A obediência como testemunho de comunhão no Ano Jubilar da Esperança

Dom Jailton Oliveira Lino
Bispo de Itabuna (BA) 

 

A Igreja é o Corpo de Cristo. Esta verdade teológica, proclamada pelo Apóstolo Paulo (cf. 1Cor 12,27), não é apenas uma bela imagem, mas uma realidade concreta que exige de cada fiel a integração plena na comunhão com a Cabeça, que é Cristo, e com o seu Corpo visível, que é a Igreja hierárquica. Neste Corpo, a obediência é o elo que sustenta a unidade, a comunhão e a fecundidade da missão. 

Vivemos o Ano Jubilar 2025, que teve suas origens nas intuições pastorais do Papa Francisco e agora continua sob a guia do Papa Leão XIV, com o lema “Peregrinos da Esperança”. Como peregrinos, seguimos juntos, não como viajantes isolados, mas como povo que caminha unido sob a guia da Igreja, nossa mãe e mestra. E o que une nossos passos, mais do que o entusiasmo, é a obediência: obediência à Palavra, obediência à Igreja, obediência aos pastores legítimos instituídos por Cristo. 

Obedecer, na vida cristã, não é servilismo, mas configuração ao Cristo obediente, que “sendo Filho, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu” (Hb 5,8) e “fez-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). Cristo obedeceu ao Pai e fundou a Igreja, confiando-a a Pedro e aos Apóstolos, como sinal visível da unidade. Obedecer ao Papa, ao Bispo, à Igreja é, portanto, obedecer a Cristo. 

Nos tempos atuais, torna-se urgente recordar esta verdade: não há carisma autêntico fora da comunhão com o bispo. Santa Catarina de Sena dizia: “Mesmo que vós tivésseis uma luz especial, se ela não estiver em conformidade com a Igreja, é treva”. A obediência à Igreja é um critério de autencidade evangélica. 

É melhor não realizar milagres do que realizar prodígios longe da comunhão com o Bispo. Pois o maior milagre é a própria Igreja. Ela é o sacramento universal da salvação (cf. Lumen Gentium, 48), o “grande sinal” que Deus deixou ao mundo para reunir todos em um só povo. Quando um fiel age por conta própria, sem referência ao magistério, ainda que com intenção boa, corre o risco de transformar dons pessoais em instrumentos de divisão. 

É neste sentido que compreendemos que a Igreja está acima dos milagres. Pois mesmo que um milagre aconteça, se ele não está em comunhão com o ministério apostólico, ele perde seu valor eclesial. O que edifica não é o milagre em si, mas a unidade que ele gera. A desobediência, ainda que revestida de aparente piedade, é estéril e divisiva. 

A história da Igreja mostra-nos que os Apóstolos, embora diferentes em temperamento e opiniões, tinham em Pedro a referência. Mesmo quando havia divergências, como no Concílio de Jerusalém (cf. At 15), era Pedro quem falava com autoridade. Todos escutavam Pedro. Todos reconheciam que sobre ele Cristo edificou a sua Igreja (cf. Mt 16,18). Obedecer a Pedro, portanto, é reconhecer o fundamento visível da unidade. A obediência é, em si, um grande milagre: ser obediente é um dom raro em tempos de individualismo. E é justamente por esse caminho que se alcança o maior de todos os milagres: a salvação eterna. 

Não podemos esquecer que os milagres terrenos são passageiros. O verdadeiro milagre é a salvação da alma. E é neste caminho que trilha a Igreja: não para realizar milagres espetaculares e efêm eros, mas para conduzir o povo de Deus ao encontro definitivo com o Senhor. Esta obra de salvação passa pela obediência aos ensinamentos da Igreja, confiada a Pedro e aos seus sucessores. Hoje, esse encargo está nas mãos do Papa Leão XIV, sucessor de Pedro e sinal de unidade entre os fiéis. 

Neste Ano Santo, cada peregrino da esperança é chamado a caminhar em sintonia com a Igreja, acolhendo os dons que o Espírito derrama, mas nunca fora da comunhão eclesial. A obediência é a estrada segura que nos leva à Porta Santa da misericórdia. E esta porta é a Igreja, nossa mãe. 

São José Marello, fundador dos Oblatos de São José, ensinava: “A obediência é o resumo de todas as virtudes”. E São Maximiliano Kolbe dizia que obedecer à Igreja é o caminho mais seguro para a santidade. Ambos compreenderam que não se pode construir o Reino de Deus segundo gostos pessoais ou projetos individuais, mas segundo a vontade do Pai, discernida e comunicada através do Magistério da Igreja. 

O Concílio Vaticano II, em sua constituição Lumen Gentium, nº 25, recorda que os fiéis devem aderir com “religioso obséquio do espírito e da vontade” aos ensinamentos autênticos do Papa e dos Bispos em comunhão com ele, mesmo quando não proclamados de forma definitiva. Isso mostra que a obediência é um caminho de escuta, humildade e maturidade espiritual. 

Jesus fundou a Igreja sobre Pedro e conferiu-lhe o ministério de confirmar os irmãos na fé (cf. Lc 22,32). Os Bispos, sucessores dos Apóstolos, em comunhão com o Papa, são garantes da verdade e da unidade da fé. Portanto, quem obedece ao Bispo, obedece à Igreja; quem obedece à Igreja, obedece a Cristo. 

A obediência, enfim, não é um entrave para a missão, mas condição para que ela floresça. Fora da comunhão com o Bispo, não há verdadeiro apostolado. O milagre pessoal pode encantar por um momento, mas apenas a unidade da Igreja transforma o mundo. 

Sigamos, pois, com docilidade e coragem, como Maria, serva obediente do Senhor, confiando que é na obediência que se manifesta a verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Neste Ano Jubilar, sejamos peregrinos que caminham com a Igreja, pela Igreja e na Igreja, rumo ao milagre eterno da salvação. 

 

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