Dom Geraldo dos Reis Maia
Bispo de Araçuaí (MG)

 

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil vem realizando uma experiência muito profunda e significativa de reflexões, debates e aprofundamentos sobre a ecologia integral, em preparação à COP-30. A sigla significa “Conference of the Parties” (Conferência das Partes). Trata-se de um encontro periódico para tratar das mudanças climáticas. O número 30 indica a trigésima edição deste acontecimento. A cada encontro é escolhida uma cidade para sediar a cúpula. A COP 30 reunirá, na cidade de Belém, no Estado do Pará, de 10 a 21 do mês de novembro deste ano, líderes mundiais, cientistas, organizações e representantes da sociedade civil de quase 200 países, para discutir e definir ações globais para combater as mudanças climáticas. 

Mais do que um evento, a experiência das Pré-COP, realizadas por grandes Regiões de nosso país, tem sido uma oportunidade para tratar da ecologia integral e dos sérios impactos que o meio ambiente vem sofrendo devido aos grandes efeitos da atividade minerária, do agronegócio e tantas outras intervenções drásticas na natureza. Esses impactos são sentidos pelo meio ambiente e por comunidades inteiras: quilombolas, indígenas, povoados, distritos e cidades inteiras. A ganância do mercado predatório vem causando grandes estragos na Casa Comum, afetando os biomas, com suas faunas, floras, belezas e encantos, alterando o clima e ameaçando a vida no planeta. 

Tive a oportunidade de participar da Pré-COP 30 – Leste, realizada na cidade de Belo Horizonte, de 25 a 27 de julho. Estiveram presentes representantes de quatro Regionais da CNBB – Leste 1 (Rio de Janeiro), Leste 2 (Minas Gerais), Leste 3 (Espírito Santo) e Sul 1 (São Paulo). O nível dos participantes e das assessorias foi excelente. Mesmo dispondo de pouco tempo, os principais temas foram abordados com profundidade e propostas de superação dos impactos ambientais foram bem pontuadas. Assumimos coletivamente o chamado à conversão ecológica, à resistência às falsas soluções climáticas e à construção de um compromisso profético em preparação à COP 30. 

A Declaração Final da Pré-COP Leste expressou, muito bem, a realidade que enfrentamos: “Vivemos um mundo atravessado por múltiplas crises, com guerras e violências, cujo ápice se revela no genocídio em Gaza, expressão extrema de nossa crise civilizatória. Em nossa região Sudeste do Brasil, o modelo econômico agrava a degradação dos biomas, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, manguezais e zonas costeiras, através do avanço urbano-industrial, da mineração, do agronegócio, da exploração do gás e do petróleo, do uso indiscriminado do agrotóxico e da especulação imobiliária. A contaminação das águas, a perda da biodiversidade, a expulsão de comunidades e a periferização tornam visível a injustiça ambiental e social”. 

Diante desse triste cenário, profeticamente denunciamos “as falsas soluções, como os mercados de carbono, os megaprojetos de energia e a expansão da mineração, que aprofundam desigualdades e ameaçam territórios, sem enfrentar as causas estruturais da crise. A crise climática é inseparável da injustiça social, do racismo ambiental e do extrativismo. Seus impactos recaem sobre os povos indígenas, quilombolas, comunidades periféricas, camponesas, ribeirinhas e tradicionais. É urgente responsabilizar juridicamente os grandes emissores, corporações e governos, e exigir que os compromissos assumidos nas COPs tenham força legal e sanções reais”. 

Dentre as várias propostas apresentadas, destacamos a defesa de “políticas públicas estruturantes, com participação social, que garantam moradia, água, saneamento e saúde às comunidades em risco socioambiental, assegurando também os direitos da natureza”. Vimos como “essencial atuar nos Planos de Saneamento, Diretores e de Mobilidade Urbana, promovendo justiça espacial e o direito à permanência nos territórios”.  Ainda, “rejeitamos propostas como o ‘PL da devastação’, a lógica da ‘escala de trabalho 6×1’”. Por fim, “defendemos leis populares, como a ‘taxação das grandes fortunas’, bem como leis voltadas à justiça climática. Uma ação urgente passa pelo combate ao desmatamento, com foco na preservação dos biomas e na contenção da urbanização predatória e dos grandes empreendimentos. A preservação das florestas é compromisso espiritual, territorial e ambiental, não financeiro, em diálogo com os povos que nelas vivem”. 

A Declaração Final da Pré-COP 30 – Leste almeja “que a COP 30, em Belém, seja um marco de escuta do grito da Terra e dos Pobres, de denúncia profética das estruturas de morte e de anúncio de novos caminhos para uma sociedade justa e com respeito à natureza. Saudamos, com esperança, a Cúpula dos Povos, onde movimentos e organizações sociais nacionais e internacionais se mobilizam por alternativas reais e por justiça climática. Que as vozes dos territórios sejam ouvidas e respeitadas nas negociações. O tempo é agora. A conversão ecológica é urgente. A justiça climática é inegociável. “Trabalhem por uma justiça ecológica, social e ambiental”. (Papa Leão XIV – Mensagem ao II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o cuidado da Casa Comum realizado na PUC-Rio – maio de 2025). 

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