Dom Jailton de Oliveira Lino
Bispo de Itabuna (BA)
Amados irmãos e irmãs,
Neste dia 3 de agosto de 2025, a liturgia nos apresenta o Evangelho de Lucas 12,13‑21, no qual Jesus alerta contra o perigo da ganância e conta a parábola do homem rico que acumulou bens, mas esqueceu-se de acumular riqueza diante de Deus. Ele ouve do Senhor: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão tua vida; e o que acumulaste, para quem será?”
Essa Palavra ganha um sentido ainda mais profundo quando olhamos para o que vivemos nestes dias: a Romaria do Bom Jesus da Lapa, que há mais de 330 anos reúne romeiros de toda parte, transformando a cidade numa verdadeira capital da fé. Este ano, tive a graça de participar pela primeira vez dessa peregrinação, e posso afirmar: é impossível sair da Lapa do mesmo modo que se chegou. Ali, Deus se revela na simplicidade do povo.
A FÉ QUE SOBE A LAPA
Os que sobem a Lapa não carregam sacos de bens materiais, nem ostentam títulos ou status. Carregam esperança, cruzes, preces, fotografias de entes queridos, promessas, velas e ex-votos. O que os move? Uma fé que, mesmo pequena como um grão de mostarda, é viva, resistente, perseverante. Uma fé que não se mede pelo que se tem, mas pelo que se entrega.
Na gruta de pedra, aos pés do Crucificado, vi uma multidão que não deseja acumular nada, mas se esvaziar diante de Deus. Vi mães chorando pelos filhos, vi idosos de joelhos rezando em silêncio, vi jovens cantando com fervor. Uma fé que não se compra, não se vende, mas se compartilha – como partilha o Evangelho, como partilha o pão.
MÊS DAS VOCAÇÕES: DEUS AINDA CHAMA
O Mês de Agosto nos chama a rezar pelas vocações: sacerdotais, religiosas, matrimoniais e laicais. E o que é vocação, senão este chamado a viver com os olhos voltados para o alto, como nos lembra São Paulo em sua carta aos Colossenses (3,1-5)? Ser vocacionado é buscar o que é de Deus, é não permitir que os bens deste mundo se tornem ídolos, é construir a vida sobre valores eternos.
Na Lapa, compreendi que cada romeiro é também um vocacionado. O jovem que canta na procissão, o pai que carrega o filho nos ombros, a senhora que acende uma vela em silêncio… todos respondem ao chamado de Deus com aquilo que são e com a fé que têm.
RICO DIANTE DE DEUS
A parábola do rico insensato não condena a prosperidade honesta, mas adverte contra a ilusão da autossuficiência. A verdadeira riqueza está em reconhecer que nada nos pertence definitivamente. O romeiro, ao doar seu tempo, sua fadiga, seus passos e sua fé, nos ensina: a maior herança é ser lembrado como alguém que amou, serviu e confiou.
São Francisco de Assis dizia: “É dando que se recebe”. E Santa Teresa de Calcutá completava: “Não é o quanto damos, mas o quanto amor colocamos naquilo que damos”. A fé do povo que se derrama na Lapa é essa: uma fé que sabe que a vida é breve e que a eternidade se constrói aqui, com gestos simples e corações entregues.
O TESOURO DA FÉ
Ao retornar da Lapa, trago comigo o testemunho de um povo que, mesmo sem possuir muito, é imensamente rico diante de Deus. Eles nos ensinam que viver o Evangelho é renunciar ao acúmulo para abraçar a partilha. É descer da torre da autossuficiência para subir, em fé, ao coração do Bom Jesus.
Que cada um de nós, onde estiver, possa cultivar essa fé que move romarias, que inspira vocações, que aquece a alma. Que não vivamos para acumular, mas para amar. E que o Bom Jesus da Lapa continue sendo abrigo, luz e esperança para todos os que Nele confiam.
