Da sociedade do cansaço e ansiedade a arte da medida certa de viver 

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

 

O autor coreano Byung -Chul Han chama a atenção para os sinais de auto destruição no que ele chama de sociedade do cansaço que ainda outros pensadores contemporâneos denominam a sociedade da ansiedade.  

Pouco a pouco vamos perdendo o sentido do viver, não conseguimos dormir nem repousar, os relacionamentos esvaziam-se ou tornam-se violentos e letais, um prazer amargo e efêmero vai substituindo a alegria e graça de viver.  

Santo Agostinho já no seu tempo falava de aquela pessoa que corria sim e muito só que fora dos trilhos e sem saber parar e o destino a onde devia chegar. Chegamos não só a exaustão do planeta mas de nós mesmos, e a violência neural (doenças mentais) vão ingressando na nossa agenda cotidiana dificultando cada vez mais o simples sobreviver.  

Está na hora de parar é o que grita o movimento slaw ou devagar, que busca colocar calma e tranquilidade, curando nossas rotinas e convivências tóxicas, reduzindo a ciranda louca da nossa vida atual.  

Como sair desta armadilha do consumo desenfreado e do materialismo insano e acumulador que nos faz correr atrás de bens líquidos e fruíveis de curtíssima duração?  

O monge pensador Anselm Grüm no seu livro a arte de encontrar a medida certa de viver e o própio e conhecido Leonardo Boff na sua obra A busca da justa medida – Como equilibrar o Planeta Terra, traçam algumas estratatégias espirituais no sentido de recuperar o equilíbrio, nas nossas atitudes, com os outros, sendo ao mesmo tempo cuidadosos com a Criação e aprendendo a viver no ritmo certo.  

Ê necessário construir a cultura da justa medida ou o que o Papa Francisco chamava de sobriedade feliz, desenvolvendo a interdependência global com todos os povos, pessoas e criaturas, assumindo a responsabilidade universal de cuidar da Casa Comum. Banir a cultura do exagero, do descarte e desperdício, encontrando como no país do Butão o verdadeiro índice da felicidade, que é viver plenamente amando e servindo na partilha e contemplando a beleza de todas as coisas.  

Não bastará a transição energética ou reduzir emissões  de carbono senão convertermos a nossa vida, a nossa pegada ecológica, senão assumirmos em nossos relacionamentos e convívio, a medida certa de viver, tornándo-nos com o Deus da ternura e da vida curadores e guardiões da Terra. Deus seja louvado! 

 

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