes. Ao longo da história, as civilizações enfrentaram problemas, mas agora o que está em jogo é a própria sobrevivência da humanidade. Por muito tempo, acreditamos que poderíamos usar a natureza sem limites, como se fosse infinita, e nos acostumamos a um consumo exagerado, sem refletir sobre as consequências. Hoje, estamos enfrentando os frutos desse descuido: clima descontrolado, aumento da pobreza, violência, desigualdade e destruição por todos os lados. 

A maneira como tratamos o planeta está intimamente ligada à forma como lidamos com as pessoas. Quando exploramos a natureza de maneira egoísta e irresponsável, geramos sofrimento, especialmente para os mais pobres e vulneráveis. A crise ambiental não é apenas uma questão de poluição e desmatamento; é também uma crise social, cultural e espiritual. Ela revela a necessidade urgente de rever nossos valores e transformar nosso modo de viver. 

Durante muito tempo, prevaleceu a crença que o ser humano era o centro do universo – um pensamento conhecido como antropocentrismo. Essa visão nos levou a agir como dos absolutos do mundo, causando profundos danos à criação. Hoje, ganham força outras perspectivas, como o biocentrismo, que reconhece o valor intrínseco da natureza. No entanto, isso não significa negar nosso papel único: somos chamados a cuidar da criação com responsabilidade e amor. 

O verdadeiro equilíbrio está em compreender que pessoas e natureza precisam estar em harmonia. Não adianta proteger o meio ambiente enquanto ignoramos aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade. Tampouco adianta combater a fome enquanto acabamos com rios e florestas. Tudo está interligado! Por isso, é fundamental promover tanto a justiça social quanto a justiça ecológica. Se destruímos a Terra, destruímos também nossa própria casa. 

Muita gente ainda acredita que o progresso e o crescimento econômico, por si só, são sempre positivos. Mas será que vale a pena crescer às custas da miséria de outros países e da degradação do planeta? Enquanto uns vivem no luxo, milhões sobrevivem sem acesso a água potável, alimentação, saúde e moradia. E tudo isso num planeta exaurido por tantos abusos. 

A fé cristã nos ensina que Deus confiou ao ser humano o cuidado com a Terra, não a sua dominação. Não fomos colocados no mundo para explorar, mas para sermos guardiões da criação – como jardineiros que cuidam com carinho do que Deus nos entregou. 

Diante desse cenário, não há mais tempo a perder. O momento de agir é agora. Precisamos mudar nosso jeito de viver: consumir menos, desperdiçar menos, cuidar mais. É urgente uma verdade conversão ecológica, que começa no coração e se expressa em uma nova forma de nos relacionarmos com a Terra, com as pessoas e até conosco mesmos. Não basta mudar hábitos, é preciso alterar a mentalidade. Deixar de lado a ideia de que tudo existe para o nosso conforto e passar a enxergar a natureza com respeito e reverência. 

O medo futuro ambiental pode ser um alerta, mas é a esperança que deve nos mover. A crise ecológica é, em sua raiz, também uma crise do coração. Precisamos redescobrir a capacidade de amar aquilo que Deus criou, amar o próximo e construir juntos um mundo que seja, de fato, uma casa comum – onde todas as pessoas possam viver com dignidade, justiça e paz. 

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