Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

 

Você se lembra como éramos antes de Jesus nos alcançar? Lembra-se do vazio nos olhos, do peso nos ombros, do caminhar errante? Andávamos pelo mundo como colecionadores de ausências, juntando todo tipo de coisa — sonhos partidos, medos antigos — sem saber o porquê. 

Você se lembra de como éramos sôfregos e trôpegos, vivendo nos dias de um futuro esquecido, sem pátria para a alma, sem âncora para o coração? Lembra-se de como ficamos elegantes quando Ele nos chamou, como a luz tocou nosso rosto, e soubemos enfim o que era Paz? 

Você se lembra como éramos poucos e frágeis? De como o céu pareceu distante quando Ele voltou para o alto? Você se lembra da esperança triste que nos restou? De como aprendemos a fixar o infinito com olhos cheios de saudade? 

Você se lembra como foi difícil dizer quem Ele era? Profeta? João Batista? Ou o Filho do Deus Vivo? Lembra-se de Pedro impetuoso, tentando acertar no escuro até que declarou: “Tu és o Cristo”? 

Você se lembra de como foi complicado recomeçar sem a lesta presença d’Ele e sem o timbre da Sua voz guiando nosso caminhar? Você se lembra que Saulo nos perseguia com fúria cega, gloriando-se na fé da lei, e se fazendo nosso inimigo jurado? 

Você se lembra das pedras, das prisões, dos silêncios impostos? De sermos lançados no mundo com apenas uma ordem: não desistam e não revidem? Veja se ainda se lembra quando as coisas começaram a mudar? Quando Pedro e João entraram no templo e os céus desceram sobre os enfermos? 

Você se lembra da estrada de Damasco, da luz que cegou Saulo para que ele finalmente começasse a ver? Você se lembra de quando Saulo tornou-se Paulo — e sua alma se curvou diante do Amor irresistível de Cristo? 

Você se lembra da fome, dos naufrágios, dos açoites —e mesmo assim, da paz? Você se lembra de quando aprendemos que a fraqueza é força, e que há uma riqueza que só floresce no coração pobre? 

E agora, veja se ainda se lembra do caminho que temos pela frente: um caminho estreito, sim, mas repleto de eternidade. Um caminho que não é só lembrança —mas promessa viva, acesa, ardendo em nossos pés. 

Você ase lembra que somos testemunhas no tempo? Um tempo que se aprofunda na história do mundo suportando todo tipo de adversidades para tornar o amor credível? Você se lembra? 

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