Bispo de Frederico Westphalen (RS)
A liturgia deste 16º Domingo do Tempo Comum nos apresenta uma bela sequência de textos que nos falam sobre a hospitalidade, a presença de Deus entre nós e o verdadeiro caminho para a santidade.
Acolher o Senhor em nossa casa, em nosso coração, significa abrir espaço para a Sua Palavra, para a Sua vontade e para a Sua graça transformadora. É isso que as leituras de hoje nos lembram: Deus se revela àqueles que estão dispostos a recebê-lo com amor, mesmo nas circunstâncias mais simples e ordinárias da vida.
Primeira Leitura — Gn. 18,1-10a
No livro do Gênesis, vemos Abraão acolhendo três viajantes como se fossem hóspedes quaisquer. Mas logo descobrimos que não eram somente homens, mas manifestações de Deus. Este episódio é uma das cenas mais conhecidas da Bíblia e ilustra perfeitamente o valor da hospitalidade como expressão de fé.
Abraão corre ao seu encontro, oferece água, pão e carne. Ele não só acolhe os estranhos, mas os trata com respeito, reverência e generosidade. E por trás dessa atitude humilde, ele está na presença de Deus. Deus lhe aparece, conversa com ele e lhe faz uma promessa: Sara, sua esposa estéril, terá um filho.
Quando acolhemos o próximo com amor e generosidade, estamos também acolhendo o próprio Deus. Nossa fé se manifesta no cuidado com aqueles que cruzam nossas vidas.
Segunda Leitura — Cl 1,24–28.
São Paulo nos mostra o sentido redentor do sofrimento cristão. Ele diz: “Alegro-me nos meus sofrimentos por vós… Completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo.”
Paulo não fala de sofrimento inútil ou passivo, mas de um sofrimento assumido com sentido, unido à Paixão de Cristo, pelo bem das almas. Seu testemunho é desafiador: ele viveu sua missão com entrega total, anunciando Cristo com coragem e ensinando todos com sabedoria, na esperança de formar discípulos maduros.
Somos chamados a participar da missão de Cristo com coragem, amor e serviço. Isso pode exigir sacrifícios, mas tudo tem sentido quando vivido pela edificação do Reino e pelo bem do próximo.
Evangelho — Lc 10,38-42.
Jesus entra na casa de Marta e Maria. Marta se ocupa com muitos afazeres, enquanto Maria escolhe ficar aos pés de Jesus, escutando Sua Palavra. Diante da reclamação de Marta, Jesus responde com delicadeza e firmeza: “Marta, Marta, você se preocupa e se agita com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.”
Este trecho é rico em ensinamentos:
– Maria representa a contemplação, a escuta da Palavra, a prioridade de Deus na vida.
– Marta simboliza o serviço, o zelo pelas obras boas, mas sem perder de vista o essencial.
Jesus não repreende o serviço em si, mas a falta de equilíbrio. O essencial é permanecer com Ele, ouvir Sua voz, deixar-se transformar por Sua presença. Tudo o mais deve brotar dessa união íntima com o Mestre.
Conclusão: Indicações Práticas para a Vida Cotidiana:
Queridos irmãos,
Como podemos levar para casa a mensagem deste domingo?
Vamos, antes de tudo, rezar e pedir ao Espírito Santo que nos ajude a viver assim:
Praticando a hospitalidade com amor e simplicidade.
Aprendamos a acolher as pessoas com respeito e atenção, especialmente aquelas que precisam de um pouco de tempo, escuta ou carinho. Certamente nelas está o próprio Senhor querendo se revelar.
Dando prioridade à escuta da Palavra de Deus.
Reservemos um momento diário para a oração pessoal. Mesmo que seja breve, que seja sincero. Que possamos ser como Maria, sentados aos pés de Jesus, aprendendo dele a viver o dia a dia.
Não deixar que o ativismo substitua a intimidade com Cristo.
Quantos de nós somos “Marta” demais? Temos tantos afazeres que nos distraímos do essencial. Façamos o possível para equilibrar o serviço com a contemplação. Sem essa base, o serviço perde força e sentido.
Sejamos aqueles que acolhem Deus no cotidiano.
Na família, no trabalho, na comunidade, busquemos ver a presença de Deus. Nos pequenos gestos, nas relações fraternas, na busca pela justiça e pela paz.
Que Nossa Senhora, modelo de contemplação e serviço, interceda por nós. Que Santa Marta e Santa Maria nos inspirem a viver com equilíbrio a fé e a ação. Que o Senhor nos mantenha sempre atentos à Sua voz e abertos à Sua graça.
Amém.
