Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
A Semana da Pátria costuma despertar sentimentos de pertencimento e amor ao Brasil. As bandeiras tremulam, os hinos ecoam, e muitos se recordam com orgulho das riquezas e belezas desta terra. No entanto, o amor verdadeiro à pátria vai além de gestos simbólicos; ele exige um compromisso real e ações concretas para garantir uma vida digna para todos os brasileiros.
A esperança que não decepciona
Na Carta aos Romanos, São Paulo nos lembra que “a esperança não decepciona” (Rm 5,5). Esta esperança, porém, não é uma espera passiva; ela nasce da reconciliação com Deus, que nos chama a construir relações de paz, justiça e solidariedade. Reconciliados com o Senhor, somos chamados a ser “peregrinos da esperança”, não apenas em nossa vida pessoal, mas também na construção de um país mais justo.
Enfrentando as feridas sociais com perseverança
O apóstolo Paulo é realista: sabe que a vida é dura, marcada por lutas e tribulações. Mas ele nos ensina que, mesmo nas dificuldades, podemos encontrar frutos valiosos: a tribulação produz perseverança, a perseverança molda nosso caráter, e o caráter amadurecido nos leva à verdadeira esperança. Para o Brasil, isso significa reconhecer as feridas sociais que ainda carregamos — pobreza, desigualdade, violência — e enfrentá-las com perseverança, sem nunca desistir do objetivo de uma sociedade mais justa e fraterna.
Mudando o estilo de vida
Nosso país só manterá viva a esperança se for capaz de revisar profundamente o seu estilo de vida. Não podemos aceitar como normal um modelo econômico e cultural que exclui milhões, destrói o meio ambiente e deixa a juventude sem perspectivas. A verdadeira esperança não é fechar os olhos para as injustiças; ela nos impulsiona a agir e a transformar essa realidade.
É urgente a busca por políticas públicas eficazes, o combate à corrupção, a promoção de uma educação de qualidade, a defesa do trabalho digno e a proteção dos mais vulneráveis. Somente assim poderemos construir um Brasil que promova a vida plena para todos.
A paz que nasce da reconciliação verdadeira
Paulo fala de uma paz que não é ausência de problemas, mas um fruto da reconciliação verdadeira. Aplicada à nossa realidade, essa reconciliação inclui o esforço contínuo de superar divisões políticas e sociais, unindo forças em torno do bem comum. Devemos entender que nenhum interesse particular pode estar sobrepor-se à vida e à dignidade humana.
Transformação começa no coração de cada cidadão
O amor gratuito de Deus, manifestado em Cristo, é o modelo dessa transformação. Ele não esperou que fôssemos “bons” para nos amar: veio ao nosso encontro quando ainda estávamos perdidos. Da mesma forma, o Brasil precisa escolher cuidar de todos, especialmente dos mais fracos, não por interesse, mas por amor ao próximo.
A conversão pessoal e social para um Brasil reconciliado
No entanto, essa transformação começa não nas estruturas políticas, mas no coração de cada cidadão. A Semana da Pátria é também um convite à conversão pessoal e social. Precisamos revisar nossos hábitos, nossas posturas e nosso comportamento diante do outro. É preciso rever hábitos de consumo, posturas no trânsito, modos de tratar o meio ambiente e, sobretudo, a forma como olhamos para quem vive à margem da sociedade. Um Brasil reconciliado com Deus será um país onde cada pessoa se reconhece responsável pelo bem do outro. Onde a honestidade será regra, e não exceção; onde a fraternidade será natural, e o orgulho de ver a bandeira hasteada será sinônimo de um amor genuíno pela pátria.
Convite à conversão pessoal e social
Nesta Semana da Pátria, celebremos o dom de viver nesta terra abençoada, mas com um olhar crítico e comprometido com as reais necessidades do nosso povo. Reconciliados com Deus, recebemos a missão de ser construtores de paz e promotores de justiça social. Que a nossa fé nos impulsione a trabalhar para que o verde da esperança na bandeira não seja apenas uma cor, mas o reflexo de um povo que acredita, age e transforma.
Assim, nossa Pátria poderá, de fato, ser casa de irmãos, onde a esperança não decepciona, porque é sustentada pelo amor que vem de Deus e se concretiza em justiça para todos.
Só assim, a esperança deixará a ser um discurso vazio e se tornará a base sólida de uma nação mais humana, solidária e justa.
