Dom Antônio Carlos Altieri
Arcebispo Emérito de Passo Fundo (RS)
Entre as muitas reflexões do novo livro do nosso irmão Dom João Bosco Óliver de Faria Coração de Pastor, uma das mais densas e atuais é a afirmação de que “o primeiro espaço para a vivência da paternidade episcopal acontece junto aos padres”. Dom João Bosco, que na adolescência foi salesiano como eu, não fala como teórico, mas como quem experimentou a dor e a alegria de ser pai no meio do presbitério.
Quantas vezes encontramos sacerdotes marcados pela solidão, pela incompreensão, pela falta de acompanhamento? O livro de feliz iniciativa da editora Paulus insiste que a orfandade espiritual do presbítero é uma das maiores feridas da Igreja. É aí que se torna indispensável a paternidade do bispo. Não basta governar, é preciso amar. Não basta administrar, é preciso estar presente.
Ao ler essas páginas, recordei-me de tantas histórias de padres que, em momentos de crise, encontraram no bispo uma palavra de encorajamento, um gesto de proximidade, um olhar de compreensão. Esse é o verdadeiro sentido da paternidade: ser presença que sustenta, não autoridade que oprime.
Dom João Bosco afirma que o bispo não pertence a si, mas ao povo. Eu acrescentaria: ele pertence de modo especial ao seu presbitério. Os padres precisam sentir que têm um pai, e não apenas um superior. Essa dimensão é decisiva para a saúde espiritual da Igreja local.
O Papa João Paulo II, na Pastores Gregis, insistia que o bispo deve ser pai, irmão e amigo dos sacerdotes. Essa tríplice dimensão é retomada no livro com grande clareza. A paternidade episcopal não elimina a fraternidade, mas a sustenta. Não exclui a amizade, mas a fortalece.
Acredito que uma das maiores lições do livro é exatamente essa: a Igreja não se sustenta por estruturas, mas por vínculos de amor. O bispo é chamado a criar esses vínculos, a fortalecer o presbitério, a cuidar de cada sacerdote como pai cuida de seus filhos.
Ao concluir a leitura, compreendi que essa paternidade é exigente, mas também é fonte de alegria. Ser pai é gastar-se, é estar disponível, é sofrer junto. Mas é também experimentar a graça de ver filhos caminhando com esperança. Essa é a beleza do episcopado: ser pai que gera vida no presbitério e no povo de Deus.
