Ser catequista é um ato de amor  

Dom Leomar Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

A falta de conhecimento, tanto das coisas de Deus quanto da vida em geral, sempre foi um desafio. Quando alguém vive sem conhecer a fé, sem compreender a verdade do Evangelho, acaba mergulhado na escuridão, perdido entre erros e confusões do mundo. Por isso, ajudar alguém a conhecer Jesus é um verdadeiro ato de amor. Ensinar a fé não é apenas transmitir informações, mas conduzir a pessoa a sair da ignorância e descobrir que foi profundamente amada e salva por Deus. 

Quem falou com profundidade sobre isso foi Santo Agostinho, nos primeiros séculos da Igreja. Por volta do ano 400, ele escreveu um livro chamado “A Instrução dos Catecúmenos”, destinado a orientar um diácono chamado Deográtias, encarregado de ensinar aqueles que desejavam conhecer a fé cristã. Nesse escrito, Agostinho afirma que a catequese – ou seja, o ensino da fé – é, antes de tudo, um ato de amor e misericórdia. 

Santo Agostinho ensina que Deus sempre manifestou seu amor pela humanidade e que tudo o que Jesus fez foi para nos recordar o quanto somos amados. É justamente esse amor que deve ser o alicerce doo trabalho de quem ensina a fé. Segundo ele, Jesus veio ao mundo para que soubéssemos o quanto Deus nos ama, e, ao nos darmos conta disso, aprendêssemos também a amar a Deus e ao próximo. 

Para Agostinho, a catequese precisa brotar do amor. Quem ensina a fé não deve fazê-lo por obrigação ou vaidade, mas por amor a quem está ali para aprender. E não basta apensar falar sobre o amor de Deus: o catequista deve tornar esse amor visível no modo como trata cada pessoa do seu grupo  –  com carinho, paciência e respeito. 

Quanto mais o catequista ama seus catequizandos, mais vontade terá de ensinar, e mais alegria encontrará ao ver cada um crescer na fé. E esse amor se revela em gestos simples: escutar com atenção, perceber quando alguém está com dificuldade, acolher quem tem vergonha de perguntar, incentivar quem está desanimado. 

Agostinho recorda que cada pessoa tem um jeito, uma história, um ritmo. Por isso, o catequista precisa cultivar paciência e amizade verdadeira com todos. É natural que alguns tenham medo, outros permaneçam em silêncio ou tenham mais dificuldade de compreensão. Mas, se perceberem que são realmente amados, irão se abrir e confiar. Há uma frase marcante no livro do santo que resume bem isso: “Nada desperta mais o amor de quem ainda não ama do que perceber que é amado.” 

Quando alguém sente que é querido e bem cuidado, até o coração mais fechado começa a se abrir. Quem estava desanimado passa a se interessar. Quem tinha vergonha começa a participar. Tudo isso porque sentiu que era importante e que alguém estava ali por ele. 

Ser catequista, portanto, é ser um instrumento do amor e da misericórdia de Deus. É seguir o exemplo de Jesus, que acolhia a todos com carinho, sem excluir ninguém. Na catequese, quando alguém se sente verdadeiramente acolhido de verdade, experimenta também o acolhimento de Deus. E esse é o maior presente que podemos oferecer a quem busca conhecer a fé. 

Em tempos atuais tão difíceis, marcados pela frieza e indiferença, a catequese precisa ser esse espaço de calor humano e espiritual. Afinal, como nos ensina o Evangelho, um dia Jesus nos dirá: “Eu era estrangeiro e você me acolheu” (Mt 25,35). 

E, muitas vezes, Ele se apresenta justamente naquele catequizando tímido ou até desinteressado, que só precisa ser olhado com amor para começar a florescer. Catequizar é amar como Jesus amou. 

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